Scenarium de 12/08

  • Senado: a crise é grande e séria.
  • Marina e Ciro

Senado: a crise é grande e séria.

Sem buscar ser catastrofista ou profeta do Apocalipse, este Scenarium acha que a crise no Senado é mais séria do que se imaginava.

O que ocorre no Senado e o que se pretende de desdobramento naquela Casa, conduz a um desânimo e a certeza de que os problemas éticos e morais dos partidos são endêmicos.

Na verdade, após a lavagem de roupa suja, com agressões, ameaças, denúncias, impropérios e insinuações de toda a ordem, agora a Casa se prepara para buscar uma pacificação em nome da governabilidade, da manutenção da instituição e do seu papel no processo de transformação do país.

Ora, parece que se reproduz lá o que se imaginava que iria ocorrer. Já que todos têm “culpa no cartório”, é hora de “passar a régua”, esquecer as ofensas, guardas as mágoas, deixar o dito pelo não dito e não fazer mais a festa da mídia. É hora de voltar ao trabalho.

A mídia deve iniciar um novo espetáculo, deixando um pouco a classe política de lado engalfinhando-se em acirra disputa por índices de audiência e, consequentemente, por resultados comerciais, contrapôs a toda poderosa Rede Globo contra a crescente Rede Record. Alimentada na sua agressividade comercial e de expansão, segundo o Editorial do Jornal Nacional, “vendendo lotes no céu”, através da coleta de dízimos que não eram aplicados na área social, mas sim financiando a expansão do império do Bispo Edir Macedo. A coisa pode vir a feder, pois a briga com a Universal – que o diga a Folha! – envolve ares de guerrilha com a participação dos fiéis da Igreja. E, a desmoralização do Bispo no Jornal Nacional foi completa, total e destemida.

Adicione-se ao caldo de cultura da crise nacional o desinteresse, o descaso e a indiferença de uma geração que não se dá conta do que estão a fazer as elites dirigentes com o seu patrimônio físico, ambiental, moral e político.

Finalmente, às vésperas de um novo pleito eleitoral, o país não dispõe de uma visão estratégica para o amanhã, não prepara as bases para a sua transformação e deixar escapar, por entre os dedos, a notável oportunidade que se lhe apresenta o momento internacional.

Agora mesmo os analistas internacionais quando falam de países emergentes excluem a própria Rússia pela combinação de precários fundamentos econômicos; pela fragilidade das suas instituições; pela corrupção endêmica e, neste caso, igual ao Brasil, sem uma visão do que seria o futuro.

Como para o “navegante que não sabe para onde vai não interessa a direção do vento”, a mediocridade, o descompromisso, a irresponsabilidade, em especial das classes dirigentes do país, sequer buscam preparar as instituições, ou melhor, o aparelho estatal, para o enfrentamento dos novos tempos como ocorreu nos anos 30 e nos anos 60. Naquela oportunidade, um estado envelhecido foi totalmente reestruturado e adequado às exigências da transformações econômicas que o novo mundo demandava. E aí fez-se a modernização econômica brasileira do período Vargas e o “milagre econômico” dos anos 70.

O que se pode concluir é que a sociedade civil brasileira perdeu a capacidade de se indignar e que está a fugir de suas responsabilidades diante de tudo que ocorre no país!

Marina e Ciro

Marina Silva e Ciro Gomes têm algumas coisas em comum. Têm um potencial significativo de votos para disputar a Presidência da República e não têm para onde ir. Se repetir como Senadora, Marina não quer e talvez os seus camaradas petistas não deixem. Portanto, pela sua biografia, pela fortaleza de suas convicções e pela coragem moral além de contar com a única bandeira – se levada por mãos corretas como as dela – poderá empolgar o eleitorado jovem e o eleitorado sério e indignado do país, ela pode ser um fato realmente novo no cenário político nacional.

Ciro Gomes, já bem mais conhecido dos brasileiros de outros Carnavais, de boa oratória e de uma agressividade incomum e não tendo para onde ir – só pode ser candidato à reeleição no Ceará e sabendo que Lula está a jogar com ele quando diz que pode apoiar a sua eleição para Governador de São Paulo – é sabedor de que não conta, até agora, sequer com o apoio de seu partido para disputar a Presidência. Mas, por outro lado, o seu partido sabe que com os seus 15% de preferência do eleitorado nacional, Ciro é elemento crucial para fazer o PSB ganhar musculatura eleitoral elegendo governadores e parlamentares. E tal capital o seu partido não pode desperdiçar.

Nesse jogo, César Maia ao dizer que Ciro teria a maioria do apoio dos cariocas para ser seu governador, segundo pesquisa dele próprio, não se sabe se faz o jogo de Serra para tirá-lo de São Paulo ou se faz um jogo que lhe interessa, pessoalmente, para não deixar de ser partícipe efetivo do jogo político nacional.

Porém é bom ficar atento ao fato de que a entrada de Marina Silva na disputa sucessória de Lula enfraquece Dilma, tira votos de Serra, de Ciro e, talvez, até mesmo de Aécio.

No entanto, no balanço final, pelo menos o que se antevê agora é que talvez o grande ganhador dessa mexida no xadrez político seja Aécio Neves, pois fragiliza Dilma, desestimula Serra e, ainda por cima, sabe que contaria com Ciro para ser seu vice. Quem viver verá!