OS CONTENCIOSOS DE CADA UM!
Dilma e Serra têm várias coisas em comum. Nenhum dos dois é simpático e agradável no trato. Nenhum dos dois é um padrão de beleza. Nenhum dos dois tem humildade ou sabe como industrializá-la, para aparentar serem menos agressivos ou menos pretensiosos e arrogantes.
Ambos foram de esquerda, sendo que um militou como Presidente Nacional da UNE e a outra vinculou-se a movimentos de guerrilha e, consequentemente, ou foram presos e torturados ou foram para o exílio.
As semelhanças param por aí. Serra “sofre” para fugir da pecha de que não é representante legítimo daquela “elite branca e preconceituosa contra pobre, nordestino, trabalhador e sindicalista”, de São Paulo. A outra, no caso Dilma, vem angariando antipatias, não apenas pelo seu jeito de durona, autoritária e, muitas vezes, grosseira, mas até mesmo para mostrar a sua competência como gestora e coordenadora dos principais programas do governo Lula. A frente da Casa Civil, particularmente, angariou antipatias dos seus companheiros de partido, da classe política e de burocratas do governo. Mas, agora, na campanha, Dilma sofre com a má vontade da quase unanimidade da mídia nacional. Os donos dos conglomerados de comunicação assustam-se com ela, suas propostas e os que a cercam. Os que “bancam” a mídia, com as suas gordas verbas publicitárias, estão em estado de alerta, diante das idéias colocadas ou aceitas por ela, não só no Programa Nacional de Direitos Humanos, mas no próprio primeiro programa de governo, entregue ao TSE. Os jornalistas têm manifestado sua tremenda insatisfação com a forma com que são tratados por ela. Alguns acham que ela não tem “jogo de cintura”. Outros acham que, só quando monitorada por Lula, ela não comete escorregões. Outros ainda acham que ela pode estar enfrentando problema de recaída no seu estado de saúde, o que estaria provocando cansaço maior e estresse mais que suportável.
Se com a mídia a coisa não anda bem, no caso da Justiça, a coisa parece andar pior. O TCU foi acusado por Lula e Dilma de que, sendo composto por ministros ligados a oposição, o Tribunal tem sido um empecilho ao desenvolvimento dos grandes projetos estruturantes do País. O TSE, apesar de já tê-la multado pela sexta vez, continua a não ser respeitado e o próprio presidente busca “troçar” das suas punições.
Agora, Dilma e o PT, estão propensos a processar a vice-procuradora eleitoral federal, Sandra Cureau, por denúncias ao comportamento desrespeitoso à legislação eleitoral vigente, da campanha de Dilma. Aliás, insinuam Lula e Dilma que o parte do Ministério Público pretende afastá-lo da campanha de Dilma por ser defensora, tal parte, da candidatura de Serra. A mídia vê, na atitude do governo, manobra intimidatória contra o Ministério Público Eleitoral Federal.Se as questões com a Justiça e com a mídia são de difícil administração, há ainda a dificuldade de lidar com a classe política – o episódio com a vereadora e candidata a deputada estadual do PSB, em Belo Horizonte, foi constrangedor! – e com os problemas da candidata com os ambientalistas que, ao que parece, não são fáceis de conduzir!
Se Dilma enfrenta tais problemas, além da pressão que é exercida sobre ela pelos radicais do seu grupo gestor de campanha e das cobranças dos seus correligionários do PT, também Serra tem sérias dificuldades, principalmente no Nordeste – acham os nordestinos que ele sempre foi um paulistano contra a região e, necessàriamente, contra o bolsa família, etc. – e, até os mineiros querem que seu discurso não seja tão marcado pelo que ele fez por São Paulo.
Além disso, Serra ainda não encontrou o eixo de seu discurso que, segundo os seus marqueteiros, não pode bater de frente com Lula, mas não pode deixar de mostrar o que não foi feito e o que falta fazer, máxime para o povo mais pobre e sofrido do país. Dessa forma, os dois candidatos têm pouco mais de um mês para fazer todos os ajustes e adequações e, o que está sendo cobrado pelas elites e pela classe política, são propostas consistentes, coerentes e adequadas, capazes de criar “esperança consequente”, notadamente nas populações mais marginalizadas e desassistidas.
Correção: VeneZuela
Ao dizer que “…Serra ainda não encontrou o eixo de seu discurso…” esbarra no fato de que ele, Serra, já fala claramente que é contra a política econômica no que tange a taxas de juros, grua de investimento do governo em infra-estrutura e alta carga tributária, além de já deixar claro sua opinião sobre a poítica externa do Governo atual, mais precisamente ao falar de Cuba, Venexuela e as FARC´s e o finaciamento do MST por parte do Governo federal.
Ao que tudo indica o discurso de Serra vem tomando um rumo na direção desses assuntos, mas, talvez, o que me aflige é o fato de que Serra e seus marqueteiros não conseguem atingir Dilma diretamente, uma vez que são críticas diretas ao atual governo, mesmo que desejando dizer com isso que será o continuísmo.
Outro ponto é de que não vejo o que isso fará com que os beneficados da bolsa família façam, em algum número, uma migração para a banda de cá.
Em suma, vejo claramente um rumo para o discurso de Serra, mas não estou vendo eficácia!