UM DIA DE CÃO!

Você pode imaginar um dia que, parece, que tudo vai dar errado? E, lamentavelmente, tudo acaba dando errado? Essa foi uma terça-feira que se roga aos céus que não mais venha a se repetir pois que, na tal madrugada, onde nunca se esperava que ocorresse algo de errado, abateu-se sobre o Brasil e o mundo dos esportes, a tragédia com o time da Chapecoense. Ceifaram-se 71 vidas, destruindo sonhos, matando esperanças e plantando a desolação e o desespero nas famílias daquele município do interior de Santa Catarina! Mas essa dor que não quer passar, deixa na orfandade, não apenas os filhos dos vitimados,  mas uma plêiade de amantes do esporte, no Brasil e no mundo.

Se tal trapaça da sorte não fosse suficiente para mexer com nervos, emoções e sentimentos dos brasileiros, já tão marcados por uma crise econômica que lhes tirou emprego, parte da renda e a tranquilidade do dia a dia, além de todos os desencontros políticos e abalos nos valores ético-morais, na calada da noite, a Câmara dos Deputados, sem ter noção correta do que votava, ao promover uma violência pela desfiguração da proposta original de combate à corrupção,  oriunda dos procuradores de Santa Catarina, respaldado por dois milhões de assinatura de brasileiros espalhados por todo o Pais,  provocou uma indignação geral no País. Além de uma atitude vista como  de defesa e de auto-preservação dos políticos denunciados, o comportamento dos parlamentares foi estimulada por uma esquerda ressentida e desejosa de uma retaliação contra o Ministério Público e o Judiciário,  como um todo.

Mas, como se viu, a atitude dos deputados acabou desfigurando a proposta inicial por várias razões. A primeira delas  é que ninguém, em sã consciência, na Câmara e, na própria mídia, tinha noção precisa do teor das medidas, nem do seu alcance  e nem das suas implicações. Por outro lado, a presunção e a arrogância da meninada de Curitiba, ao buscar o confronto e ameaçar o Congresso com a retaliação de renunciar ao trabalho da Lava-Jato, esqueceu que esse não é o caminho para fazer ganhos na mudança de comportamento da sociedade.

Deixaram de considerar várias coisas. Em primeiro lugar,  que o ótimo é inimigo do bom e, o mais importante, deveria a República de Curitiba ter mirado no que era mais relevante na proposta e tentar buscar a aprovação de  algumas das providências  sugeridas e menos polêmicas. E, o mais relevante e, o mais importante, que deveria ter mobilizado o esforço dos procuradores  no sentido de impedir esse verdadeiro AI-5 contra a Lava-Jato que foi o estabelecimento de punição, por abuso de autoridade, a membros do Ministerio Público, da Magistratura  e da Polícia Federal, garroteando assim o exercício das atribuições do Judiciário.

Para alguns analistas a atitude do representantes do Minstério Público mostrou, até mesmo, uma espécie de ingenuidade, não apenas por esquecer que tudo ainda é uma proposta que ainda vai ser examinada pelo Senado e sujeita a mudanças. Aliás, o inflamado discurso do Lider do Governo no Senado, Senador Aloisio Nunes Ferreira, declarando, publicamente que nao aceita o cerceamento do MP e do Judiciário, aliada a votação contra a urgência proposta de exame da matéria, de imediato, derrotada por 44 a 15 votos dos senadores, mostra a sintonia dos senadores com as expectativas da sociedade. Aliás, sente-se no ambiente do Senado que é possível que, o sentimento dos membros da Camara Baixa do País pode até levar a se propor que se volte ou se retorne a proposta inicial apresentada à Câmara e, pode até ocorrer aquilo que mencionou o Senador Randolphe Rodrigues — registrado em entrevista — que a decisão do Senado pode, até mesmo, levar a retomada  da proposta inicial que foi apresentada pelos procuradores.

Faltou aos procuradores entenderem que, acima das pessoas, estão as instituições. E, mesmo que a Câmara e o Senado frustrem as suas expectativas, ainda deveriam ter lembrado de que ainda haveria  a esperança  no poder de veto de Temer, procurador de origem e com  compromissos históricos com a categoria.

Outra coisa que os jovens procuradores deveriam considerar era de que de nada adianta ameaçar a quem quer que seja, com a renúncia coletiva relativa a sua reponsabilidade com a Lava-Jato pois, segundo alguns juristas, eles não poderiam fazer uso de uma prerrogativa que não têm. Assim não adiantaria em nada tentar questionar, execrar e  jogar a sociedade contra o Congresso, pois isto não leva a nada  e só vai entornar mais o caldo.

Também, é fundamental considerar quão prejudicial e nefasto para o Pais é  a queda de braço entre os poderes da República. Isto que já se estabeleceu na forma de confronto, já algum tempo e que, a cada dia, surgem novas medidas de retaliação de parte a parte, não contribui para o ewuacionamento dos problemas do Brasil. E tal não é nada bom para a superação dos problemas nacionais, para a mediação dos conflitos de interesse entre grupos sociais e para a busca de soluções de compromisso para um  pais hoje tonto e confuso.  Confuso não só quanto a sua visão dos problemas e o seu “mood” para aceitar sacrifícios e para acreditar nas possibilidades de mudanças efetivas nas perspectivas econômicas e sociais do Pais, mas, até mesmo, para ficar demonstrado que esse comportamento de ambos os poderes só tende a tornar mais difícil o encaminhamento das soluções para os urgentes problemas nacionais.

Se não bastasse todo esse traumático e sério “affair”, no campo econômico, as notícias não são nada agradáveis porquanto o PIB caiu 0,8% no trimestre e, no ano, a queda já é de 4%, sendo que este é o 10o. trimestre em que ocorre a queda na produção e na renda nacional. E o mais grave é que o encolhimento da renda do país foi acompanhado pelo um alto desemprego que já afeta mais de 12 milhões de brasileiros e ainda não dá sinais de arrefecimento.

Assim, a coisa está mais complicada do que se podia imaginar. Um Congresso quase todo denunciado e com processos de investigação  em curso. Um Judiciário avassalador na ocupação de espaços, gerando insatisfação do Legislativo que se sente prejudicado nas suas atribuições e uma mídia que cada dia se sente estimulada a colocar mais lenha na fogueira, são elementos que tumultuam mais o processo. Afora isto, uma população em baixa astral e sem ânimo para acreditar no amanhã, tornam as coisas mais pessimistas.

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