POR QUE AGUARDAR O QUE NÃO VAI VIR?
Há muita gente esperando e aguardando, até com ânsia, a “terça fatal”, quando Ciro destilaria todo o seu ódio e queixumes diante da traição – e é assim que os admiradores de Ciro classificam a atitude do Presidente! – de Lula para quem foi um dos mais fiéis companheiros de caminhada.
Na verdade, perde tempo quem imagina uma cena de intensa dramaticidade, com desabafos, impropérios e acusações de toda ordem, a ser protagonizada por Ciro Gomes. Não que a raiva e as queixas tenham passado ou que a ação da turma do “deixa disso” tenha se mostrado tão eficaz a ponto de aquietar o político sobralense.
O que deve estar a ocorrer é que Ciro, diante do que já disse, do estrago que já provocou e pelo simples fato de se transformar em uma espécie de ameaça permanente ou uma “espada de Dâmocles” sobre a cabeça de Lula e de Dilma, poderá reduzir as tentativas de “Lula e companhia” de retaliá-lo de várias formas e maneiras. Aliás, dizem as más línguas, que a possível amplificação das agressivas palavras de Ciro ou de “plantar” na mídia possíveis demissões de aliados de Ciro, como o Ministro Pedro Brito, da Pesca, não passam de coisas criadas pelos tucanos, aliados de Serra.
De todo esse episódio ficam lições importantes. Primeira, que o poder não tem sentimentos e afeições e é friamente pragmático, sempre preocupado com o resultado, não importando os meios a usar. Segunda lição é que, com os petistas, opera a fábula do sapo e do escorpião onde, ao ajudar o escorpião a cruzar o rio, no meio do caminho, apesar de haver prometido que não picaria o sapo, o escorpião o pica e o sapo, indignado, indaga “como você pode fazer isto se agora, morreremos os dois?”. Ao que o escorpião retruca: “That’s my nature!” Essa é a minha natureza. E Ciro, só agora descobre que essa é a natureza do PT. A terceira lição é a de que, “se você não pode com o diabo, faça o diabo por compadre”, pois foi assim que sobreviveram os Dirceus e os Palocci da vida. Só que Ciro não tem esse estilo ou padrão de comportamento e atitude.
O que vai sobrar de tudo isto? Cid fará a composição que está na sua cabeça e no seu interesse, na política do Ceará e, provavelmente, cobrará uma alta fatura de Lula para, num jeito muito mais descompromissado, apoiar Dilma ou, se as mágoas e os interesses de Ciro determinarem, acabará por apoiar Serra. Ou, se as pesquisas mostrarem um Serra firme e forte, caminhando para ganhar o pleito no primeiro turno, então prevalecerá o pensamento e a determinação do antigo chefe, Tasso Jereissati e as conveniências que o poder determina e estabelece.
A nível nacional, como já foi explicitado, Serra ganhará pontos em face da transferência de votos de Ciro e Marina deverá crescer como alternativa entre os dois pólos. Se ela conseguir dar robustez ao seu discurso e conseguir ampliar o leque de alianças, através de segmentos importantes da sociedade civil, então ela poderá ser alguém capaz de impedir que a eleição se defina em primeiro turno. Mas ainda há muita água a correr por debaixo da ponte.
Gostaria apenas de deixar, desta vez, uma retificação importante: O Sr. Pedro Brito é Secretário dos Portos. O Sr. Altemir Gregolim é o Ministro da Pesca e Aquicultura.