TRISTE DO PODER QUE NÃO PODE!
A decisão da Câmara dos Deputados de rejeitar o pedido de autorização, formulada pela Procuradoria da República, para processar o Presidente da República, bem demonstra ou caracteriza que as oposições mostraram-se extremamente divididas e sem liderança para definir o que queriam como as acusações eram frágeis e mal formuladas. Ademais, Temer mostrou uma enorme capacidade de avaliar a condição humana, notadamente aqueles que o cercam, como adversários, correligionários, aliados circunstanciais ou aqueles que tem interesses envolvidos junto ao poder.
Essa atitude demonstra que, ao longo de todos esses anos esse quase imigrante árabe, desenvolveu uma enorme capacidade de domar as próprias emoções, viver as vicissitudes de quem nunca contou muito com os apoios fáceis e, no mais das vezes, teve que buscá-los via negociação e que soube superar os obstáculos discutindo, transigindo, fazendo concessões, negociando idéias e valores e, com muita habilidade, fidalguia e frieza, conquistando os ansiados espaços de poder.
O imigrante libanês escolheu a carreira onde as suas habilidades seriam melhor aplicadas, que foi o Direito. Fez carreira como procurador e, com habilidade e a chamada falsa humildade dos diplomatas, soube navegar por mares muitas vezes revolto. Com uma razoável cultura humanística, transitou bem onde passava e, adestrou o seu talento ao se transformar em professor de Direito Constitucional. Publicou livros referenciados nos cursos de Direito mas o seu projeto de vida nunca foi alcançar as glórias da academia nem o aplauso restrito dos escritores.
As ambições do imigrante iam muito “além da Taprobana”. O poder, com a sempre disfarçada e costumeira demonstração que o seu propósito era servir, foi logo visto pelos donos do poder de então, como um quadro a serví-los na área em que dominava e já adquirira respeito e credibilidade. Logo se tornou Procurador do Estado e Secretário de Justiça e depois secretário de seguranca pública de Säo Paulo. Ali pode demonstrar toda a sua capacidade para enfrentar situações difíceis e embaraçosas, Michel esteve, por exemplo, no centro do pavoroso episódio do Carandiru, embora tenha assumido o posto cinco dias após a tragédia e, pasmem, saiu sem mancha e sem mácula!
Em breve foi visto como alguém que poderia assumir um mandato de deputado federal pelas suas competências e habilidades. Como, a demonstrar os dias que correm, nunca conseguiu ser um líder popular pois sem carisma, incapaz de sensibilizar, eletrizar e mobilizar multidões, nunca teve prestígio popular. Suas eleições eram sofridas e difíceis. Mas quando chegava no cenário político de convivência com as alternativas de poder, logo e logo mostrava a sua competência em avaliar quadros, pessoas, aliados e adversários e saber estabelecer uma forma de convivência onde os seus objetivos seriam alcançados.
Nunca avançou ou subtraiu direitos, poder ou espaço dos outros a não ser pela conquista hábil, limpa e justa das posições que alcançou. Na Câmara, foi oito anos Líder do PMDB, o maior partido do País. Foi Presidente da Câmara por três vezes e presidente nacional do PMDB desde 2002 até recentemente. A sua marca sempre foi a negociação, a conciliação, o entendimento e a maneira lhana e cavalheiresca a tratar a todos e a prestigiar os correligionários.
É difícil apanhar Temer num mal feito. Discreto, monossilábico quando as interpretações ou manifestações ou declarações podem comprometê-lo, nunca esteve a frente de qualquer empreitada com o objetivo exclusivo de fazer dinheiro. O dinheiro buscado era só aquele necessário para alcançar o poder. Empoderava os amigos e correligionários para que eles o apoiassem e financiassem, mas, dificilmente, encontrar-se-à prova material clara e explícita de que se apropriou, indevidamente, de meios e valores.
A sua notável frieza e o ar às vezes o ar enigmático que o fazia visto por adversários como ACM, como um “mordomo de filme de terror”, fez dele um homem incapaz de mostrar ressentimentos e rancores mas capaz de, com habilidade e a elegância que lhe é peculiar, dar o troco no momento oportuno aos que lhe intentaram barrar os seus caminhos. Conhecedor profundo da condição humana, sabe interpretar as suas aspirações, desejos e vontades e, na medida do necessário e oportuno, dar-lhes a satisfação devida.
No próprio governo, com o propósito de dispor da melhor equipe econômica que o país já tenha conhecido na sua história republicana, apressou-se em dar a todos, todos os graus de liberdade à sua condução, de forma a que intervenções indevidas ou politicamente incorretas, não atrapalhassem a implantação de reformas e a implementação de mudanças. E isto tem garantido os êxitos já alcançados pelo grupo. Embora não interfira, ele tem feito a sua equipe entender que, as vezes, algumas concessões tem que ser feitas para que a política favoreça as mudanças institucionais necessárias. Basta ver o que foi feito para conquistar os votos da bancada ruralista e a liberação de um volume apreciável de recursos das emendas parlamentares.
Uma vantagem com que conta Michel é que, ao longo desses anos ele construiu uma notável “network” capaz de lhe aportar as contribuições e os apoios por ele buscados notadamente diante dos desafios que tem enfrentados. Como jurista, não conta com a simpatia dos juristas ditos de esquerda ou pretensamente de esquerda, mas se cerca daqueles que têm uma formação e um conceito profissional e ético inquestionáveis e, com eles vai construindo as suas estratégias de sobrevivência.
Mas, ninguém tenha dúvida que Michel com habilidade, jeito e capacidade de negociar e de convencer, faz prevalecer aquilo que os nordestinas teimam em afirmar que, para ter poder é preciso não apenas saber conquistá-lo mas saber mantê-lo fazendo uso de todos os seus mecanismos, no momento oportuno. Assim, vale para Temer a frase nordestina de “triste é o poder que não pode”.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!