ANGÚSTIA? TEMOR? UM AR DE MELANCOLIA DIANTE DE UM NOVO ANO?

O cenarista é um otimista incorrigível ou um quase inveterado por bons momentos, boas perspectivas e pela crença de que o amanhã será sempre melhor do que o ontem. Põe fé e esperança nas pessoas, no País e nas suas circunstâncias! Pode ser que seja apenas o domínio, no seu comportamento e nas suas atitudes, de uma espécie de “wishfull thinking”! E sempre quer e torce para que as coisas, notadamente para a sociedade e para o Brasil, deem certo.

Mas, diferentemente do que esperava e do que desejava, a frustração, o desencanto e a desesperança estão gerando angústia, temores e pessimismo para os brasileiros e, pasmem, para ele mesmo, o próprio cenarista! Agora não é mais incerteza e a insegurança que dominam os sentimentos mas, uma quase convicção, de que os problemas, dificuldades e desafios estão se tornando maiores que a capacidade de enfrentá-los pelos instrumentos, mecanismos, políticas e pelos homens que detém o poder. Não é apenas a discussão sobre se um homem pode se constituir numa espécie de salvador da pátria ou o milagreiro capaz de transformar qualquer coisa em ouro e, em apenas num um passe de mágica!

E, lamentavelmente, Temer ao contar hoje com uma popularidade que se coloca abaixo dos 10%, isto, aparentemente, poderia não se constituir em problema maior pois, nesse tumultuado ano de 2016 — o ano que teima em não terminar! — o Presidente conseguiu o apoio de 88% do Congresso com vista a aprovação de matérias consideradas relevantes para o País!
O que, dentro da visão de que as coisas se decidem através das instituições e não das pessoas, particularmente, aparentemente Temer poderia acreditar e apoiar-se na idéia de que as decisões mais relevantes dependerão do Congresso e, portanto, a impopularidade não afetaria o êxito das providências a serem apreciadas pelas casas legislativas.

Ledo engano. Os parlamentares são utilitaristas, segundo o conceito dos idealistas. Ou são normais, segundo a experiência vivencial, da maioria das pessoas que admitem que a lógica da sobrevivência se sobrepõe a qualquer outra lógica, compromisso ou valores mais caros professados pela sociedade. A tendência é que, na proporção que se manifestarem as insatisfações populares com o governo e demorarem a ocorrerem os resultados esperados das medidas de política econômica, aí os deputados, em primeiro lugar, tenderão a ir se afastando do governo pois não desejarão pagar o preço da impopularidade mesmo que seja por conta de conquistas fundamentais para o hoje e o amanhã da sociedade. Ou, para garantirem apoio apresentarão fatura extremamente elevada ao governo.

Na verdade, mesmo que aqui e ali surjam notícias, embora tímidas mas, capazes de gerarem esperança de que as coisas estejam no caminho certo, elas não tem se mostrado suficientes para reverterem o pessimismo que domina a população que, pelos últimos dados de pesquisa, cresceu muito nos últimos tempos. Os dados relacionados a inflação, aquela que mais corrói o poder de compra da renda familiar brasileira, mais até que o desemprego, mesmo que  vá ficar abaixo do limite superior da meta da inflação, quando as previsões, no inicio do ano, eram que superaria os 12%, não aquieta uma população angustiada com os seus destinos. E isto, como se sabe, mesmo que tal perspectiva abra espaço para uma ação mais ousada do Banco Central, com vistas a redução da taxa básica de juros o que, com certeza, animaria, deveras o mercado, mesmo assim não cria o ambiente menos tenebroso.

O fato objetivo é que, a par de tal clima nada animador, o governo tem tomado atitudes que, muitas vezes, negam propósitos e compromissos propostos e esperados. Agora mesmo, ao adiar o leilão de energia limpa, ou das chamadas energias alternativas, tal atitude representou uma espécie de ducha de água fria naqueles que acreditam na energia fotovoltáica e eólica como substituidoras das energias caras e poluentes, notadamente aquelas oriundas das usinas térmicas. Ninguém entendeu as justificativas do governo! Também a decisão de violentar uma reserva ecológica no Pará com o objetivo de atender aos interesses de criadores de gado que já haviam ocupado tais terras, com cerca de 110 mil cabeças de gado, não caiu bem. Não apenas no mundo dos ambientalistas e da Oposição mas, de um modo geral e, fundamentalmente, no seio daqueles que torcem para que o governo dê certo.

