SANEAMENTO AMBIENTAL: UMA VERGONHA NACIONAL!

A primeira e a mais densa encíclica apresentada aos fiéis pelo Papa Francisco está relacionada a momentosa questão ambiental onde o problema do saneamento, nas suas várias dimensões e facetas, assume papel relevante nas preocupações do Sumo Pontífice. Nessa mesma linha de pensamento e preocupação, a Campanha da Fraternidade deste ano, lançada recentemente, pela Igreja Católica Brasileira,  discute a gravíssima questão e busca o engajamento dos fiéis para intentar encaminhar soluções possíveis e viáveis para o desafio.

Por outro lado, entre os compromissos assumidos pelo Brasil para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, a serem realizados no Rio de Janeiro, além de uma série de outras obrigações, os organizadores se comprometeram em despoluir, em 80%, a emblemática Baia de Guanabara! Como é público e notório, o Comitê Organizador dos Jogos no Brasil, não cumpriu o assumido e, por pouco, todas as competições previstas para acontecerem na bela Baia, não foram transferidas para outros possíveis locais.

Lamentavelmente, até hoje o Brasil e a sua sociedade civil não despertaram para compreender quão relevante e grave é a situação ambiental brasileira, com degradações de toda ordem, com agressões a saúde em todas as dimensões e em todos os sentidos e, o que é mais preocupante, sem a capacidade de se sensibilizar diante de questão já tão grave. Para demonstrar o descaso e o desinteresse da sociedade brasileira, quando são listados os principais problemas nacionais, a questão do saneamento ambiental não é sequer mencionado entre os dez mais relevantes!

Em pesquisa realizada na cidade de Fortaleza, concluiu-se que 55% da mortalidade infantil eram explicados pela contaminação hídrica. Embora tal dado seja de quarenta anos atrás quando de tal constatação, isto levou o cenarista a lutar, como secretário de planejamento do estado, pela implantação do sistema de esgotamento sanitário da cidade, é bem provável que tais indicadores tão perversos se repitam ou, pelo menos, se a causa da mortalidade não atingir os 55% daquela época, com certeza, ainda ultrapassarão a casa dos 40%!

Isto porque, se em dois anos, àquela época, já bem distante, foi possível implantar um emissário submarino — o segundo do país! — um interceptar oceânico, que atenderia uma das três bacias da cidade e, 880 quilómetros de rede, a presunção seria que, nos quase quarenta anos seguintes, os governos fossem capazes de garantir esse serviço, à totalidade da população!

Mas, lamentavelmente, não foi isto que aconteceu. Evoluiu-se, relativamente pouco, com vistas a tal desideratum e, deixou-se de estabelecer ganhos no que concerne a quantidade e qualidade de vida das pessoas e de melhorar e ampliar o respeito à dignidade humana!

Nos dias de hoje, pelo menos seis milhões de habitantes não tem acesso a banheiros! 108 milhões de pessoas ou 54% do povo, produzem  esgoto que o despeja a céu aberto ou nos rios e barramentos, sem qualquer tratamento! Nas cem maiores cidades brasileiros, 35 milhões despejam esgotos, irregularmente, apesar de ter redes coletoras disponíveis!

Agora mesmo, trabalho produzido pelo governo federal, promete que, até 2033, toda a população terá acesso à água potável e 93% a esgoto sanitário mas, os especialistas antecipam e advertem que não há recursos para financiar tal projeto!

Se a situação no que respeita ao esgotamento sanitário atinge tais dimensões, excluindo-se o problema do abastecimento de água potável, em áreas urbanas, onde não se universalizou o atendimento e onde o desperdício alcança níveis absurdos — em São Paulo, estima-se que o desperdício de água atinja a mais de 32% da quantidade ofertada! —  a questão do chamado ” “destino final dos resíduos sólidos”,  a coisa ainda é mais grave pois o que se verifica é  que mais de 70% dos municípios brasileiros colocam seus dejetos sólidos nos chamados e questionados “lixões”. Sabe-se que tais lixões são abrigos de doenças de toda ordem e algo que espanta a qualquer cidadão que tenha um mínimo de sensibilidade e conhecimento do drama provocado por tais lixões, que produzem condições higiênicas deploráveis!

Se a situação no que respeita ao saneamento básico é grave, ao destino final dos resíduos sólidos e a falta de uma diretriz destinada às  políticas  da forma de administrar as questões relacionadas as descargas pluviais que comprometem, em muito, a qualidade de vida das populações urbanas, os problemas de destruição de “habitat” são constantes e quase inevitáveis. Ademais, o desmatamento, a destruição da mata ciliar nas margens de rios, a quantidade de gases lançados na atmosfera, emolduram esse quadro triste e perverso de destruição do meio ambiente que, até agora, ainda não gerou uma consciência crítica na sociedade brasileira para cobrar das autoridades constituídas o tremendo descaso sempre demonstrado!

Até quando esse quadro triste e vergonhoso vai continuar a desafiar as lideranças políticas nacionais?

 

 

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