O PAÍS DO SIMULACRO!
Quando o cenarista curtia os doces e inocentes anos da sua infância, lá pelas bandas do Rio Acaraú, na fidelíssima e heráldica cidade de Sobral, era um aficionado por camelôs, mágicos, prestigitadores e ilusionistas.
Embora o tempo dos sonhos e das ilusões ainda não tenha passado de todo, pelo menos para o cenarista, hoje choca, a qualquer cidadão, essa tendência de se venderem ilusões como se fora realidade objetiva. O escamotear da realidade, o conjecturar um mundo idealizado mas não real, representa um embuste e, se se quiser ser mais generoso com o julgamento de tal gesto, uma espécie de simulacro.
Ou melhor, quando se transforma um tempo em que as coisas se assemelham ao que as pessoas sonhariam com, embora esse tempo ou essa sensação sejam passageiros e tais benefícios não se estendam a todos as pessoas, esse sentimento de euforia, de entusiasmo e de alargamento da auto-estima, as vezes obscurece a capacidade de examinar, criticamente, as situações!
Os anos sessenta, principalmente no período juscelinista, foram marcados por um Brasil que a dinâmica das coisas era tal, pois se vivia a proposta de JK, de mudar o país em 50 anos em apenas 5 anos, e, experimentava-se a ilusão de que o desenvolvimento atingiria a todos e a tudo e, portanto, parecia-se viver alegres anos de conquistas e bonanças.
Nesse ambiente de frenesi, de alegria, de otimismo contagiante e de crença no País e na sua destinação histórica, começaram a surgir alguns pensadores que, embora não deixando de reconhecer que se vivia um grande momento, principalmente com a chegada da industrialização, com a conquista do mundial de futebol, do mundial de basquete e de ter o privilégio de ter uma deusa do esporte dos brancos e da elite, no caso o tênis, com Maria Esther Bueno, o Brasil não se apercebia das desigualdades regionais e sociais, da exclusão e da miséria que assumia proporções de grande vulto e atingia a maior parte de sua população!
Vivia-se um sonho. Não do Brasil, grande potência, que só viria depois, com os militares. Mas de um país que se descobria não só na arrojada arquitetura de sua nova capital, na descoberta do Centro-Oeste, para o agronegócio e, do novo caminho para a Amazônia, além de se experimentar os ares de amadurecimento das suas jovens instituições políticas.
A industrialização chegava com a substituição de importações e o orgulho nacional se via atendido com a produção de veículos, feitos cá na terra. De um país essencialmente agrícola que, até bem pouco, era chamado de primário-exportador, com a modernização getulista, com CSN, CHESF, BNDES, BNB, etc, encontrava em JK o homem que acreditava que o desenvolvimento era feito por estradas, hidrelétricas, indústrias e com as exportações de manufaturados!
Ninguém via o que se escondia por debaixo do tapete. Aliás, ninguém queria ver, a não ser uns teimosos cidadãos que, quando colocados diante dessa fantasmagoria, insistiam em ser os desmancha prazeres e chamavam a atenção para as contradições, a miséria, a fome, a pobreza, a discriminação, o preconceito e tantos outros males que a grande maioria da população enfrentava.
Esse Brasil verdade, chamado a atenção pelo Cinema Novo, onde Glauber Rocha pontificava como o cineasta que resolveu desnudar esse país com suas inconsequências, os seus contrastes e acima de tudo, as suas injustiças que, nem sequer a classe média queria ver começa a chocar o status quo. Esse cinema verdade, subiu os morros, discutiu a droga e os desvios de comportamento; tentou entender as razões e causas da violência urbana e contra os eternos discriminados e mostrou como a religião representava um dos principais elementos de dominação e manutenção do quadro de miséria e pobreza do País.
Mas, àquela época, ninguém queria saber desses filmes que só vendiam miséria, fome, discriminação, maus tratos, pobreza e uma elite a usar e abusar das populações mais excluídas. Eram filmes desagradavelmente em preto e branco chocando com cenas gritantes que desnudavam a verdadeira realidade nacional.
Todos preferiam ver o que, dos Estados Unidos vinham, como mensagem de sonho e de esperança e de uma vida de abundância e até de opulência. Todo mundo bonito, saudável, alegre e de bem com a vida e tendo acesso, não só aos bens materiais mas, fundamentalmente, aos bens culturais.
Hoje, a Europa olha o quadro brasileiro e se choca com o engodo e a enganação por trás do pais da fantasia, do carnaval e das grandes ilusões. Como faz falta, nos dias que correm, um Glauber Rocha capaz de mostrar que, o país pode vir a ser a civilização dos trópicos mas é fundamental não esconder a miséria, os dramas, as discriminações e o descaminhos por onde se esvai o entusiasmo e a auto-estima do País!
Vive o Brasil, o ilusionismo plantado por Lula, o grande prestidigitador da República. Combateu-se a miséria com o Bolsa-família. Mas, a dependência de milhões de brasileiros da esmola que lhes é dada pelo governo, leva-os a leniência, ao um sem-vontade e, acima de tudo, a um desânimo e a uma descrença de que é fundamental lutar pela sua inclusão social e política. Continuam sendo cidadãos de segunda categoria!
O país vive um crise perversa onde, diferentemente do que se desejava “os desenganos vão conosco à frente e vão ficando atrás as esperanças”.
O simulacro, na definição própria do termo, está aí. A cada discurso dos detentores do poder, descobre-se que o mundo que eles vivem e tentam forçar o povo acreditar que vivem, é um mundo diferente da realidade dura de muitos e da perspectiva pouco promissora de uma nação como um todo. E os Houdinis da vida, os mágicos e prestigitadores, continuarão a vender as suas ilusões, intentando mostrar que, embora as pessoas não saibam ou não queiram acreditar, elas vão muito bem, obrigado! E tudo não passa de uma grande mentira como dizem que é tudo que se processa na capital dos desencontros que é Brasília.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!