O BRASIL É DIFERENTE!

 

 

O Brasil é único, não apenas por suas características antropológicas e sociológicas mas por particularidades relacionadas ao comportamento de sua gente frente a questões, problemas e circunstâncias. Aqui a unidade cultural marcada por um só idioma num território tão vasto, é um traço muito especial e particular quando se associa a tal o fato que não existem tensões que pudessem gerar tendências separatistas no seu território.

Se isto já é uma dádiva a par de ser a natureza tão generosa — nào há ocorrência de erupções vulcânicas, de terremotos, de maremotos, de “earthquakers”, de tsunamis ou, até mesmo, de um clima impiedoso — o Brasil foi privilegiado, na sua colonização pelos portugueses, com duas características excepcionais que impedem conflitos e tensões entre os grupos sociais. E essas são a miscigenação racial e o sincretismo religioso. Essas duas características impedem ao País de enfrentar graves problemas étnicos e raciais, além de  duros e sérios embates religiosos.

Mas, segundo uns impiedosos e ácidos pseudo-sociólogos, com todo esse espectro de privilégios e vantagens, “essa terra abençoada por Deus e bonita por natureza”, teria que apresentar traços que mostrariam talvez, as razões de muitos de seus desencontros e problemas. Dizem as más línguas que Deus ao criar o Brasil com tantas vantagens e dádivas foi questionado por alguns dos seus, indagando por que garantir tantas qualidades e tantas vantagens e privilégios. Ao que Deus haveria dito: Esperem para ver o povo que eu vou colocar aí!

Injusta a ilação pobre, sem lógica e sem fundamentos, de alguns gaiatos pois o povo daqui é  bom tal qual a sua natureza que, segundo Pero Vaz Caminha ” em se plantando tudo dá”. O que, com certeza é pobre  é a sua elite, elite no sentido weberiano da expressão e, talvez até por conseqüência,  sendo, também, bastante pobres e precárias as suas instituições.

Ademais, se se pode atribuir aos colonizadores do País legados que não satisfazem aos brasileiros e comprometem o seu crescimento e desenvolvimento integral, foram hábitos, vícios, leniência com erros e contravenções e uma forma complicada de estabelecer a relação adequado do estado com o cidadão. Esse relacionamento  se traduz por um excessivo centralismo, um formalismo absurdo marcado por uma fúria legisferante, um centralismo sufocante e por uma burocracia que é uma das mais perversas em todo mundo.

Também o Brasil se caracteriza pela improvisação, um pragmatismo que atinge as raias da irresponsabilidade e, por uma capacidade enorme de não considerar como um dos valores mais caros, o respeito a determinados principios os  mais elementares, o que tornaria mais simples, previsível, razoável e, até saudável, a convivência entre pessoas.

Numa leitura chula e até rasteira desses aspectos da vida nacional, se diz no Brasil que as leis não pegam e o cidadão é desonesto até prova prova em contrário. Enquanto em países ditos sérios, um dos mais inaceitáveis pecados de um cidadão é o crime de falsidade ideológica, ou seja, mentir é um crime imperdoável. Também naqueles países a impunidade não é aceita pela sociedade e, uma das instituições que mais se cobra a sua transparência, acesso democrático e agilidade é da Justiça. No Brasil, ao contrário, a leniência com tais valores e princípios  representa o traço mais marcante!

A propósito do sistema judiciário nacional, as declarações, as observações e as reflexões do agora já quase ex-presidente daquela Corte, quando denunciava o conluio entre advogados e juízes, do crime de assistir filhos de ministros de tribunais superiores advogando em tais cortes e da estapafúrdia característica brasileira de ter desembargadores e ministros indicados pelo Executivo, além de outros males, demonstra como o Brasil vai mal nesse aspecto crucial ao funcionamento das instituições democráticas.

Por outro lado, há algo que choca e assusta as pessoas, mesmo as de boa-fé. Agora mesmo a Presidente Dilma, para um público que se mostrou estupefacto, declarou, em alto e bom som, que as obras dos estádios, dos portos, dos aeroportos e de mobilidade urbanas, foram entregues a tempo e a hora e que não houve superfaturamento ou sobrepreço em nenhuma dela! Ora, durma-se com um barulho desses! Tal afirmação seria inaceitável até para um auxiliar da Primeira Mandatária da Nação diante do fato, a vista e a mostra de todos, de que isto é uma tremenda inverdade.

Por outro lado, quando se assiste a publicidade institucional, não apenas do governo federal mas de todos os entes públicos, o maquiar dos fatos e o mostrar um “mundo cor de rosa” na saúde, na educação, na segurança e em todos os aspectos da vida, isto começa a gerar uma indignação quando não  uma revolta diante dessa busca de tentar levar no bico as pessoas.

É por muitas dessas razões que a classe política, antes com um pouco de credibilidade e respeito das pessoas, perdeu a compostura e não mais significa a esperança de mudança tão ansiada pelos brasileiros.

Mas, se o Brasil continua único com os seus problemas, os seus governos e a sua classe política ainda é único país com caracteristicas muito especiais. Só aqui neste País tropical e, parece, nenhum mais, se tem jaboticaba, justiça do trabalho e justiça eleitoral que, para muitos são excrescências, à excepção da doce jaboticaba. Mas, na verdade, o que há de bom mesmo, com toda a honestidade e sinceridade, é o que se pretendia estigmatizar e responsabilizar pelos seus males: o seu povo.

É uma gente que sabe ser solidária, gentil, hospitaleira, amiga e alegre o que leva ao estrangeiro, mesmo com toda a carga de informação que tem recebido nos últimos anos, que pintam o País como uma terra quase inóspita diante dos dos seus problemas, da insegurança, da corrupção, da precariedade de operação dos serviços públicos essenciais e da fragilidade de suas instituições, é um povo que sabe separar, por exemplo, o governo e a política das suas grandes paixões que são o futebol, o carnaval e o samba.

É um povo que é capaz de “dar um tempo” para as crises, para as suas próprias frustrações e desencantos, como agora. É uma gente que o espírito parece um pouco com o cearense que é capaz de fazer humor com a própria desgraça ou com o baiano que sabe viver a vida sem “medo de ser feliz” ou o carioca que faz valer a frase do sambista “deixa a vida me levar” ou ainda do imigrante que, mais rápido do que nunca, se incorpora à brasilidade e ao seu jeitinho.

Por isto é que, mesmo com todas as agruras, com os descalabros governamentais, a falsidade da classe política, a leniencia e falta de compromissos de suas elites, o Brasil anda, busca corrigir,  com a improvisação, a criatividade e, até mesmo, com um pragmatismo irresponsável, aos trancos e barrancos, os seus erros.  E, “benza a Deus”,  continua a acreditar que o futuro está ali adiante e que Deus é brasileiro e, embora o Papa seja argentino, os brasileiros estão hierarquicamente acima deles.

Mesmo com o zero a zero contra o México, o desempenho belíssimo da Holanda e da Alemanha, além do excelente desempenho do Chile e da Costa Rica, continuam os brasileiros a achar que ganhará a Copa do Mundo, demonstrando que o otimismo não acabou!

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