Ademais, a derrota parcial quando da aprovação do processo de renegociação das dívidas dos estados e municípios, quando os deputados não aceitaram a inclusão das necessárias contrapartidas e obrigações de ajuste fiscal por parte dos entes federados para que pudessem receber o apoio da União, repercutiu mal no mercado. É certo que os acordos a serem assinados pela União com os estados podem ficar sujeitos a concertação  de compromissos de contrapartidas do tipo de ajustes de despesas no médio e longo prazo, aumento da contribuição previdenciária de 11 ou 12 para 14%, além do congelamento de novas admissões e contratações e de realização de novos concursos, entre outras, são as medidas esperadas pela sociedade, como um todo.

Finalmente, já nesse período de “entressafra” da crise politico-institucional, pois que as festas natalinas e de Ano Novo tendem a dar uma trégua ao governo, Temer continuará a enfrentar o tiroteio da Lava-Jato sobre membros de seu governo e sobre seus aliados no Congresso; o processo de impugnação da chapa Dilma-Temer no TSE; as disputas, dentro do PMDB, pelo comando da Casa e pela Liderança do partido no Senado, já que, na Câmara, a disputa está aparentemente pacificada; as ambições por mais cargos, verbas e partilha de poder pelos parlamentares, visando já a sua sobrevivência politico-eleitoral em 2018, são problemas adicionais que Temer terá que tourear.

Aliás, é bom lembrar que, no inicio do ano, o governo ainda terá que enfrentar o inesperado, o imponderavel e o inusitado do que fará Trump a frente do governo americano e que repercussões terão suas decisões sobre os planos e projetos do governo brasileiro. O que já se sabe é que, a previsão de expansão da economia que antes chegava a 1,8%, já não passa mais dos 0,5% e, o desemprego continuará ainda elevado, sem recuos maiores, até o fim do primeiro semestre de 2017.

Assim, espera-se apenas que alguns fatos positivos continuem a ocorrer como o excelente desempenho do setor externo; a continuação da queda da inflação; a redução da taxa SELIC; que a crise hídrica não afete mais tão duramente o País, particularmente o Nordeste e o setor elétrico; que o petróleo, a nível internacional, não gere surpresas desagradáveis e que, os parlamentares, dentro daquilo que se espera de seu espírito público, deixem as suas ânsias por sobrevivência, pelo menos, para o segundo semestre, após terem votado as matérias mais relevantes e indispensáveis para os ajustes necessárias na economia.

Para que se desenhe um ambiente menos pessimista, espera-se que os prefeitos venham inspirados pelos novos tempos de austeridade, de criatividade e de responsabilidade, busquem inovar na gestão dos negócios publicos do País.  O que se espera é que, a nova ética que a Lava-Jato está permitindo que se espraie, pela sociedade, gerando novos hábitos e costumes de comportamento e que o temor de que a impunidade não mais prospere, impunemente, dê um basta nessa tendência endêmica de corrupção e de desvios de conduta que, mesmo com a Lava-Jato, ainda tem gente que ousa e não teme ser apanhada nas malhas da Justiça.

Será que, diante de tantos indícios de problemas e dificuldades a serem enfrentados, conseguirá o País superar tantos desafios que ambientam o processo politico-institucional e fazer prevalecer as medidas e providências tendentes a retomada da economia? Será que a “pinguela” tão falada nos últimos tempos será de dimensões suficientes para aguentar o peso de tantos problemas, desafios e dificuldades?

Com o término de um ano que teima em não acabar, mais que torcer talvez uma grande corrente de fé e esperança seja necessária para que os desejos e necessidades dos brasileiros sejam atendidas e se atravesse esse teimoso Rubicāo que se coloca desafiadora e insistentemente a frente dos destinos da pátria amada.

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