O PENSAMENTO ECONÔMICO DE SERRA E DILMA

Todos são unânimes em afirmar que os discursos de Serra e Dilma não serão muito diferenciados. Ou seja, as bases dos fundamentos da economia já estão dadas e, dificilmente, alguém poderá propor alterações substanciais no câmbio, nas metas de inflação, na responsabilidade fiscal e no que concerne ao superávit primário.

Mas, necessariamente, a consolidação e o aperfeiçoamento de tais instrumentos serão as bases das discussões entre os dois principais candidatos. Segundo José Serra, não se pode admitir que o Brasil tenha a mais alta taxa de juros do mundo; a moeda mais apreciada e uma grande irresponsabilidade no que diz respeito aos gastos correntes. Ou seja, a única maneira de fazer o necessário ajuste ou garantir a “sintonia fina” entre tais instrumentos, passa por uma modernização e atualização aos novos tempos, da política cambial, da política monetária com vistas a redução dos juros básicos e incorporando um processo de eficiência da gestão do gasto público, melhorar a relação dívida interna/PIB e, consequentemente, abrir espaços para uma taxa de investimento maior e a geração dos superávits externos, pelo menos, ao nível que se conseguia no passado recente.

Na verdade, na história das economias do mundo, em quase todas elas, à exceção dos EUA, o motor para garantir dinamismo do crescimento das mesmas economias foi sempre o setor externo. No caso do Brasil, até bem pouco, os EUA determinavam o ritmo de expansão da economia brasileira. Agora, houve um “shift” em direção à China – a China assumiu o papel de segundo maior exportador do mundo, no ano passado! – embora que, a abertura da economia brasileira para o exterior seja de apenas 1,2% e o Brasil se coloque em 26º no ranking de economias, no que respeita à referida abertura. Assim, na visão de Serra, é fundamental fazer alterações não no valor do câmbio em si, mas na política cambial como um todo, de forma a que se reduzam os constrangimentos e os processos de apreciação do real.

Quanto à política microeconômica, será necessária uma revisão dos instrumentos destinados a modernizar tecnologicamente a indústria e criar mecanismos destinados a melhorar a competitividade da indústria vis-à-vis das indústrias do exterior. Isto porque o processo de “desindustrialização” do País vem se acentuando bastante com a exportação de commodities, tanto agropecuárias como minerais, que tem assumido a liderança da geração de renda da economia nacional.

Se Serra fala um choque de gestão, melhoria da eficiência do gasto público e pequenos ajustes nos fundamentos da economia, Dilma mantém o mesmo discurso, qual seja, manter a mesma política de Lula, dando ênfase a consolidação das conquistas sociais. Mas, Dilma começa a ousar em termos de números, pois que já está a estabelecer objetivos em relação ao superávit fiscal, a meta de inflação, à relação dívida interna/PIB como que, forçando a que Serra, num desafio, venha dizer o que pretende alcançar ou contestar as presumidas metas de Dilma para a economia como um todo. Aliás, Dilma já diz apostar em um aumento da taxa de investimento de 19,5% que diz acreditar que chegue este ano em 21,5% o que, embora não sendo o ideal, já garante que se consiga manter os 5 a 6% de crescimento do PIB. Na verdade, Dilma continuará a “bater” na tecla dos famigerados PAC 1 e 2 como bases de garantia de sustentação do crescimento desejado para o País.

Mas, é bom que se diga que, pelas primeiras declarações dos dois pré-candidatos, ainda não se pode ter uma clara idéia de suas propostas de governo nem da consistência do que eles apresentarão para um julgamento crítico da sociedade. Mas, já é um começo. Dia 10, Serra deverá mostrar um roteiro mais completo e consistente do que pensa para o País e, aos poucos, os assessores de Dilma mostrarão novas propostas e idéias sobre o que pensa em termos de transformação da economia do País.