SÃO TANTAS COISINHAS MIÚDAS…

O Prefeito Eduardo Paes, inconformado com a falta de educação de seus munícipes, estabeleceu um conjunto de procedimentais e sanções destinados a quem, irresponsavelmente, jogar lixo, de qualquer tipo, inclusive guimbas de cigarro, nas ruas. A população, em parte aplaude mas, reage não apenas ás multas impostas aos infratores, como para o fato, por exemplo, de que, em grandes eventos públicos, não deva caber ao cidadão comum ou ao seu gesto de responsabilidade politico-social como cidadão, prover para que sejam mantidos limpos os logradouros, mas sim, ao Serviço de Limpeza Urbana. É um pouco de atraso no conceito do espírito de cidadania mas, enfim, é o que ocorre.

A coisa ainda está em começo e, para demonstrar como os cariocas mantém à risca o compromisso de deixar à COMLURB, ou seja ao poder público, o papel de recolher todo o lixo, na passagem de ano, só em Copacabana, o inventário da mal educação atingiu mais de 600 mil toneladas! Ou seja, pela manhã do chamado dia da confraternização universal, o ente público teve que colocar um batalhão de garis para recolher tanta sujeira deixada na praia.

Em Brasília, os condomínios residenciais estão exigindo dos condôminos que façam a separação do seu lixo para permitir a chamada coleta seletiva, o que representará um grande avanço no que concerne à melhoria ambiental. Mas, a idéia encontra resistência de muitos moradores.

A cidade, Capital da República, poderia muito bem contribuir com essa mudança cultural capaz de gerar um novo perfil de morador das urbes, notadamente das médias e grandes cidades, principalmente quando, em várias urbes do mundo, redefinem-se a forma de organização, de gestão, de sustentação, de equilíbrio ambiental e de novas maneiras de relacionamento entre as pessoas.

Isto porque, mesmo sendo Brasília uma cidade estigmatizada por tantos desvios de comportamento das suas elites, apesar disso, já deu uma notável demonstração de educação urbana quando foi pioneira no uso do cinto de segurança, no respeito a faixa de pedestres além de haver criado o saudável hábito de não se fazer uso da nefasta buzina! Até hoje essas conquistas foram mantidas e, quem sabe, pelo jeitão, deverão sê-las, até que novas conquistas venham substitui-las, como ora já está a ocorrer em Bristol, Inglaterra; Tallin, Estônia; Copenhagen, na Dinamarca e Estocolmo, na Suécia!

Em tais cidades, novos conceitos de organização, de gestão, de instrumentos de participação e de subordinação de valores à qualidade de vida dos atuais moradores e o respeito às futuras gerações, estão sendo desenhados novas formas de viver em tais conglomerados urbanos.

Mudam-se desenhos da arquitetura urbana, redefinem-se os canais de tráfego e o uso de meios de locomoção mais ambientalmente adequados, tais como, bicicletas, além de se reestabelecerem-se novos padrões de arquitetura de edificações. Tais conceitos, subordinando-os à racionalização e maior eficiência da economia; à utilização de energia limpa; à reciclagem de materiais, inclusive de água e de energia; ao uso da luminosidade natural e a adoção de energia solar e eólica, estão proporcionando uma verdadeira revolução em todos os princípios e valores relativos à vida nas cidades.

Racionalizar, melhorar a eficiência, respeitar o patrimônio ambiental e cultural, fazer operar a casa e a cidade de maneira mais eficiente possível, reduzindo agressões ao ambiente, as pessoas, a convivência entre grupos, sem preconceitos e restrições de qualquer ordem, parece ser a regra que define todas essas novas intervenções.

Claro que não se espera que do caos que são as cidades brasileiras marche-se, de imediato, para o padrão de vida e de operação dessas cidades que, na verdade, representam os núcleos urbanos com melhor qualidade de vida em todo o universo. Mas, pequenas alterações ou pequenas coisinhas miúdas, como aquelas que Brasilia já conquistou e que o Rio está intentando implementar, podem ser ampliadas e podem ir definindo um novo conceito de qualidade de vida nas cidades brasileiras.

Brasilia que já é, também, a segunda cidade a mais doar órgãos para transplantes no País, representando notável conquista na área da solidariedade humana, também pode ir agregando mais conquistas, não só com coisas tão significativas como a doação de órgãos, mas também com essas ações e gestos pequenininhos, como punir quem joga lixo nas ruas; aplicar penas violentas a quem liga o esgoto privado à rede de águas pluviais; multar quem joga guimbas de cigarro nas ruas; apenar, duramente, quem destrói a iluminação pública, parques, jardins, parada de ônibus, etc; prender e, transformar em crime inafiançável quem rouba cabos de energia elétrica ou de telefonia nas ruas; tornar mais severas as penas para quem depreda serviços públicos essenciais, poderiam ser algumas das ideias a serem postas em prática, na Capital do País.

Sendo a renda per capita mais alta do País, tendo a população com o nível educacional talvez o mais elevado da Nação e, sendo constituída por uma população madura, constituída de muitos aposentados, é inaceitável que a Capital Federal não se transforme em exemplo de educação cívica, ambiental e de vivência comunitária no País.

A cidadania e os exemplos de seu mais puro exercício deveriam prosperar por aqui, em primeiro lugar. E aí, Brasilia poderia aproveitar esse potencial representado pelos seus exuberantes indicadores sociais, excluindo-se aí a questão da violência urbana e, a sua notável e rica infra-estrutura, para, por exemplo, transformar-se no maior centro olímpico do País, como agora está se decidindo a mudar-se para Brasilia, a equipe nacional de saltos ornamentais.

Tornar-se, por exemplo, centro de excelência em uma série de atitudes, uma série de ações na área ambiental, na área do politicamente correto, sem os excessos de zelo e, numa educação e uma medicina curativa de conformidade com o nível de renda de seus habitantes, não seria difícil de conquistar, desde que houvesse uma proposta da sociedade civil para tanto.

Mas, lamentavelmente, nem as coisas mais elementares — qualidade dos serviços públicos oferecidos, segurança e ação organizada da sociedade civil para combater a impunidade e a ineficiência da gestão dos governos — aqui estão a ocorrer.

Apesár disso e de outros males que afligem a antiga capaital da esperança, vale à pena acreditar que, ao agregar gestos pequenos de cidadania e transformá-los em conquista da sociedade, Brasilia possa, pelo exemplo, despertar em outras cidades, esse mesmo espírito! Quem sabe?

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