POR QUE NÃO CRESCEMOS COMO A CHINA E A ÍNDIA?

Os últimos dados publicados pelo governo chinês, relativos ao crescimento da economia em 2009, chamaram a atenção dos economistas de todo o mundo, não apenas pela sua exuberância – 8,7% no ano, com o último trimestre crescendo a 10,3%! – como pelo temor de que o superaquecimento conduza a problemas de desequilíbrios nos preços internos, no câmbio e nas relações econômicas internacionais. A previsão para 2010 é algo em torno de 9%, caso as autoridades econômicas não consigam sucesso na adoção de medidas de contenção da expansão creditícia e diminuição de gastos de consumo em determinadas áreas e setores.

Por outro lado a Índia, mesmo enfrentando problemas de castas, de religiões fundamentalistas, de questões regionais com o Paquistão e com a região da Caxemira, além de problemas de muita exclusão social, também tem mostrado um vigor extraordinário, o que a coloca, se não no mesmo ritmo de expansão da China, mas a algo bem próximo de tal dinamismo.

Enquanto tais emergentes estão crescendo a quase dois dígitos e, mesmo diante da crise econômica internacional foram capazes de não sentir os seus rigores, o Brasil satisfaz-se com um crescimento zero este ano e, se Deus ajudar, com um crescimento entre 5 e 6% no próximo ano! Segundo Delfim Netto, garantidas as autonomias de alimentos, de energia e militar, um país com a constelação de fatores tão favoráveis e sem contenciosos com vizinhos como o Brasil, teria todas as condições de ter um crescimento bem mais significativo do que o que se tem observado até agora. E por que tal não ocorre? Alguém haverá de argumentar que os dois emergentes citados dispõem do elemento motor mais relevante para tal dinamismo que é o tamanho de seu mercado interno. Mas, um mercado interno se constrói com a incorporação de massas de trabalhadores no mercado de trabalho e, portanto, passando tais cidadãos a consumidores, com relevância ao processo de dinamização da economia.

Claro está que tais países incorporam, cada um deles, anualmente, ao mercado de consumo, cerca de cinquenta milhões de cidadãos. No Brasil, ao incorporar cerca de 1,5 milhão de trabalhadores, necessariamente, as possibilidades de expansão econômica do País são bem menores do que os dois grandes emergentes.
Adicionalmente, a formação de poupança no Brasil mal chega hoje a quinze por cento do PIB o que, necessariamente, fixa-lhe um teto para o crescimento. Para crescer aos níveis de tais emergentes a poupança brasileira deveria chegar aos 25% do PIB o que, hoje, é praticamente impossível sem uma reforma tributária séria, uma redução significativa dos gastos de custeio da máquina pública e sem a retomada dos altos superávits comerciais com o exterior. 

Ademais, os problemas derivados de estrangulamentos logísticos, de atraso cultural e de pobreza dos seus recursos humanos, além de limitações institucionais sérias e do lerdo processo de modernização tecnológica, são entraves que criam embaraços à expansão da economia brasileira. Sendo um dos mais atrasados países no facilitar o empreendedorismo e a iniciativa privada – o Brasil é hoje o 110º no ranking dos países que garantem liberdade econômica, quando, o Chile, aqui próximo, é o décimo! – mostra os atrasos acumulados pelo País. A par disso, a burocracia, a corrupção e a pobreza política são elementos que potencializam o atraso e explicam porque anda o Brasil bem atrás da China e da Índia! Ou não seriam tais as limitações do Brasil?