O QUE É ESQUERDA E DIREITA NO BRASIL?

Para alguns, o desmantelamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, simbolizada pela derrubada do Muro de Berlim, marca não apenas o fim da guerra fria, mas também o quase “fim das ideologias”, segundo presumidos antecipadores da história, como Fukuyama.

Ou seja, até aquele momento, o confronto entre a ideologia socialista ou comunista ou de esquerda e a chamada ideologia de direita, também admitida como a ideologia do liberalismo ou, até mesmo, confundida como o chamado “Consenso de Washington” – receituário destinado a reformular as economias emergentes para superar estrangulamentos ao seu crescimento -, apresentavam alternativas de organização da sociedade e estruturação das economias em propostas, aparentemente, diametralmente opostas.

Segundo historiadores, a partir da década de noventa, a proposta liberal tornou-se única e hegemônica, em todo mundo, à exceção de locais ermos, exóticos e teimosamente renitentes como Cuba, Coréia do Norte e alguns estados fundamentalistas. Claro está que uma tentativa personalista e inusitada é buscada, nos dias que correm, pela Venezuela e pelo populista Chávez, mas que, embora tenha tentado levar os seus ideais da chamada Revolução Socialista Bolivariana a pequenas repúblicas sul americanas, não tem conseguido resultados objetivos. Por outro lado, o que restou na Europa do comunismo e, até mesmo, do socialismo, ou encaminhou-se para uma social democracia já hoje fora de moda, como a partidos de esquerda que, na verdade, não tem mais da visão primeira de capitalismo de estado que se pretendia com a chamada revolução proletária universal.  Assim, o sonho socialista ficou como que quase caricatural, exteriorizado por movimentos populares pouco convincentes – os MST’’ da vida – e por partidos obsoletos, com discursos que não mais sensibilizam, notadamente, os jovens.

No Brasil, segundo Plínio de Arruda Sampaio, ex-petista e um comunista respeitável, candidato a Presidente do PSOL, o que resta dos sonhos de igualdade de oportunidades e de uma sociedade socialmente justa, ficaram restritos a apenas três partidos de esquerda, no caso o PSOL, o PSTU e o PCdoB.

E Plínio atribui tal esvaziamento das esquerdas no País, ao papel deletério cumprido por Lula, desmantelando o PT, fazendo alianças espúrias, negando princípios e compromissos, frustrando jovens, intelectuais e homens e mulheres sérias deste país e, praticando um pragmatismo cínico e cheio de concessões à ética, à moral e à decência.

E, a partir desse processo de desestruturação do sonho socialista, a nível internacional, e da globalização que invadiu e assumiu todos os campos da convivência humana, o reflexo no Brasil levou hoje a uma confusão “dos diabos”. Ou seja, até pouco tempo, ser liberal era mesmo que ser de direita raivosa, injusta e propugnadora das concentrações de poder, de renda e de prestígio, nas mãos das chamadas elites. E ser de esquerda, representava ser o defensor dos direitos das minorias, o guardião da ética, o construtor do futuro de igualdade de oportunidades, o defensor da diminuição das diferenças de rendas e de outros sonhos de fraternidade e igualdade.

Mas, mais que de repente, as ações de Lula e do petismo, levaram a um processo tal de descaracterização do quadro político-ideológico que hoje, os petistas chamam Serra de homem da direita e, até a pobre da Marina Silva, é acusada pelo PSOL, PSTU e PCdoB de governista, no máximo de centro e, contraditória por admitir que sustentabilidade ambiental e crescimento econômico são compatíveis.

O PCdoB e o PSB deixaram de ser sequer socialistas, não só pelo seu arraigado governismo e pragmatismo, mas o próprio PSB, ao admitir como seu candidato a governador de São Paulo, o Presidente da FIESP, Paulo Skaf! O templo maior do chamado “capitalismo selvagem e entreguista”, segunda a esquerda de outrora, traveste-se de guardião dos valores socialistas mais caros!

Na verdade, ninguém sabe mais quem é de esquerda e direita e nem tampouco se tem uma clara idéia de quais são os valores, os símbolos, os ideais e as propostas de construção da sociedade, hoje defendidas pelos que se auto-intitulam de esquerda.

A confusão é tal que, quando Dilma defende valores de direita, muitos acham que ela faz apenas uma manobra no sentido de não afastar os conservadores até a realização do pleito. Quando Serra diz que, pela sua formação não pode se colocar contra qualquer programa de compensação social ou de distribuição de renda, os petistas o acusam de estar mentindo à sociedade, pois ele foi sempre contra o bolsa-família.

A coisa está de “vaca desconhecer bezerro”, como se diz na gíria popular. Não se tem um norte nem para dividir os líderes em progressistas e conservadores nem tampouco para saber quem fala o que pensa e o que sente de quem apenas é um boneco de ventríloquo nas mãos de seus marqueteiros.

O que se imagina é que, nesta eleição, apenas vão os brasileiros escolher o “produto” melhor acondicionado, melhor apresentado e que tenha mais chance de enganar o eleitorado e lhe parecer mais palatável, mais simpático ou, para os mais lúcidos, “o menos ruim”, não importando quem se rotula e se auto-rotula de esquerda ou de direita. Pois, o que se sente é que não faz qualquer diferença, nesse quadro político-eleitoral, o que pensa o candidato e, talvez, nem sequer, se é ficha limpa ou ficha suja.