OS CÍRCULOS VICIOSOS DO PAÍS!
A tragédia que se abate sobre o Rio com enchentes, enxurradas, deslizamentos e desastres naturais de toda ordem com inúmeros mortos, chama a atenção para o fato de que neste país tropical e abençoado por Deus, existem episódios que, por mais trágicos que sejam, são recorrentes e, vergonhosamente, repetem-se quase todos os anos.
É indecente, é imoral e é deveras injusto para com o povo a leniência, a incompetência, a leviandade e a irresponsabilidade com que a questão é tratada mesmo após tantas mortes anunciadas.
Essa grave questão que não deveria representar apenas uma ação de defesa civil, mas uma ação coordenada e integrada dos três poderes juntamente com toda a sociedade civil, embora só ocorrer tardiamente no Rio e que já se manifestou por inúmeras vezes, também tem ocorrido em Minas e, até bem pouco tempo, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Parece que por lá alguma coisa foi feita e continua a ser feita, pois não se ouviu mais noticiar tragédias como essa do Rio.
Dentre os círculos viciosos deste país, conduzido pela incompetência e pela má fé, chama a atenção como a seca no semi-árido nordestino se abate, mais uma vez, destruindo culturas, matando animais e gerando desespero para quem tem que buscar água ou pagar preço aviltante por um balde d’água para beber. E assiste impotente uma Transposição das Águas do São Francisco que não anda; a integração de bacias que não ocorre; a recarga estratégica das barragens que não funciona e projetos de irrigação transformados em grandes elefantes brancos.
Se o drama das secas também é recorrente e, pasmem, não existe um projeto de médio e longo prazo para garantir as populações que, daqui a, por exemplo, dez anos não faltará água para o povo beber; daqui a vinte anos não faltará água para os animais beberem e daqui a trinta anos não faltará água para as culturas. Mas, nada disso pode ser dado, pelo menos, como um fio de esperança!
Outra tragédia nacional que faz parte destes chamados círculos viciosos do país diz respeito ao saneamento básico, onde os dados recentemente publicados envergonhariam qualquer país e deixariam em situação deplorável os gestores públicos de tal área. E, é lamentável que segundo alguns indicadores, numa cidade como Fortaleza, a mortalidade infantil era determinada, até bem pouco tempo, pela falta de esgotamento sanitário na cidade e que 55% de tal mortalidade derivavam de contaminação hídrica! E onde está o plano nacional de saneamento ambiental com definição das metas-desafio?
E o que dizer dos problemas de mobilidade urbana? Há trinta anos se constroem metrôs que nunca se concluem. Há muitos anos são prometidos veículos leves sobre trilho que, até hoje, só se tem notícia do que funciona em Juazeiro do Padim Cícero. As cirurgias urbanas para alterar o sistema básico de transportes são caras e de difícil solução. E não se reflete sobre quanto se economizaria de gastos com saúde pública, com combustível e quanto se ganharia de aumento da produtividade física do trabalho, caso cidades como São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, etc., pudessem contar com tais alternativas de mobilidade urbana!
Tal círculo vicioso é igual ao que ocorre com a educação onde, embora todos digam e reconheçam que o grande gargalo do País está em tal área; embora se gastem fábulas para melhorá-la; embora se lancem uma quantidade enorme de programas especiais, quando se verifica alguma melhora, ela ocorre por ação espontânea de algum estado – vide matéria sobre a educação de base no Ceará e o que se tem conquistado de melhoria na qualidade — ou de escolas públicas isoladas do Nordeste, mas não por políticas coerentes do governo federal.
Agora mesmo, diante do descalabro que foram os exames do ENEM, onde estudantes debocharam das autoridades ao incorporarem ao texto de suas redações receitas de miojo e o hino do Palmeiras, agrediam a ortografia de maneira violenta, receberam a brilhante manifestação do Ministro Mercadante de que, os debochados seriam sumariamente reprovados enquanto aqueles que escrevessem “de ouvido”, se o conteúdo fosse bom, não deveriam ser penalizados, pois tal representaria “uma espécie de preconceito linguístico!” Ou seja, escrever errado não há nenhum mal!
Se se quiser ampliar a lista daquilo que se pode chamar de circulo vicioso de problemas que não encontram qualquer encaminhamento de solução, inclua-se, entre outros, os problemas de violência e insegurança; a não descriminalização do uso de drogas e a forma como a questão é enfrentada no país afora, uma série de outros problemas que aguardam a lucidez e a determinação de algum governante comprometido com o país e seu povo.
Excelente colocações sobre a doença crônica que insiste em consumir os esforços e recursos do país, mantendo sobre nós a sombra de um passado recente de estagnação e sentimento de derrota. Parafraseando o cenarista, até parece que os últimos 18 anos são apenas uma visita da saúde, onde o moribundo aparenta uma melhora geral antes de mergulhar para a realidade inevitável que é a de que vivemos em um país doente, onde a recuperação esta longe, muito longe, de ser alcançada.