SE CORRER O BICHO PEGA, SE FICAR O BICHO …

 

Está deveras difícil fazer análises, desenvolver raciocínios, estabelecer cenários e intentar descortinar o que pode estar por vir. Não é pessimismo exacerbado ou aquilo que o jogo de poder estimula que é apostar no pior ou  por divergências de doutrinas, ideologias ou por diferentes perspectivas políticas. O problema é que o quadro ficou tão confuso e o emaranhado de problemas, tão grande, que todos estão a pedir respostas imediatas. Ficou tão grande a crise  e a incompetência para administrá-los ficou tão patente quando se observa que os problemas e as dificuldades estão acima  do talento, da habilidade e da competência das instituições e das lideranças nacionais.

Os desafios são enormes e urgentes. E, o que se abate sobre o País não é apenas uma severa crise econômica que, dificilmente, diferentemente do que diz a Presidente, não deriva apenas de problemas internacionais –a queda dos preços das commodities, o arrefecimento da demanda chinesa, a lentíssima recuperação dos nossos parceiros da zona do euro e a ainda não tão firme e segura, retomada do crescimento americano — mas e, principalmente, de uma série de erros, desacertos e equívocos que vem ocorrendo desde, pelo menos, 2010 até os dias atuais.

Nunca uma política econômica foi tão controversa para a maioria dos analistas!

No entanto, além da crise que se abate sobre a economia e que está a exigir um duro ajuste fiscal, com sérios efeitos colaterais, às vezes, penosos para a população — crescimento negativo, aumento da inflação e do custo de vida, perda do poder de compra dos salários, desemprego, fechamento de empresas, entre outros — o processo político enfrenta um dos seus piores momentos.

Partidos em demasia,  coligações proporcionais à descaracterizar o direcionamento das escolhas; legislação eleitoral vencida no tempo e não mais adequada às novas circunstâncias e exigências de legitimidade do processo de escolha pelo eleitorado, são parte do quadro tão confuso.

Além de tais aspectos, o processo de governabilidade por parte do Executivo, mostra-se como que, inviabilizado,  pela dificuldade de estruturar uma adequada e estável coalizão partidária ou pelas limitações do Poder Central de compor, de transigir, de negociar e de encontrar as necessárias soluções de compromisso que as situações exigem!

E, o custo disso é um triste, penoso e caro processo de “dá cá, toma lá” que conduz ao desvirtuamento de funções, princípios e valores da gestão pública, levando ao aparelhamento do estado, a multiplicação de cargos e funções e, até de ministérios que, de há muito, passaram dos limites do controlável e do aceitável.

Mas, pior que tudo isto, é a crise de confiança, de credibilidade e de respeito, junto à população, que hoje gozam as nossas instituições como um todo o que impede, inclusive, que se busquem soluções de compromisso capazes de responder aos graves desafios que o País enfrenta. Ou seja, difícil será a tentativa de construir uma proposta de um grande pacto nacional que passe, não apenas pelo adequado, urgente e necessário ajuste fiscal mas que também inclua a correção de erros e equívocos relacionados às políticas públicas que geraram e ainda estão a gerar distorções de toda ordem.

Distorções não só na concessão de benefícios, de renúncias fiscais, de favores sociais imerecidos e não condizentes com os limites de gastos orçamentários bem como inadequadas políticas microeconômicas que hoje estão sendo questionadas até mesmo pelo senso comum, fazem parte desse legado triste deixado até agora, por Dilma.

Diante disso pouco se pode antever do quadro que se desenhará a partir agora. Não se sabe como a classe política se comportará e se colocará em relação ao ajuste fiscal e nem como a Presidente Dilma agirá para responder os questionamentos do Parlamento, do empresariado, da classe trabalhadora e nem diante da voz rouca das ruas.

O certo é que, por mais que os analistas de conjuntura se debrucem sobre o quadro atual, até agora não se vislumbra uma luz no fim do túnel. É triste mas é mais que verdadeiro!

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