Scenarium de 02/10

UNITED STATES OF SOBRAL!

Se os editores da matéria da Revista Veja pretendiam criar embaraços para orgulhosos filhos de Sobral, deram com os burros n’água pois que, ao serem tão superficiais no exame de certas peculiaridades da histórica Vila de Caiçara, permitiram que se divulgasse “esse enclave” estrangeiro no tórrido sertão nordestino.

Toda a “brincadeira” em torno de Sobral, surgiu, em primeiro lugar, pela disputa de prestígio, de nome e de tradições com Fortaleza. Da mesma forma que existia disputa entre Mossoró e Natal, Campina Grande e João Pessoa e Parnaíba e Teresina, ou entre Uberlândia e Uberaba. A tradição das famílias de Sobral era, não só histórico-cultural, diferentemente dos emergentes em Fortaleza, que, até mesmo a Academia Sobralense de Letras é de criação anterior a do Ceará. E a tendência de um distanciamento cultural se fazia mais ainda por ser Sobral um entreposto comercial para todo o norte do país como as dificuldades de acesso à cidade exigiam que ela buscasse vida própria. Tanto na cultura, na política como na economia, a cidade buscava instrumentos de autonomia para o seu hoje e amanhã.

Quanto às bobagens sobre o Arco do Triunfo é mister lembrar aos editores que o arco do triunfo não foi um criação napoleônica e já há registros – vide Roma – dos arcos para imortalizar Augusto, Constantino e outros imperadores romanos. Da mesma maneira alguém poderia dizer que o Rio de Janeiro quis imitar Paris quando ergueu o Teatro Municipal que, para alguns, é uma cópia do L’Opera de Paris. E que tal visitar a réplica perfeita da estátua da Liberdade, na Barra?

Portanto, quando se fala no Acaraú como um Rio Hudson, é brincadeira que não deve irritar os sobralenses nem tampouco que os sobralenses não abrem mão de ter os seus Alpes na famosa Serra da Meruoca. Aliás, por ser uma sociedade com fortes raízes histórico-culturais, de famílias tradicionais que faziam, periodicamente, suas viagens a Paris e casavam suas filhas com vestidos com rendas trazida de Bruges, na Bélgica, era natural que buscassem hábitos ou comportamentos parecidos com o que faziam ou diziam os franceses. O que hoje se chama de grife nada mais é o que se chamaria de plágio no passado.

Portanto, a terra onde Einstein provou a sua teoria da relatividade – vide documento no quarto andar do Hotel Glória escrito, de próprio punho, por Einstein! – é marcada por talentos nas letras – Domingos Olímpio -, nas artes cênicas – Emiliano Queiroz -, no humorismo – Renato Aragão, – na música – Belchior -, na política antiga – Chico Monte, José Sabóia, Plínio Pompeu -, na política recente com os irmãos Ciro e Cid Gomes e em tantos outros campos do conhecimento, que, pelo seu atual desenvolvimento, merece ser visitada para que se conheça, de perto, essa cidade tão peculiar e que, ao longo dos seus quase trezentos anos de história, foi recolhendo traços culturais os mais variados, globalizando-se no decorrer de sua própria construção.

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AMARGO REGRESSO?

Pelo que ocorre em Honduras e diante de alguns líderes populistas à frente de governos da América do Sul e Central, há um temor generalizado de que a região volte a viver anos de chumbo com a presença de inúmeros governos autoritários. O golpismo não foi, de todo, afastado na área. O que ocorreu na Venezuela, onde Chavez conseguiu definir-se como Presidente Perpétuo do País, através de manobras político-institucionais, levou a que vários outros países pretendessem adotar, no mínimo, a idéia de um terceiro mandato.

Portanto, o temor procede, mas existem dois elementos que impedem que o golpismo se alastre. Em primeiro lugar tem sido a atitude e a postura do Brasil que não apoiou o golpe em Honduras, impediu o movimento secessionista na Bolívia, a tentativa americana de intervir na Bolívia e “segurou as pontas” do mandato do ex-bispo Fernando Lugo, no Paraguai. Por outro lado, os Estados Unidos, vivendo outros tempos, em parte, aboliu a famosa política do “Big Stick” e busca parceiros, como o Brasil, nos vários continentes para conter abusos e tentativas de quebra do estado democrático de direito.

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CHINA: O IMPÉRIO DO CENTRO

A China comemora os sessenta anos da sua efetiva independência e libertação quando, em 1949, o Comandante Mao Tse Tung, assumiu o comando do país. As transformações foram enormes e as dificuldades imensas. Muitos transtornos, desastres e vidas dissipadas na tentativa de construção de uma nação. A Mao se deve a unidade territorial, a implantação de um idioma oficial, o resgate da auto-estima dos chineses, além de outras conquistas.

