UM PAÍS ONDE A CONTRADIÇÃO É A EXPLICAÇÃO!
Os dados econômicos recentes mostram uma pequena melhora nas perspectivas dos principais indicadores. No capítulo social, as informações sobre a mortalidade infantil e sobre o crescimento do emprego e da renda da população negra, são alvissareiras porquanto, nos últimos dez anos, até mesmo quanto ao empreendedorismo, os negócios criados por negros aumentaram de 29%, enquanto os criados pela população branca, só alcançaram uma expansão de 1%. A taxa de desocupação dos negros caiu de 7,5% para 5,2% enquanto a da população branca caiu de 5,7 para 4,1%!
Tais dados estão permitindo uma recuperação nos índices de aprovação de Dilma Rousseff, mostrando, mais uma vez que, o que explica tudo, é a economia como dizia aquele famoso marqueteiro americano, James Carville!
Ao mesmo tempo em em que se abrem algumas possibilidades, o governo não age de forma a tentar recuperar o que é mais importante para o desempenho da economia que é, resgatar a confiança dos agentes econômicos, abrindo espaços para que os investimentos sejam retomados. Na verdade, a esperteza, o jeitinho e a tentativa de levar na conversa os “players” do jogo econômico, tem se mostrado de uma enorme pobreza, vez que o governo não tem quadros sequer para fazer o trivial quanto mais para inventar passes de mágica que pudessem enganar quem vive do “metier”.
É o que ora se assiste com as licitações das concessões onde, no início, o “governo queria um capitalismo sem lucro enquanto os empresários um capitalismo sem riso e o governo queria interferir no tamanho dos resultados de cada negócio”. Diante disso, os empresários sumiram, as licitações ameaçavam todas serem desertas e, até o pré-sal, cuja salvação do leilão será chinês, poderia ir também para o sal ou para o vinagre, como queiram.
Embora se possa falar que as coisas tendem a tomar um melhor rumo, o Governo continua agindo com esperteza para mostrar números mais adequados, por exemplo, sobre o desempenho fiscal. Agora mesmo, apropriou os rendimentos de 4,5 bilhões do FGTS para fazer caixa e cobrir o uso de recursos do Tesouro para capitalização de empresas públicas do País. Tais maquiagens, da mesma forma que o congelamento dos preços administrados, só tendem a gerar expectativas de que, muito em breve, far-se-ão necessários reajustes dos preços administrados e adequações nas contas públicas, que só tenderão a acelerar a própria da taxa de inflação.
Como é sabido, os leilões das concessões de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, entre outras, sofrem pesadas críticas dos empresários, não apenas em função do governo insistir em ter participação direta em tais negócios como, como é o caso das rodovias, comprometer-se a investir bilhões na duplicação das estradas, como ação direta sua, mas que não encontra confiança de que, em tempo aprazado, o governo irá cumprir o que prometer. Aliás, estão aí para provar os investimentos do PAC. Ademais, os investidores temem que, a qualquer manifestação de rua, o governo rasgue os contratos e defina o valor do pedágio que os manifestantes pedirem.
O governo promete bancar os riscos de tais negócios mas, a confiança no governo e nas suas promessas, é relativamente nula, o que põe em risco todos os gestos destinados a fazer exitosas as empreitadas relativas as concessões, o pré-sal, as obras de mobilidade urbana e as obras do PAC.
Assim, se as concessões derem certo e nada das desconfianças conduzirem à licitações desertas, então é possível que a economia respire mais aliviada e cresça um pouco mais do que o atualmente previsto.
É certo que os escândalos continuam pululando em todas as áreas do governo, como demonstrou a revista Época sobre o caso das maracutaias no Banco Central, já na gestão Tombini e, a identificação da mulher do Ministro do Trabalho participando de convênios irregulares daquele órgão com ONG’s as mais variadas.
E, para total confusão do quadro, os indicadores mostram que o emprego industrial crescerá zero por cento, este ano, bem como o desempenho da balança comercial continua se deteriorando e a entrada de recursos externos está ficando muito aquém daquilo que era esperado, desejado e necessário.
Ademais, diante das movimentações partidárias, das dificuldades de Dilma com sua base de sustentação parlamentar e a precariedade e da pobreza de sua equipe de governo, as coisas não mostram uma perspectiva um pouco menos nebulosa como ora se apresenta.
O cenarista resume em uma única frase o dilema brasileiro: o governo quer um capitalismo sem lucros e os empresários querem um capitalismo sem riscos. Com isso a soma de todos os esforços da sociedade sempre vai dar zero e ficamos todos como dantes no quartel do Abrantes.