O QUE O MUNDO DISCUTE A RESPEITO DA AMÉRICA DO SUL!

Três matérias, deveras interessantes, sobre a América do Sul foram objeto da imprensa internacional. Não só aquelas que orgulham os brasileiros como a escolha de Lula como uma das mais importantes personalidades da década, pela mídia internacional, como aquelas que dão um fio de esperança de que, como no Brasil, quando se completam 24 anos de continuidade democrática, sem solavancos e sem ameaças ao estado democrático de direito, verifica-se, face a pesquisa recente na América do Sul, que 64% dos que vivem na região acreditam, piamente, nas virtudes da democracia e, apenas 34%, ainda temem que possíveis tentativas de golpe militar ainda sejam passíveis de ocorrer.

Por outro lado, a par de uma análise de cerca de quinze páginas sobre o deslanchar do Brasil –  “Brazil takes off”, capa da revista The Economist -, tal matéria demonstra, à saciedade, que o processo de construção do excelente momento que vive o país foi objeto de muitos esforços, particularmente aqueles realizados em passado recente, para garantir os atuais fundamentos sólidos da economia nacional. Não é sem outra razão que estudiosos reputam que, antes mesmo da conquista da institucionalidade necessária à operação do estado democrático de direito, é crucial que as sociedades busquem, num primeiro momento, a estabilidade econômica e financeira para, a seguir, mirar na conquista da plenitude do exercício de direitos civis, políticos, de organização e de acesso aos direitos sociais fundamentais.

Aliás, todos sabem que a estabilidade econômica conquistada pelo País vem desde a implantação, bem sucedida, do Plano Real, após as fracassadas tentativas do Plano Cruzado I e II, do Plano Collor, do Plano Verão, do Plano Bresser, etc., que não resta a menor dúvida, foi um aprendizado da equipe técnica que viria a ter êxito no debelar do processo inflacionário e no mudar a cultura brasileira relacionada ao lidar com a instabilidade e agora com a estabilidade da moeda. Mas, só isto não teria sido o bastante caso não se fizesse um sólido aprendizado na modernização de instrumentos de política monetária e fiscal e na modernização do sistema bancário e financeiro. Tais conquistas propiciaram ao Brasil a capacidade e o know-how para o enfrentamento de crises econômicas internacionais, que em todas as oportunidades, tiveram efeitos internos perniciosos como foram, desde a primeira crise do petróleo, em 1973/79; a crise do México de 1982; o Plano Cruzado em 1986; o Plano Collor em 1990; a crise tequila, no México, o que forçou o Brasil a desvalorizar o câmbio, em mais de 50%; a crise asiática em 1997, que afetou o preço das commodities brasileiras, forçando um aumento substancial das taxas de juros do “overnight”; a crise da Rússia, de 1998/99, o que obrigou ao Brasil a, em plena crise, correr o risco de mudar a política cambial, de câmbio fixo para uma política de câmbio flutuante, até a crise de 2001/2002, da Argentina, o que levou a elevação da inflação brasileira dos 4-5% tradicionais para uma taxa de 12,5% no ano e elevou a taxa Selic, hoje em 8,75%, para 25% naquele período!

Todas essas crises, não resta a menor dúvida, foram criando um caldo de cultura para a montagem de alguns instrumentos fundamentais para a atual política econômica nacional. A crise de 1998/99 lançou o país na opção do câmbio flutuante, não como medida emergencial mas, como política cambial definitiva, se é possível assim qualificar. Por outro lado, a crise de 97 levou a preocupações significativas com a saúde, a solidez e a modernidade do sistema bancário nacional o que, dados os mecanismos de controle e acompanhamento do Banco Central, tornou tal sistema um dos menos vulneráveis, no mundo, às chamadas crises sistêmicas, que minaram a estabilidade financeira de muitas economias.

A frequência com que o Brasil vivia crises fiscais levou a adoção da chamada Lei Rita Camata, o que veio a se transformar na famosa Lei de Responsabilidade Fiscal, instrumento crucial para minimizar as irresponsabilidades dos gestores públicos país afora.

Assim, a solidez, a estabilidade, a segurança e a modernidade do sistema financeiro e bancário; a adoção do câmbio flutuante; a lei de responsabilidade fiscal e, por último, o adequado e moderno monitoramento da inflação, através do mecanismo chamado de “metas de inflação”, determinaram a definição de um conjunto de instrumentos que permitiam, a qualquer governo, de esquerda, de direita ou de centro, um total controle da estabilidade da economia.

E foi isto que Lula recebeu de legado e foi isto que o “The Economist” procurou mostrar, na sua longa matéria, de que o Brasil estaria pronto para o seu “take-off”, vez que as pré-condições macroeconômicas estavam estabelecidas.

E é por esta razão que, na revista “Times”, que traz o drama experimentado pelo grande golfista, talvez o maior de todos os tempos, Tiger Woods, em sua capa, surge uma matéria sobre Evo Morales que, embora  mencione que intentou caminhos socializantes, em termos de estatização de empresas e outras medidas desse jaez, a la presidente venezuelano. Ou seja, embora fosse ele, Evo, tendente a adotar os princípios e valores da chamada República Bolivariana de Hugo Chavez, resolveu buscar outro caminho. Qual seja, antes de apenas pensar em afugentar capitais externos e adotar tiradas populistas, buscou o caminho da responsabilidade fiscal, da forte ênfase em investimentos destinados a romper gargalos logísticos e propiciou estímulo à retomada dos investimentos produtivos,  criando, portanto, as bases para um crescimento sustentável. Tanto é que, mesmo tendo atravessado os problemas advindos da crise econômica internacional, a Bolívia deverá crescer 3,5%, este ano e, provavelmente, a mais de cinco por cento no próximo ano.

O exemplo de Evo, embora tendo feito estatização de empresas privadas e algumas concessões ao populismo, busca seguir caminhos de equilíbrio, de ponderação e de seriedade na condução da política econômica, mirando-se nos exemplos de Michelle Bachelet, de Uribe e de, Lula, desde que no ano eleitoral que se aproxima as coisas não desandem e as distorções deste ano, não se reproduzam, de maneira irresponsável e desastrosa, em 2010.

Finalmente a matéria do Washington Post, analisando o “abraço de urso” de Lula em Armadinejah, negando uma tradição da política externa brasileira e, em direto confronto com o mundo ocidental,  que busca rígidos controle sobre armas nucleares, mostra uma reprovação ao governo Lula, por vários desencontros de sua política externa, não controlada pela tradição do Itamaraty mas, pelo assessor especial do Presidente, Marco Aurélio Garcia, terceiro-mundista, antiamericano e ideologizador da política do Brasil para o resto do mundo.