O QUE ELES PENSAM?

Marina Silva,  a candidata “low profile”, a frágil, moreninha, “a que se fez por si só”, de saúde precária mas de gestos doces, conseguiu, com determinação e humildade, agora a pouco, um grupo excelente para ajudá-la a formular o seu programa de governo. A política ensinou-a a conceber e ser capaz de ensaiar um discurso do tipo “paz e amor”, mas também a ensinou que o monocórdio discurso da sustentabilidade não somaria pontos na proporção que seria uma proposição quase que, hermética e não mexeria no inconsciente coletivo. O que começou a fazer foi afirmar algo diferente de seu perfil dito eco-xiita.

Habilmente, ao não deixar de elogiar Lula – mas não o seu governo! – não fica com o estigma de traidora, ingrata e de quem “cospe no prato em que comeu” mas, também, numa espécie de contraponto – dando ora  “uma no cravo e outra na ferradura!” – afirma que “governaria apoiada no que há de melhor do PT e do PSDB”. Ou seja, recoloca os partidos ditos de esquerda e, doutrinária e programaticamente, com enormes afinidades, numa aproximação que já existiu outrora e que as conveniências do poder os afastou. E, de maneira talentosa, demonstra que, na verdade, PT e PSDB, pensam da mesma forma só que um “aparentemente de tamancos” e o outro, “de punhos de renda”.

Se Marina assim fala, Aecinho, quando ainda era pleiteante a uma possível pré-candidatura a Presidente, martelava o seu discurso de que não seria um anti-lula, mas um pós Lula, como manda a tradição mineiro-pedessista. Ou seja, mineiro não vai para o confronto, mas para o entendimento e a conciliação. Com isto Aecinho nem abriu um flanco de divergências com os petistas, nem com os filhos do bolsa-família e, nem sequer com a esquerda – se é que ainda existe! – país afora.

Ciro, por sua vez, querendo convencer à classe política, à mídia e ao próprio Lula de que é fundamental para a democracia e para os próprios propósitos de Lula, fugir do caráter plebiscitário da eleição além de sugerir que o discurso não pode ser o confronto do “ontem com o anteontem e nem do ontem com o agora”, mas sim, um grande encontro com o amanhã.

Dilma, por outro lado, tenta criar uma “cara” própria, embora continue a dizer que quer continuar a obra de Lula, quer agregar, a tal esforço, a sua competência gerencial e os condicionamentos dos novos tempos, inclusive revendo o seu discurso de contemporizar com a banca e as grandes empresas nacionais. Ademais, repaginando-se para aparecer, “simpática, risonha e original”, reduzindo as restrições de quem a acha mandona e durona.

Serra, rumina idéias, estabelece o “timing” que considera adequado para botar a cara na janela e ter que começar a enfrentar o embate que, nesse momento, não lhe agregaria pontos e, segundo os seus assessores mais diretos, só lhe faria desgastar a imagem perante o seu eleitorado cativo. Assim, gasta o seu precioso tempo costurando alianças, construindo palanques e superando divergências que produzam problemas na sua base de apoio.

Por outro lado, aos analistas da cena política nacional, há a descoberta óbvia de que, dificilmente os discursos dos candidatos terão diferenças fundamentais. Todos irão defender a estabilidade da economia com os seus instrumentos já consolidados; buscarão o desenvolvimento com sustentabilidade ambiental e social; proporão uma presença mais significativa do Brasil na economia internacional e sugerirão idéias para priorizar tudo o que sempre já foi dito prioritário como educação, saúde, segurança, ciência, tecnologia e etc.

No final, no Brasil, como todos são progressistas e ninguém é liberal, sobraria o desafeto de Franklin Martins, o jornalista Diogo Mainardi, mas como é muito impiedoso na crítica ao obscurantismo, a esperteza e a “dita” incompetência de Lula e da companheirada, fica “stand by”, como o último dos liberais.

A pergunta que não quer calar, independente da postura ou da autodenominação de qualquer dos pretendentes ao papel de Magistrado da Nação, é saber qual a proposta de cada um e que tipo de país cada um pretende oferecer ao imaginário coletivo.

Por enquanto, tudo que vai ocorrer nesse período deverá ser a enxurrada de movimentos de desconstrução dos adversários e de comparações entre governos. E, os mais sábios, buscarão, acima de tudo, a boa exposição de mídia e, os mais tolos, o enfrentamento do perfil conservador da mídia nacional.