UM SCENARIUM SEM PART-PRIS, SEM VIÉS!

É difícil produzir comentários sobre a cena política ou econômica de qualquer país sem emitir juízos de valor ou de  se fazer, às vezes, críticas à situação, as circunstâncias ou a providências tomadas ou opiniões emitidas, por policy-makers ou por quem de direito.

Se o comentarista for deveras conciliador ou viver a culminar de elogios pessoas, partidos ou ideologias, torna-se parcial e não agrega qualquer subsídio à interpretação dos fatos e, por certo, não agrega quaisquer subsídios a que os leitores possam formar uma opinião mais sóbria e equilibrada da circunstância examinada.

A tendência natural é que cenaristas são, na maioria das vezes, levados a fazer duras e, aparentemente impiedosas e injustas críticas a a atitudes, gestos ou palavras de quem está investido no poder, pois, em país como o Brasil onde quase tudo parte ou depende do governo central, necessàriamente, as iniciativas são todas dele ou partem dele.

É fundamental levar em conta que os  elogios ao poder só devem ocorrer se as atividades e/ou providências tomadas surpreenderem, positivamente, à sociedade como um todo.

O caso atual do Brasil tende a levar a qualquer analista, ao avaliar o que aqui ocorre, a mostrar-se pessimista quanto ao hoje e o amanhã da sociedade nacional.

Na verdade, não se trata de qualquer postura ideológica, doutrinária ou partidária ou atitude contrário ao poder instalado ou a oposição estabelecida mas, representa, muito mais, uma enorme preocupação com o que ora ocorre com o País. De repente, sai o Brasil de uma posição protagonista de o mais promissor dos emergentes, para uma situação de frustração  de eminentes analistas e periódicos internacionais. Na verdade a pífia taxa de crescimento do PIB; a aceleração da inflação; a desorganização e os desequilíbrios fiscal e externo; a desindustrialização do segmento manufatureiro onde o rombo da indústria chega a quase 100 bilhões de dólares; uma petrobrás que já perdeu 208 bilhões de valor na bolsa; obras de infra-estrutura que não andam engargalando o crescimento do País, além de ineficácia do bolsa familia para retirar da miséria um enorme contingente de brasileiros, são alguns aspectos da crise que se avizinha. A expectativa é que não se cresça os 3% previstos e que a inflação, teimosamente, se mantenha no limite superior da meta, ou seja, nos 6,5%!

Está o país mal e, o pior, sem saber como contornar tantos problemas e dificuldades.

Falta uma diretriz, falta um rumo, falta um azimuth. E, como dizia o velho Sêneca, “ao navegante que não sabe para onde vai, não interessa a direção do vento”.

Se não bastassem a falta de perspectiva para a área econômica, o que dizer desse bizantino embate entre o Parlamento e o Supremo? Não é nada bom para as instituições e nem para a democracia. O que dizer da PEC 33 — a que transforma o Congresso Nacional em casa revisora do Supremo, numa clara atitude de retaliação do poder legislativo à judicialização de matérias de sua competência e a invasão de suas prerrogativas pelos tribunais superiores, máxime pelo STF — que não como uma afronta a autonomia, interdependência e harmonia entre os poderes?

Se os dados sobre a indústria que só cresceu uns míseros 07% no trimestre são deveras preocupantes, o déficit do setor externo deve alcançar elevadíssimos 3,3% do PIB e, o desequilíbrio das contas públicas pode ser considerado, sintomaticamente ameaçado, pelas promessas eleiçoeiras. Isto sem contar com a escalada de violência em todo o País, a crise crônica da saúde e o engodo que é a educação no pais.

Precisa o País, urgentemente, de um choque de gestão que faça a política econômica voltar a sua trilha sustentável — metas de inflação, câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e ambiente econômico favorável aos investimentos — bem como que se busque estabelecer algo como as chamadas “quatro modernizações chinesas ” ou um plano estratégico que defina as bases para um crescimento sustentável  com redução de desigualdades sociais que, diga-se de passagem, com a aceleração da inflação, só tenderá a ver retomada a tendência concentracionista,  a prejudicar os ganhos já alcançados nessa área.

Assim, mesmo que se quisesse dizer que as coisas vão bem ou que caminham na direção certa, e, por mais que se queira ser agradável para com o poder, as circunstâncias não favorecem a condescendência com os erros que se acumulam nem a leniência com as perspectivas tão desfavoráveis que se vislumbram.

Um Comentário em “UM SCENARIUM SEM PART-PRIS, SEM VIÉS!

  1. Sem contar o PAC que parece ter emPACado de vez, embora tenha Ministro forte metendo o bedelho na área dos outros e obras da Copa e Olimpíadas que teimam em resistir ao cumprimento de seu inexorável cronograma. O combustível de uma obra pública é o dinheiro público e quando não se tem respeito pelo segundo, o primeiro nunca acaba no tempo e com a qualidade desejados.