Com a morte de Mao, um grupo de políticos do PC chinês, sob a orientação e liderança de um  homem, que se criou e se fez na política inspirado nas lições do mestre Chou-en-Lai, um dos homens fortes de Mao, mas de visão mais aberta e universal, Deng Xiao Ping, começou o processo de modernização do país. A filosofia básica de Deng estava definida por uma frase singular mas de muita densidade: um centro e dois pontos. O centro seria a reestruturação econômica, apoiada em dois pontos: reforma e abertura. E, a forma como seria conquistada tal reestruturação econômica que permitiria o vigoroso crescimento do País, seria a combinação de controle político pelo partido e abertura econômica do País para o forte ingresso de capitais externos. Tal equilíbrio, muitas vezes instável, vem sendo objeto de revisões periódicas para que não se perca o controle da sociedade e se consiga definir um planejamento estratégico para o País.

Por outro lado, quando Deng foi questionado se a proposta de abertura econômica não levaria à destruição do socialismo e do fim dos ideais de Mao, Deng dizia que o grande problema era garantir comida, casa e trabalho para uma população de um bilhão e meio de pessoas. E, chamar a sua proposta de capitalismo de estado ou outra coisa qualquer, ele apenas usou uma metáfora que dizia tudo dos seus propósitos: “não importa a cor do gato, o que interessa é que ele cace ratos”.

A própria estratégia de abertura e modernização da economia começou pelas províncias localizadas próximo ao Mar Amarelo e, apoiada numa abertura econômica no campo onde parte da produção dos agricultores já poderia ser comercializada por eles mesmos. Ademais, o processo de modernização industrial far-se-ia pela abertura de seu capital, já que eram todas estatais, e por contratos de gestão a partir de resultados a serem alcançados.

No mais, só mesmo uma análise mais profunda das mudanças institucionais que foram sendo aprovadas nos vários congressos do PC, ao lado da maior abertura externa e integração econômica internacional, fizeram, ao lado da capacidade de poupança do povo chinês – 40% de sua renda – e da descoberta dos investidores internacionais de sua mão obra altamente competitiva e de seu enorme e dinâmico mercado interno, o fenômeno de crescimento que o mundo observa com espanto. Aliás, mesmo tendo que fazer os ajustes diante da crise mundial recente, a economia chinesa deve crescer 8% este ano e fechar o exercício com reservas que vão além dos 2 trilhões de dólares!

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TEMPORADA DE CAÇA, ENCERRADA!

Neste sábado, encerra-se o prazo de filiação partidária e de mudança de domicílio eleitoral para quem pretender ser candidato a alguma coisa em 2010. O pleito dar-se-á com os mesmos vícios e defeitos, sem a transparência e legitimidade desejadas pelo eleitorado e, praticamente, com os mesmos players. Talvez o que venha a mudar seja o fato de, em não ocorrer uma eleição plebiscitária a nível nacional, a temática será mais palatável. Ou seja, discutir-se-á sustentabilidade, desenvolvimento com redução de desigualdade, menor presença do estado e reformas institucionais. E aí, é bem provável, que as idéias sejam mais favorecidas do que a verborragia inconseqüente dos candidatos.

5 Comentários em “Scenarium de 02/10

  1. ….minha familia Rocha Aguiar é de Sobral…sempre achei peculiar essas questões culturais…..heheh

  2. Hudson,

    Concordo plenamente com você. Sobral é isso aí mesmo com suas indiosincrasias, peculiaridades e características singularidades. Quem não conheceu o cemitério dos ricos e o cemitério dos pobres? O Pálace Clube e o clube dos trinta? Creio que a matéria criou a chance de muita gente querer conhecer de perto tais peculiaridades,

  3. Existe uma frase se não me engano do Woody Allen, Na California reciclam o lixo em televisão.
    No Brasil fazem isso, mas com revistas

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  5. Camarada,

    Infelizmente, o povo de Sobral, ou melhor, boa parte do povo daqui não teve a sua lucidez de perceber a matéria por esse viés!
    Até querem promover uma queima de revistas Veja no Beco do Cotovelo, bem ao estilo da Inquisição ou da Revolução Cultural que o Mao Tse Tung promoveu lá na China.
    Eu particularmente achei que a matéria não falou mal dos irmãos Ferreira Gomes, que a matéria não falou mal da cidade, mas sim falou de peculiaridades desta terra.
    Não sou de Sobral. Fui adotado por essa terra em 1994. E me sinto muito bem sendo um filho adotivo dessa cidade. Sempre percebi esses estrangeirismos… E sempre me diverti muito com isso! Não vejo isso como uma coisa ruim. É uma característica do local, é cultural!!!
    Infelizmente, há muita gente afetadinha que vê uma matéria dessa como algo ruim que veio para denegrir a imagem da cidade.
    Ora ora ora… Pelo que li, 90% do foi dito é um retrato fidelíssimo de Sobral. E quem disse que D. José não mandava e desmandava na cidade?! E quem disse que os School Buses não vieram dos EUA?! E outras coisas mais…
    Bom, mas aquela fala do Arnoud de comparar a Boulevard do Arco com a Champs Elisers de Paris… Me perdoe, foi triste!!!! Comparar os elegantes cafés da cidade luz, com o Badakal e o Flana’s… É querer demais!!!! 😉
    No mais, a matéria mostra Sobral como ela é. Muitas vezes não queremos ser vistos como nós somos e sim como idealizamos.