O MARANHÃO DÓI AOS BRASILEIROS!
Três episódios recentes continuam a chocar a opinião pública brasileira, por mais que o governo os deixe ou queira banalizá-los, eles merecem uma reflexão crítica e, até mesmo, manifestações populares, como as de junho do ano que passou. A mais recente e que agride a alma e os sentimentos humanitários dessa grande nação tupiniquim, foi a exteriorização da crônica tragédia maranhense, não apenas mostradas pelas horrendas cenas de decapitação de presidiários apresentadas na Televisão, mas por tudo que está por trás e representa o pano de fundo para aquilo que ocorreu no Presídio de Pedrinhas!
Se tal evento é doloroso, um outro episódio que choca e clama à consciência pública,diz respeito as recorrentes inundações no Rio, em Minas e em Santa Catarina, deixando um rastro de destruição e de milhares de pessoas desabrigadas, sem ter para onde ir e, ainda, arrostando tragédias pessoais, com a morte de inúmeras e inocentes pessoas.
O terceiro diz respeito as secas do Nordeste que continuam a desafiar, não apenas a competência, o espírito público e a responsabilidade político-institucional das lideranças do País, faz mais de um século, sem que se promova a famosa política de convivência com o fenômeno! É crucial desenvolver políticas que impeçam que se manifestem os efeitos desorganizativos e desestruturadores da vida de milhares de pessoas e centenas de comunidades, provocados pelas secas devastadoras. Não é possível e nem se pode admitir faltar água de beber para animais, quem diria, para pessoas, em pleno século XXI!
O problema do Maranhão, da mesma forma que a miséria que toma conta de Alagoas, clama aos céus porquanto, o primeiro pode se dizer que, potencialmente, é o mais rico estado nordestino, porquanto tem todas as vantagens advindas de uma parte de seu território estar na pré-amazônia e a outra no Nordeste, aquele menos traumático que o “sertão brabo”, do semi-árido mais profundo. Isto porque, até do ponto de vista de políticas de desenvolvimento, o estado pode beneficiar-se daqueles incentivos e estímulos atribuidos ao Nordeste e, também, daqueles concedidos aos estados amazonenses.
Ademais, apresenta áreas de grande potencial agropecuário — vide o norte do estado, onde se produz soja e milho de mais alta qualidade e produtividade –; a baixada maranhense, com um enorme potencial agroindustrial, notadamente para a área de exploração da produção de frutas tropicais; o seu porto da Madeira, o de mais profundo calado do Brasil; o seu potencial mineralógico; o grande potencial turístico, não só da sua costa mas dos lençóis maranhenses, além da sua cultura onde sobressai a sua música de radiola, mesclada com o reggae de Jimmy Cliff e o bumba-meu-boi, tipicamente nordestino. E, apesár disto tudo, é o estado mais miserável do País, alternando as últimas posições com Alagoas, segundo os dados do IDHMI — Índice de Desenvolvimento Humano Municipal — publicados recentemente nos jornais.
Alagoas, quando foi governado, pela primeira vez, por Divaldo Suruagy, era, caracterizado por ele, como o “Filé Mignon do Nordeste”, por ser o estado onde se desenvolvia a agricultura canavieira bem mais moderna e produtiva que a de Recife; onde estava a melhor e a maior bacia leiteira do Nordeste; onde ocorria a produção de fumo da melhor qualidade do País, em Arapiraca; uma reserva apreciável e valiosa de salgema; uma costa belíssima, com notável potencial turístico e, um pequeno estado — a terra dos Marechais! — que, além de ser berço de grande homens públicos, era também o berço de grandes nomes da literatura nacional!
E a pergunta que não quer calar é como, tudo isso de potencial, escorreu por entre os dedos e levou a tais estados a situação tão deplorável! O fato é que a história desse dois estados tem algo parecido com a de nosso vizinho, a Argentina que, em 1920 era, talvez, a segunda nação mais rica do mundo, com um povo alfabetizado, uma classe média forte e, aparentemente, instituições saudáveis e sólidas.
E aí está a Argentina que, se desmantelou, se desorganizou e se perdeu em termos de história, fruto, fundamentalmente, do empobrecimento institucional que líderes populistas a fizeram mergulhar.
Alguém há de argumentar que, no Nordeste é tudo assim, mesmo! A história diz que não. Dois estados, dos mais pobres, sempre deram exemplos de bom planejamento e boa gestão pública, como são os casos do Rio Grande do Norte e do Ceará. Sempre tiveram bons dirigentes, embora que, vez por outro, ocorresse um transtorno no meio do caminho como ocorreu com a Prefeitura de Natal, recentemente é, agora parece estar a ocorrer com o Governo do Estado. No Ceará, os governos estaduais, mesmo com certas limitações na forma de governar e definir, autoritariamente, prioridades, tem feito muito boas administrações.
Ou seja, parece que os problemas estão vinculados a pobreza institucional, a falta de uma ética de compromisso e de responsabilidade para com a coisa pública e, em alguns casos, em face da não alternância de poder, configurando situações como a do Maranhão e o descalabro que representa a gestão da coisa pública no estado de Alagoas. E, Alagoas, que deu um dos mais notáveis exemplos de seriedade e dignidade na gestão da coisa pública, através da administração que se pautava pela transparência, que foi o período do grande escritor Graciliano Ramos! à frente da Prefeitura de Palmeira dos Índios, vê-se hoje afogada em problemas, impasses, violências e desrespeito a qualquer dos valores mais caros a um estado democrático de direito.
É uma tristeza que o País, impotente, assista a tais desrespeito à dignidade humana e sinta que, os interesses político-eleiçoeiros, deverão conduzir a manutenção dos mesmos líderes e do atual “estado das artes” em tais unidades da Federação.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!