UM PÉ NA EUROPA E OUTRO NA ÁSIA?

Entre os dois continentes, aqui na sede do Império Turco-otomana, o cenarista experimenta o sentimento nacionalista turco, na data de celebração da data nacional, sentimento esse expresso, não apenas na exibição generalizada dos símbolos da pátria, mas, também, da grande reverência do povo ao criador da república e ocidentalizador e modernizador das instituições e dos costumes da pátria turca, o Marechal Kemal Ataturk!

É possível vivenciar, aqui, dois sentimentos. O primeiro é de que, a Turquia, embora sendo um país de velhas tradições e muita história, ou melhor, sede que foi de três grandes impérios mundiais, o bizantino, o turco-otomano, o neo-bizantino e, agora, uma república construída faz 90 anos, parece ser uma nação feita por jovens que, como os de todo mundo, começam a ter consciência de sua responsabilidade e de seus direitos, na construção do hoje e do amanhã de sua pátria.

Isto porque, independentemente do País viver um bom momento e, mesmo dispondo a nação, de uma gestão pública competente, comandada pelo seu primeiro ministro, esse não deixa de sofrer sanções e protestos quando os defensores da chamada sustentabilidade, tão em voga no mundo de hoje, promoveram protestos, quase beirando a extrema violência, na Praça Taksim, há alguns meses atrás!

E, tais protesto, organizados pelos jovens, só diminuíram quando o Primeiro Ministro, mesmo com toda a sua popularidade, resolveu voltar atrás e rever a sua decisão inicial.

Tais manifestações de rua, a princípio, se deram em virtude da insatisfação dos referidos jovens diante de uma decisão equivocada do governo que aprovou projeto caracterizador de uma violência ambiental urbana. A proposta estabelecia a substituição de um tradicional bosque, no centro de Istambul, por um moderno complexo “de shoppings centers”, cujo maior apelo seria a geração de empregos e o possível embelezamento da paisagem urbana!

No dia de ontem, nas ruas da cidade, jovens, acompanhados, de perto, por milícias fortemente armadas e, equipadas com o que há de mais moderno para, se necessário, promover uma dura repressão de rua, mais uma vez fizeram os seus protestos. Agora, não mais contra a matéria da violência ambiental já vencida, mas contra a tentativa de reestabelecer algo que Ataturk havia, com muito sacrifício, no passado, promovido, que fora a separação entre estado e sociedade. Os jovens, não se sabe em que dimensão, mas parece não quererem, a princípio, o estabelecimento de um estado fundamentalista islâmico!

E o fazem em um momento em que a Turquia se coloca entre os países mais promissores para a atração de investimentos externos na Europa, apresentando um ritmo de crescimento da economia melhor que qualquer país da região — já que são parte europeus e parte asiáticos — e o clima, entre pessoas comuns, investidores e consumidores, é de que a economia vai bem e só tende a melhorar!

Ou seja, o que aqui se assiste, é o mesmo que se reflete nas manifestações por todo o mundo onde as aspirações dos jovens de todo o universo são, aparentemente as mesmas, só que a forma de expressá-las difere e os apelos podem ser circunstanciais ou de caráter mais específicos e particulares do país em causa.

Se no Brasil o “leit motif” para as manifestações de rua foi a conquista ou manutenção do valor da meia passagem, embora ela escondesse insatisfações acumuladas contra a operação das instituições, a classe política e a corrupção generalizada, bem como, diante da falta de hierarquização de prioridades dos gastos governamentais que não garantiam maior apoio à saúde, à educação e recursos para o combate à violência urbana, aqui, por detrás de um jogo de futebol entre gente do governo, no dia da festa nacional, o que se buscava era dizer que não se desejava que o estado pudesse voltar a cercear as liberdades políticas, os credos religiosos e as ideologias.

O que se sente, por aqui é que, no mundo asiático e africano, o anseio pelo exercício pleno da cidadania, estimulado pela integração que as redes sociais, via internet promovem, começa a se alastrar desde a primavera árabe.

E, a expectativa dos brasileiros de bons propósitos é que o País venha a ajudar a pobre América Latina a, também, vivenciar tal experiência de busca e conquista das liberdades civis, políticas e o estado seja liberto de amarras doutrinárias, ideológicas, religiosas ou populistas ao invés de ser uma nação subordinada as limitadas visões e experiência da pobre ilha cubana ou a triste republiqueta venezuelana.

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