SCENARIUM

A SUCESSÃO MARCHA!

Para quem acha que o processo sucessório está se desenrolando em um ritmo lento ou dentro daquilo que seria o esperado está bastante equivocado. As articulações, as negociações e as movimentações dos presumidos pré-candidatos ocorrem a todo instante e em todos os pontos do país. 

Até a movimentação de Lula está sendo acompanhada pelos candidatos que querem se beneficiar da sua popularidade, como foi o caso das visitas às obras da Transposição das Águas do Rio São Francisco onde Dilma Roussef e Ciro Gomes dividiam o palanque e, cada um a seu modo, procurava mostrar proximidade com Lula, prestígio junto ao Chefe e, acima de tudo, assumir a paternidade da obra. Ciro, muito mais conhecido dos nordestinos, não só por ser um nordestino do Ceará, embora nascido em São Paulo, ganhava mais exposição e chamava mais atenção de quem acompanhou a visita de Lula ao Nordeste, em função da exposição de mídia fruto de suas duas candidaturas a Presidente e por ter sido o responsável pelo início das obras da Transposição. Ademais, Ciro parece estar sabendo assumir a postura de candidato da continuação e não da continuidade do governo Lula. Ou seja, adotando a posição de quem quer manter o que é bom do governo, corrigir erros e equívocos e melhorar a qualidade da gestão, além de imprimir uma nova dinâmica a conceitos de desenvolvimento com sustentabilidade, com distribuição de renda e com cidadania, Ciro cria, hoje, uma grande “saia justa” para Lula. E esta viagem de visitas a Bahia, Pernambuco e Ceará, em locais estratégicos da revitalização e transposição das águas do São Francisco acabou por favorecer mais a Ciro do que a Dilma.

Por outro lado, como o eleitorado nordestino tem enorme peso em São Paulo, no Rio e em Brasília, Ciro fala mais a alma e ao sentimento nordestino do que Dilma Roussef. E Ciro teve tanta sorte que, quando Aécio Neves se juntou a comitiva, também, mais uma vez, dada a proximidade e a amizade de Ciro com Aécio, Ciro levou vantagem pois que, como se falou muito em Minas, caso Aécio seja o candidato dos tucanos à Presidência, Ciro era visto como o provável candidato a vice do próprio Aécio, então o cearense-paulista ganhou pontos junto à mídia e ao eleitorado.

Dos demais candidatos, Marina faz seu périplo internacional, critica a ação do governo, chama a atenção para o aumento do desmatamento e pede uma atitude mais firme e comprometida do Brasil para com o desmatamento e a emissão de carbono na reunião de Copenhague. Serra tem fugido à discussão da sucessão mostrando-se incomodado mais com a incursão de Ciro em São Paulo e com suas provocações verbais. Na verdade, adotando uma atitude low-profile, fazendo declarações críticas a questões não tão relevantes como, por exemplo, às políticas do governo para reduzir os desequilíbrios regionais. Serra, habilmente, não critica abertamente o Bolsa Família mas se propõe, de maneira bastante cautelosa, torná-la uma espécie de Bolsa Cidadã, qual seja, um caminho para que o cidadão tenha a bolsa como um instrumento de inserção no mercado de trabalho e de crescimento pessoal e profissional.

É possível que a próxima rodada de pesquisas já mostre um Ciro alcançando o patamar de 20% e, cada vez mais, os erros estratégicos do PT, cometidos por declarações de José Dirceu, pelas declarações infelizes de Marta e pelo olhar enviesado de petistas de alta plumagem em relação a Ciro, só faz com que ele cresça na preferência dos insatisfeitos com o PT e daqueles que gostam de seu estilo desabrido e da pesada crítica que ele faz ao chamado PMDB que pratica o chamado pragmatismo cínico.

O que ainda embaraça o itinerário de Ciro é a insistência do Presidente Lula de querer uma eleição plebiscitária, ou seja, o PT contra o PSDB, já que os demais partidos estão vocacionados para o papel de coadjuvantes, parceiros ou aliados no processo. Ademais, Ciro ainda tem, como uma espécie de espada de Dâmocles sobre a sua cabeça, a indefinição de Eduardo Campos, o presidente de seu partido que, em função das pressões do PT Nacional e das composições locais, ainda tende a querer acompanhar o que Lula deseja. Também, Ciro sabe que, se ele tiver a paciência, a ponderação, a temperança e a humildade, nem que seja “industrializada”, para aguentar as várias pressões, provocações e ciclotimias dos processos de adesão de grupos e segmentos de partidos, ele poderá se consolidar como o candidato anti-Serra mais viável.

A mídia tenta minimizar as restrições do PT a Ciro afirmando que a Direção Nacional está a repensar o cearense como alternativa à Dilma já que, até agora, em termos de leveza de candidatura, a mineira-gaúcha está mais para “bode embarcado”.

DILMA É UMA CANDIDATA PESADA

A contratação do estrategista ou do marqueteiro de Obama, Ben Self, para tentar fazer deslanchar a candidatura de Dilma, não pode fazer milagres. Se não houver carisma, proximidade com o eleitor e alguma idéia-força para fundamentar a proposta, não haverá marqueteiro, por mais brilhante que seja, capaz de fazer de Dilma uma candidata viável. Lula, escorregadio, diz que só daqui a seis meses ficará claro se a tese dele de eleição plebiscitária prevaleceu ou não. Até lá, ele vai de Dilma, fazendo comícios, propaganda e palanque eleitoral sem dar bola para a Justiça Eleitoral e, diante de uma oposição desestruturada, desorganizada e atarantada e sem discurso para enfrentar o carisma e o caráter mítico do itinerário de Lula.