TÁ TUDO DOMINADO!

Vive-se um momento deveras delicado neste País. Repassando o que se construiu e o que ora se desconstrói, parece que a tendência é um desmoronamento de uma estrutura que, depois de anos de incertezas, incompetências e erros de toda ordem, estabeleceu-se, na sociedade, em bases de pilares que se imaginava fossem sólidos e definitivos e destinados a construir o hoje o amanhã do Brasil.

Quem viveu as décadas de 60, de 70 e de oitenta imaginou que as conquistas que começaram a ser alcançadas, com muito sacrifício, desde o início da Nova República passando pela construção do plano de estabilização econômica de 1994, começou a acreditar que uma nova era estava surgindo para o Brasil.

E tudo foi muito bem até o último ano do governo Lula, mesmo com os erros e desacertos conteúdos no “overdose alô”, os resultados alcançados eram invejados por países como um tido, máxime os chamados emergentes!

Mas, a partir de 2010 o que se constata é que há, como que, um processo endêmico de destruição do que se plantou de bom nos anos anteriores a Dilma, em termos de instituições, de fundamentos da economia, de melhoria dos indicadores sociais, bem como da elevação da auto-estima dos brasileiros e do respeito que se adquiriu, internacionalmente!

De “queridinho dos investidores internacionais” e de “bola da vez”, o Brasil, agora, entre os emergentes, é o penúltimo país entre os menos confiáveis e, de perspectivas as menos promissoras, só ficando à frente da Turquia. Além das avaliações pessimistas das agências de risco internacionais, o recente relatório do Banco Central americano, quando discorre sobre as perspectivas da economia brasileira, é duro e impiedoso. Tanto é que mereceu, não só reparos muito sérios mas, até mesmo, duras criticas das autoridades econômicas brasileiras.

A situação do Brasil se complica mais e mais, do ponto de vista econômico, na proporção em que se avalia o desempenho e o futuro dos países em seu entorno, particularmente Argentina e Venezuela, os quais experimentam uma crise que não se sabe onde vai desaguar. E tal crise tem efeitos deveras perversos sobre o Brasil, notadamente o que ocorre e vai ocorrer, certamente, com a Argentina.

Por outro lado, a China, apresentando um crescimento menor, comprando menos “commodities” e investindo menos nos países emergentes, amplia o quadro de limitações e dificuldades. E, se se agregar também, os prognósticos de expansão das economias dos EUA e do Reino Unido que, agora, deverão crescer a 2,8% e 2,4%, respectivamente, então potencializam-se os efeitos adversos vindos da economia internacional sobre o Brasil. Aliás, antes o que poderia representar um alento para os negócios do País, no caso a expansão de tais economias, agora tende a limitar as possibilidades de atração e de ingresso de recursos externos para financiar os investimentos em países como o Brasil.

Portanto, conclui-se que, na quadra em que vive a economia mundial e o Brasil, a recuperação do Primeiro Mundo, assim chamado, tenderá a comprometer, seriamente, não apenas o equilíbrio das contas externas nacionais mas, com certeza, o investimento no País, máxime aquele financiado com recursos externos.

Por outro lado, os dados relacionados aos fundamentos da economia não são nada estimulantes no sentido de acreditar que o compromisso assumido por Dilma em Davos e, o anúncio feita pela Presidente, aqui no Brasil, de que iria cortar 30 bilhões do orçamento, talvez “já tenha feito água”. Isto porque o Governo Federal está alardeando a disposição de garantir 9 bilhões de auxílio às empresas de geração de energia, face a crise do setor que ora já se experimenta.

A situação do governo se agrava quando, no plano político-institucional, a crise na sua própria base de sustentação parlamentar, é denunciada pelo próprio Vice-Presidente da Câmara dos Deputados, o petista André Vargas quando atribui “a inabilidade do núcleo de articulação política do governo” a responsabilidade pelos problemas, principalmente, com o PMDB, o principal aliado de Dilma.

Se as coisas não vão bem no Congresso, nos estados, os problemas tendem a se agravar, na proporção em que a montagem dos palanques para atender a reeleição de Dilma, tem gerado atritos e divergências que tendem a se agravar com o correr do tempo.

Ainda nas relações do governo com a sociedade, além dos desgastes que as manifestações de rua estão trazendo para os governos como um todo — federal, estadual e municipal –, porquanto deixaram de ser exteriorização de sentimentos de insatisfação para com as políticas públicas, por parte da sociedade e, se transformaram em atos de vandalismo, depredações e violência, por grupos minoritários, então a situação tende a se complicar, ainda mais, para o governo.

Até mesmo o “até agora” leal MST, se mostra insatisfeito com Dilma, quando o seu próprio líder maior, João Pedro Stédile, diz, em alto e bom som, que “há muitos membros do movimento simpatizando com a proposta (que proposta?) de Eduardo Campos”, abandonando, portanto, o estrato que se diz leal a Dilma.

Por outro lado, o próprio Lula adverte que o agronegócio está muito insatisfeito com a falta de apoio e atenção do poder central. Mesmo com a promessa do governo de assistir e amparar o setor elétrico, embora adotando uma equivocada estratégia de, não sacrificando prédios, entes públicos e segmentos de mais alta renda, impor carga maior de um possível racionamento, às classes mais baixas, aumenta ainda mais o descrédito do Governo.

Aliás, isto já estar a acontecer quando os apagões são muito mais frequentes nos aglomerados urbanos da baixa renda, até por estratégia das empresas de resguardar as áreas onde as receitas por domicílio são bem mais elevadas e o poder de vocalizar insatisfações é muito limitado!

E, aí, o discurso de Dilma, que dizia ter sido ela quem teria organizado o setor elétrico do país e, com isso, se credenciava a se caracterizar como uma excelente gerente, esbarra nesses apagões. Além disso, para completar o caldo de cultura da crise latente, em todos os segmentos da sociedade, os problemas
de violência disseminadas pelo Brasil afora; a falta d’água para beber no Nodeste, a precariedade da defesa civil nas regiões Sul e Sudeste e a incapacidade da Presidente segurar, até mesmo, a sua bandeira do “Mais Médicos”, são ingredientes de conteúdo altamente desgastaste para Dilma.

É difícil imaginar uma quadra tão perversa como a que vive o País, agora. Desacreditado lá fora, acumulando insatisfações de toda ordem aqui dentro, tanto de uma indústria em crise, de um agronegócio que se sente discriminado pelos gestores públicos e de uma classe média que se sente acuada com tantos problemas e dificuldades, o governo não encontra apoio, até mesmo nessa classe média que ele ajudou a construir.

A inflação continua perturbando o poder de compra das populações, o crescimento é pífio, as contas externas estão desorganizada e, inexistindo um projeto para o Brasil, não há em que se agarrar para que se crie esperança consequente para o País.

É, está tudo dominado pela crise, pela esperteza e pela falta de qualquer ética de compromisso e de responsabilidade por parte do governo, dos políticos e das elites nacionais.

Ademais, diante da falta de um projeto para o Pais, à pena repetir o que dizia o velho Seneca, no que respeita a que amanhã está sendo conduzido o Brasil: “Ao navegante que não sabe para onde vai, não interessa a direção do vento”. Ou seja, sem projeto de país, falta um azimuth, uma diretriz, um caminho, um itinerário a seguir!

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