VINTE ANOS SEM O MURO!
Há vinte anos este cenarista assistia, em Berlim, a manifestação de um sentimento guardado, sempre prestes a explodir, de reencontro com um dos seus valores mais caros, a liberdade, expressa na derrubada do muro que dividia as duas alemanhas. Muro fruto de uma divisão de territórios, praticada pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial, que desmantelou comunidades, destruiu nacionalidades, desestruturou famílias e, na divisão do butim de guerra, praticou-se o mesmo crime que o Tratado de Versailles havia cometido contra nações européias, particularmente a Alemanha.
A queda do muro representou apenas um símbolo do fim da guerra fria que estabeleceu uma dinâmica da vida internacional do pós-guerra e impactou, globalmente, as concepções sobre os modos de organizar as sociedades. O processo de desmantelamento do esquema de centralismo econômico que causou o centralismo político foi gestado no bojo de vários movimentos que se multiplicavam, não apenas na Europa Ocidental, mas também na Europa Oriental, na China e na União Soviética.
A morte de Mao Tse Tung e a queda da camarilha dos quatro na China, deu lugar a um processo de renovação do partido comunista chinês com a recuperação do líder Deng Xiao Ping e do seu grupo que, a partir de uma idéia de modernização do País, estabelecia o seu programa chamado “um centro e dois pontos”, ou seja, a modernização e reestruturação econômica, apoiada na abertura e na reforma econômica, interna e externa. O programa das quatro modernizações foi aprovado, com muitas resistências, pelo PC Chinês e iniciou-se um vigoroso processo de modernização da economia chinesa. Ao mesmo tempo em que tal ocorria na China, anteriormente na Europa, a Primavera de Praga e o movimento da estudantada parisiense em 1968, estimularam a uma série de movimentos no mundo inteiro, inclusive no Brasil, contra o autoritarismo das ideologias e do estado e provocavam o início de uma espécie de revolução da cidadania.
Claro que algumas figuras foram essenciais nesse processo de retomada, pela sociedade, de seu controle, tomado pelo comissariado, de maneira autoritária e autocrática. Na França, marcaram presença influenciando esse novo tempo, Jean Paul Sartre, Herbert Marcuse – o criador do conceito de sociedade global – e um líder estudantil, Daniel Cohen Bendit, se não me engano, alemão de nascimento.
Mas antes de tais movimentos, a eleição do Cardeal Woytila, da Polônia, simpatizante da causa dos trabalhadores do Porto de Gdansky, liderados por Lech Walesa; a ascensão ao poder, na União Soviética, de Michail Gorbachev com a sua perestroyka e a glasnost, levaram a uma espécie de sublevação, praticamente em todo o mundo, de forma a despertar o sentimento de que o centralismo econômico, a divisão do mundo entre aqueles sob a proteção do poder americano e os chamados “satélites” soviéticos, não tinha mais como se manter.
Fazia-se urgente a construção de uma nova dinâmica de vida internacional onde a bipolaridade não teria mais vez, nem tampouco as ameaças permanentes de conflitos nucleares que mantinham a “guerra fria”. O amadurecimento desse processo conduz a uma manifestação, nunca esperada e vista na China, quando estudantes enfrentam tanques na Praça da Paz Celestial, numa demonstração de que o mundo buscava novos caminhos.
Portanto, a queda do muro, estimulada pelo processo de globalização já em curso; pela instantaneidade da informação; pela velocidade da inovação tecnológica e pela rejeição de qualquer tipo de ditadura de aspirações, como que decretam o fim das ideologias e abrem espaços para a construção de novos espaços de convivência democráticos.
Foi-se o muro. A Europa partiu para a sua unificação. A Alemanha, reunificada, sofreu, mas, ao fim e ao cabo, voltou a ser uma grande potência econômica mundial. A Rússia, desmontada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e independizadas a banda oriental da Europa, passa a construir um novo processo de estruturação econômica aproveitando os bons ventos do mercado internacional, dinâmico e aberto. A China, o Império do Centro, com a abertura econômica passa a exploração do potencial de várias de suas regiões e, aos poucos, vai-se construindo em uma potência econômica que, faz quase três séculos, cresce a taxas tão exuberantes que, já agora, divide com os Estados Unidos uma certa posição hegemônica. Surgem os BRICS onde o Brasil começa a se tornar um importante protagonista, não só pelo seu potencial agropecuário, energético, de mercado interno e por ser já a oitava economia do mundo.
Estas são algumas das heranças deixadas com a queda do muro. Claro está que outras heranças, ás vezes, até malditas, estão a desafiar o mundo, mas no geral, os resultados até agora alcançados, demonstram que um mundo mais aberto, livre, solto, cooperativo e solidário está sendo construído.
PARA PROVOCAR OS CANDIDATOS!