QUEM TEM MEDO DE MARINA SILVA?
De repente, todos se sentem ameaçados por esse furacão que veio do Norte, com raízes cearenses e um sentido de missão que quase beira ao fundamentalismo. As hostes governistas, bem como o seu principal contraponto ou opositor, no caso o PSDB, entraram em polvorosa. Até agora não sabem se o fenômeno Marina seria algo que vem e passa, seria apenas uma onda, ou o rescaldo da comoção que tomou conta do país, pela morte de Eduardo Campos ou mesmo uma espécie de modismo. Alguns analistas menos simplistas tendem a avaliar que seria algo um pouco mais sério a assustar aos seus adversários e, portanto, estaria a exigir, por parte de Dilma e Aécio, uma estratégia que opere um eficiente sistema de desconstrução de sua imagem. Fundamentalmente contra a idéia de que ela seria um novo sopro diante de uma práticas políticas carcomidas.
A frágil freirinha, segundo os seus atuais adversários, não é tão pia, tão casta e tão frágil como se vê e se pensa. Para alguns críticos mais duros, ela não tem essa humildade e simplicidade estampada no rosto e no corpo nem na forma suave de expressar as suas idéias. Para esses mesmos, ela é de um elitismo quase indecente, porquanto mostra-se preconceituosa contra grupos, partidos, classes sociais religiões e pessoas. Portanto não podem, os seus adversários, deixar prosperar qualquer idéia de que ela é alguém tão aberta e tão democrática que estaria pronta a ouvir a todos, a apoiar-se em todos e em buscar os melhores nomes e homens entre todos, sem discriminação de gênero, partido, de estrato social e de vertente político-ideológica, para governar.
Surge agora, novos argumentos críticos a Marina, tipo a sua pouca vivência de executiva e de operadora política. Ou seja, para um país complexo e com problemas como o Brasil, uma pessoa como Marina não teria competência, experiência e vivência para enfrentar os desafios que a crise atual do País exigirá de seu governante. Assim a consideram sem profundidade não só para um debate mais sério sobre os temas que compõem a agenda nacional, quanto mais para administrar tantos problemas, demandas e desafios de um país continental como o Brasil.
Mas, Marina argumenta que a sua experiência de vida incorpora o fato de alguém que soube enfrentar as maiores adversidades. Só se alfabetizou aos 17 anos, filha de seringueiros cearenses — os famosos soldados da borracha! — e que, além disso, foi empregada doméstica até quando foi acolhida em um seminário de religiosas católicas. E isto já significaria um pouco de estrada empoeirada e difícil de trafegar. Adiciona Marina, os anos de vereança em Rio Branco, de Senadora da Republica e os cinco anos de Ministério do Meio Ambiente. Ela, então, insiste em indagar, será que toda essa caminhada e esses percalços não lhe legaram nem um pouco de experiência? E, pergunta, qual era a experiência de Lula, além do sindicalismo, quando se tornou Presidente da Republica?
A desconstrução de Marina passa pela argumentação de que ela prima pela intransigência e pela intolerância, além do “xiitismo ambientalista” que a faria discriminar quem não segue a sua cartilha. Temem os adversários que Marina, se eleita, será alguém como Jânio ou Collor, cheio de voluntarismo, visionário, presunçoso e arrogante e se achando o salvador da pátria, como que ungido pelos deuses! E Marina teria sido “escolhida para converter os ímpios”.
Ainda no sentido de diminuir ou conter o seu rapidíssimo crescimento, escolheram os seus adversários na chamada compra de um avião que era usado por Eduardo Campos, aquisição esta que teria envolvido operações de empréstimo e, segundo algumas avaliações preliminares, teriam sido utilizados laranjas ou empresas fantasmas para tal aquisição. Se isto não pegar e, pelo jeitão, não vai pegar, os adversários irão buscar outras formas de desconstrução ou desmontagem do mito que ora se está estruturando.
Buscando alarmar a população para os riscos de uma “fundamentalista” religiosa e ex-petista como Marina, assumir o poder, os seus opositores chamam a atenção para fato de que isto poderia representar risco de instabilidades das instituições como aquelas provocadas por Jânio ou Collor. O primeiro, como é sabido, renunciou pois acreditava que o povo iria ungi-lo como um ditador ou um déspota esclarecido. O segundo, todos sabem, convocou o povo para uma mobilização de apoio ao seu projeto de governo. Sugeriu que todos vestissem as cores nacionais e, o que acabou ocorrendo foram os brasileiros vestindo preto, numa demonstração de que, os desmandos de seu governo eram tantos que o povo assumia que era preciso vestir luto para caracterizar toda a sua indignação.
Ora, os dois episódios, ao invés de conspirarem contra as instituições nacionais. demonstram que a democracia é um regime tão bom que, quando não se quer mais um governante à frente do poder ou ele é forçado a renunciar ou o povo pede o “impeachment” dele.
Assim, é bom lembrar que, na democracia, o instrumento mais importante que o cidadão conta não é o direito e a possibilidade de escolher alguém de sua preferência para governar os seus destinos ou representá-lo nos parlamentos. Mas, cometido o engano de uma escolha errada ou infeliz, o próximo pleito permitirá que o cidadão tenha a chance de defenestrar aquele que frustrou suas expectativas e esperanças.
Mas, o que os mudancistas temem é que se se deixa perdurar alguém no poder, por um prazo muito longo, enfeixando muitos instrumentos de controle da sociedade, a tendência é que o detentor do poder, aparelhe o estado, enfraqueça as instituições, domine a mídia e controle os agentes econômicos e, com isso, possam sonhar com uma cubanização ou com a implantação da república socialista bolivariana no País.
Ou seja, o fenômeno Marina parece que encarna os sentimentos das manifestações de junho, o cansaço com as velhas caras e jeitos de fazer política e os temores de que, mais de doze anos no poder, faz com que quem o controla, comece a misturar o que é público com que é privado e se sinta imune a qualquer denúncia, critica ou reprovação.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!