PODE SER A GOTA D’ÁGUA…

A vaia insistente, acompanhada de palavras de baixo calão, com que a Presidente foi saudada na festa de Barretos; o xingamento a Lula chamando-o de “cachaceiro, devolva o meu dinheiro” em evento  recente e o enxotamento, de um dos restaurantes de Brasília, do Advogado Geral da União, mostram, tais episódios,  que a população brasileira está no limite da tolerância e, qualquer coisa que a desagrade, pode entornar o caldo, de vez. Claro que o brasileiro não é dado a promover revoluções pela sua tradição histórico-cultural, mas, ultimamente, muitos patrícios tem aderido à uma prática reprovável e inaceitável, que são os atos de selvageria como tem sido os frequentes linchamentos de pessoas apanhadas em sérios desvios de conduta.

Apesar dessa atitude hostil de grupos da população e a reação chamada de efeito manada dos brasileiros  diante de políticos e governantes que frustraram as suas expectativas ou que, pelos seus atos, atitudes e palavras, mentiram para a sociedade, os brasileiros não são de derrubar governos. Ou seja, ninguém derruba governos no Brasil. São os governos que, por eles mesmos, caem!

Por outro lado, no Brasil não existe nenhuma tradição de revoluções. No máximo são pequenas rebeliões localizadas e, o único episódio cruento e de maior significação e duração que se tem notícia , é a famosa Guerra do Paraguay que, a bem da verdade, foi muito mais um genocídio promovido pelos brasileiros, argentinos e uruguaios, sobre a “indiada guapa” Guarani do que uma guerra,  no sentido literal da palavra. A própria “Guerra de Canudos”, uma rebelião liderada por Antonio Conselheiro, foi algo localizado que, por sinal, foi dizimada pela imensa força do Exército Brasileiro frente uma jagunçada, valente,  mas despreparada!

Portanto, o Brasil não tem tradição revolucionária e, no mais das vezes, as coisas sempre foram resolvidas na base do chamado “entendimento” ou, conforme se conta, a título de piada, no País os conflitos, inclusive entre militares, são resolvidos fazendo um encontro de contas entre as forças de cada lado e, aquele que se mostrasse hegemônico, levava o botim sem que se disparasse um só tiro!

Agora mesmo o Chefe do Governo, embora caindo pelas tabelas, não corre o risco de ser sacado fora, mesmo caminhando trôpego, aos trancos e barrancos, porque não é do feitio dos brasileiros enxotar quem quer seja do poder, mesmo que tenho cometido as piores diatribes. Portanto, em função da tradição histórico-cultural, minimização dos prejuízos de uma transição traumática e a busca de não deixar contenciosos insuperáveis através de um entendimento geral e, particularmente, entre as partes litigantes.

Diante do quadro em que está mergulhado o País, o que se espera que venha a ocorrer nos próximos dias?” Impeachment” está fora de cogitação por inúmeras razões porquanto o próprio PMDB seria o partido que se colocaria contra pois correria o risco de ver Temer ser levado de roldão nesse mesmo processo! Portanto, o que se imagina é que, nos próximos dias Dilma será afastada ou melhor, deverá deixar o poder, ou de moto próprio, via renúncia , por desgaste, por cansaço ou por imposição das circunstâncias ou ser pressionada pelos seus pares a deixar a cena! Quando vai ocorrer o desenlace se daqui a uma semana ou no próximo mês, o certo é que o país não aguenta sangrar por muito mais tempo como vem ocorrendo, ultimamente.

Para que o afastamento não seja traumático, o que se imagina é que será negociado com o TSE, por peemedebistas e pessedebistas, além de outras siglas menos votadas, não rejeitar, “in limine”, as contas de campanha de Dilma mas, aprová-las, mesmo que, com ressalvas as contas do período presidencial da Presidente. Além disso o TCU que é um órgão eminentemente político aprovará, também se presume, com sérias ressalvas, a prestação de contas do governo Dilma, com isto, isentando de parte das responsabilidades, pelos erros e equívocos ocorridos, o Vice Presidente Michel Temer.

Assim, nesse cenário, Temer assumiria o poder e, em negociação com o Supremo e a Procuradoria Geral da República, buscaria ele os demais líderes do processo, negociariam com as mesmas instituições, que elas, objetivando pacificar o País, aceitarem  a “passar por cima” das diatribes de Lula e, também, para a melhor composição do quadro, concluir que não existiriam provas fáticas e documentais contra Eduardo Cunha e, com isto, poderia ser propiciada uma espécie de conciliação nacional.

Portanto, a tendência que se vislumbra e a perspectiva que se abre é exatamente esse quadro porquanto não se espera que se mantenha o país sangrando e gerando revolta, insatisfação e indignação  na grande maioria dos brasileiros.

O grande problema que resta para ser encaminhado será “remover o cadáver”, ou seja, como desalojar os atuais ocupantes do poder, sem maiores traumas? “O elefântico  cadáver insepulto”, pelo seu tamanho, exigirá tarefa complicada pois a remoção é de difícil execução. Mas, acredita-se que a transição para uma nova etapa do processo político, talvez possa ocorrer e ser feita com a leveza que caracterizou a transição derivada da saída de Collor e a posse de Itamar. Será?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *