O PAÍS ESTÁ FICANDO CADA VEZ MENOR…
Foi-se Ariano. Foi-se João Ubaldo Ribeiro. Foi-se Rubem Alves. Foi-se Ivan Junqueira. estão indo, para o além, os melhores símbolos da brasilidade e, com eles, os vanguardeiros dos ideais e dos sonhos da moçada tupiniquim.
Se o Brasil perde muito e vai ficando cada vez menor, onde tudo parece estar encolhendo, inclusive o Produto Interno Bruto, o Futebol e, a outrora respeitada diplomacia brasileira, que agora virou anã, o Nordeste perde muito mais. Isto porque foram poucos os cidadãos nordestinos que conseguiram superar a seca, as vicissitudes da vida e a própria tendência de serem cooptados pelo poder e pela grana, que lhes tiravam a identidade, a dignidade e a decência. As perdas são irreparáveis e de figuras quase insubstituíveis!
Para quem viveu e ainda vive a chamada ideologia da nordestinidade, para quem se sente orgulhoso e envaidecido pela própria saga e pela capacidade de vencer as hostilidades da natureza, a morte de figuras como Ariano, Dominguinhos, João Ubaldo Ribeiro, representa uma lacuna no sentimento de envaidecimento pelo que fizeram tais homens, pela cultura, pelas artes e por fazerem o Brasil conhecer melhor as suas raízes e a sua história.
Foram, num espaço de tempo tão curto, homens e nomes que fizeram com que os nordestinos se orgulhassem de sua história, de sua cultura e do quanto contribuíram para a edificação do Brasil. Isto sem contar aqueles severinos da vida que, exerceram, com dignidade e decência, o papel de construtores de São Paulo, do Rio, de Brasilia e outras plagas desse Pais, com suas mãos e a sua determinação.
Fez parte o cenarista da saga de estruturação dessa chamada ideologia da nordestinidade, não apenas concebida, estimulada e apoiada com seu saber e seu espírito de luta, por figuras como Celso Furtado, Romulo de Almeida, Nilson Hollanda no campo econômico, além desses nomes notáveis da literatura, das artes e da ciencia, como Gilberto Freyre, Rachel de Queiroz, José Américo de Almeida, Bandeira Tribuzzi, Graciliano Ramos, Jorge Amado e tantos outros que se doaram para que os nordestinos não tivessem vergonha de sua luta e deles mesmos.
Relembra o cenarista um episódio que mostra grandeza, a humildade e a simplicidade desses homens notáveis, por ele vivenciado quando, nos trinta anos de criação do Banco do Nordeste, João Ubaldo Ribeiro foi um dos homenageados, pela magnifica contribuição à cultura através de seu fabuloso romance Sargento Getulio. Depois de longos e laudatórios discursos dos demais homenageados, já na hora do cansaço e do almoço, chegou a vez de João Ubaldo. O temor da plateia era enorme diante de um bahiano que iria expressar o seu agradecimentos.
Mas, humilde e despojado, Ubaldo, subiu ao palco, recebeu o seu troféu e disse apenas: “Deus me fez bahiano mas não me fez orador. Obrigado”. E, apressado e lépido como subiu, desceu do palco diante de uma plateia incrédula que o aplaudia, tanto pela sua obra como também pelo discurso!
A humildade e grandeza de certas figuras, as pessoas conhecem pela cara, pelo jeitão e pelas atitudes. Duas pessoas, fisicamente tão diferentes, de origens tão distintas, mostraram-se, durante toda a vida, de uma humildade a toda prova e de uma grandeza sem igual, sem a soberba dos pretensiosos: Ariano e João Ubaldo!
Assim, ao despedir-se da vida, tais figuras do tamanho de um Ariano, ou de um João Ubaldo ou de um Dominguinhos, deixam o Nordeste e o Brasil menores. E, nesses tempos de vacas magras, onde tudo é problema e dificuldade, as perdas vão se acumulando e deixando um grande e melancólico vazio!
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!