ANGÚSTIA, DESENCONTRO E INSATISFAÇÃO.

A estratégia de Serra em adiar para março a definição do PSDB do nome do candidato que enfrentará o candidato ou os candidatos de Lula, está gerando um processo de angústia, inquietação e, até mesmo, de insatisfação, não só no meio dos próprios tucanos bem como de seu principal aliado, no caso, o DEM. Claro que os possíveis apoios da candidatura tucana nos outros partidos, máxime o PMDB, também sofrem do mesmo drama.

A maioria acha que as oposições perdem tempo, Lula avança sem dar bolas para a Justiça Eleitoral e, até uma avaliação do STF, de que Lula não estaria agindo dentro da lei, opinião externada pelo próprio Presidente da Suprema Corte, ao invés de beneficiar as oposições, acaba tendo efeito contrário junto à opinião pública, na proporção em que pode ser explorado como se as mesmas não tivessem discurso para se contrapor a Lula e, estariam assim,  apelando ao “tapetão”.

O Presidente do PSDB Nacional, Senador Sérgio Guerra, com a habilidade que lhe é peculiar, de maneira cautelosa ,sugere que “os dois – no caso Serra e Aécio – não querem antecipar a decisão e, eles sabem mais do que a gente”, mostra uma tolerância e uma capacidade enorme de administrar conflitos, mas tal competência poderá não ser capaz de conter a explosão de problemas que começam já a ocorrer nas sucessões estaduais e, até mesmo, a nível da cúpula nacional de partidos aliados.

Aliás, a posição do Líder do DEM na Câmara, Deputado Ronaldo Caiado, diante da indefinição e da indecisão em termos da candidatura do aliado PSDB, afirmou que vai “montar a sua estratégia na sucessão de Goiás, de acordo com as conveniências do partido no Estado”. Por outro lado, o Presidente Nacional do DEM, Deputado Rodrigo Maia, em colisão com o morubixaba Jorge Bornhausen, resolveu declinar a sua preferência por Aécio Neves para ser o cabeça de chapa das oposições.

Até agora o tempo conspira a favor de Lula na proporção em que tenta empurrar, goela abaixo, a sua pesada candidata. Da mesma forma, vai tentando construir um discurso de que o “outro lado” é o “da arrogância, da presunção e da elite branca que, nunca olhou pro povo, esqueceu e preconceituou o nordeste e, com a sua privataria, quase vendeu o Brasil para os estrangeiros”. Por outro lado, com a economia indo bem, com a baixa renda ganhando melhor, com a volta dos empregos e com o discurso da grandiloquência – pré-sal, Copa do Mundo, jogos militares mundiais, jogos olímpicos -, mexem com o imaginário popular, aumentando a autoestima da “peãozada”, dando um tapa na boca da crítica, mantém a elite branca calada, pelos privilégios concedidos a bancos e a grandes grupos e, “vamos que vamos!”. E Lula, com seu charme, com o seu carisma, com a sua capacidade de falar para o povão e com o respeito e prestígio conquistados internacionalmente, atropela tudo e tenta fazer viável algo inviável que é a sua candidata.

Se o PSDB não decidir logo quem será o seu candidato, talvez em março, o que vai sobrar de apoios adicionais seja muito pouco diante das definições estaduais que estão ocorrendo a pleno vapor. É bom que Serra se lembre que o povo vive nos municípios e as suas aspirações, interesses e sonhos, estão lá. O estado é uma ficção do direito e a União é um péssimo substituto do que seria a monarquia sem qualquer charme e qualquer afinidade com a população. Lula tem porque construiu-se como mito.