POR QUE A POPULAÇÃO É SEMPRE CONTRA A POLÍCIA?
Uma das figuras mais respeitáveis e dignas de admiração não só pelo seu trabalho, pela sua competência, pela sua desambição e pela sua humildade perante a vida e os fatos é, sem dúvida, o Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, o Dr. José Mariano Beltrame. Ele foi capaz de, inovar, conceitualmente, no que respeita a tentativa de, pacificamente, estabelecer a desestruturação do crime organizado nas favelas, nos morros e em aglomerados urbanos, sempre marcados pela violência.
Assim o fez quando inovou no enfrentamento do desafio da segurança pública criando as chamadas UPP’s, símbolo e instrumento fundamental da idéia de construir um projeto de polícia cidadã e comunitária.
Os resultados são muito relevantes embora receba críticas por parte de moradores das mesmas favelas que, quase sistematicamente, atribuem à polícia, ações violentas e agressão aos direitos humanos. Ora, numa primeira avaliação, abstraindo essas extemporâneas e, muitas vezes, orquestradas reações da comunidade, é uma pena que Beltrame não as implantou ainda em todo o estado do Rio de Janeiro, como era o seu propósito.
Apesar do importantíssimo papel das UPP’s, há um aparentemente incompreensível movimento de desestruturação e de desmoralização da mesma, movimento comandado, induzido e estimulado pelo próprio crime organizado que não aceita o seu desmantelamento, a sua desestruturação e a sua perda de poder. Lamentavelmente as UPP’s ainda não estão em todos os morros, mas apenas, em algumas parcelas do morro.
Parece que a natureza da relação da bandidagem com a população das regiões e áreas afetadas assemelha-se aquilo que existia entre os coronéis do sertão e os agricultores ou os seus chamados moradores. O coronel, em troca da fidelidade e do voto do morador, o que lhe conferia força e poder, os coronéis além de lhes garantir moradia, um pedaço de terra para plantar, a necessária proteção pessoal e policial, estabelecia também uma parceria produtiva na base da terça ou da meia.
Em troca ele provia proteção policial, segurança alimentar e outras garantias em troca da sua lealdade, da sua fidelidade e do seu voto. Num movimento destinado a garantir a liberdade política e o ir e vir do cidadão, desmantelou-se tal sistema e o morador, em vez desse dito cruel vínculo de trabalho, passou a ser uma espécie de um bóia fria, “sem eira nem beira, nem ramo de figueira”, a depender de um sistema de proteção social, policial e politica que nunca operou e funcionou.
Assim, a avaliação que se faz é que parece que o morador de favela, antes subordinado ou sob a tutela do Chefe do Tráfico, que, aparentemente lhe garantia a segurança pessoal, resolvia pequenos conflitos entre grupos e cidadãos, administrava a justiça e, ainda por cima, garantia que os moradores tivessem acesso à água, energia elétrica, internet e TV por assinatura, tudo sem lhe custar valores tão altos, sendo-lhes cobrado apenas taxas simbólicas, acha que a mudança de regime lhe foi desfavorável. O tráfico era, portanto, o provedor de todos os serviços públicos essenciais.
De repente as UPP’s estabelecem o estado democrático de direito na favela. Substituem o Chefe do Tráfico, como o mantenedor, garantidor da ordem e provedor de serviços públicos essenciais, pelo comando das UPP’s. A sua implantação restabelece a relação entre o cidadão e os provedores de serviços públicos essenciais — água, energia elétrica, telefonia, internet, TV por assinatura, entre outros — e todos passam a pagar como todos os outros cidadãos de outros aglomerados, embora com diferenciais em face do nível menor de renda doscmoradores da favela.
Ora, isto provoca uma enorme insatisfação pois os preços cobrados pelas “gambiarras” providas pelo tráfico eram bem menores, e bem mais módicos do que os preços que vieram a ser cobrados quando a ordem foi estabelecida, como era natural e esperado! Ademais, no sistema que atinge a todos, a impessoalidade é a caracteristica básica e a marca maior enquanto quando o comando da situação era do senhor do tráfico, este distribuía justiça e fazia diferenças diante da situação de cada um, segundo a sua visão salomônica.
Aí, nessas circunstâncias, passa a se gerar uma situação de incômodo e desconforto que o tráfico passa a explorar promovendo uma grande animosidade entre a população e a polícia. Todo os conflitos armados pelo tráfico com a policia são explorados pelos próprios moradores, chamando a atenção sempre e invariavelmente, para a truculência e a violência policiais, registradas por câmeras de celulares e identificadas sempre como iniciativa e provocação da tropa e nunca como legítima defesa dos policiais.
É por tal razão, diante da falta de colaboração da população que as UPP’s ainda não se consolidaram como efetivas polícias comunitárias e policiais e, se não fora a paciência de Beltrame, a determinação do Governador e um pouco de apoio da mídia, essa notável experiência de pacificação das favelas já teria naufragado.
Claro que há na polícia maus policiais, agentes de segurança corruptos e conluios entre eles e a bandidagem que vem sendo combatido, a duras penas, pelo secretário. Também, treinar e qualificar a polícia é tarefa ingente e leva tempo para mudar conceitos arraigados. Mas, o que se faz no Rio e, de forma distinta,em São Paulo, e, se há tanto associar-se a identificação única do cidadão e a integração de dados entre as várias policias e as várias unidades federadas, então muito se evoluirá em termos de redução da violência e melhoria da segurança publica no País!
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!