Uma nova ética para a sociedade brasileira?

Diante de tanta descrença nos homens, nas instituições e no próprio amanhã da democracia brasileira, em face de uma série de circunstâncias como a deslavada impunidade, a esperteza, quase sempre marcando todos os gestos dos homens públicos, bem como  a irresponsabilidade e a omissão que tem sido a atitude e o comportamento das elites nacionais, três fatos registrados no ano que está a terminar, antecipam que, talvez,  se possa voltar a acreditar que as coisas estejam em processo de mudança.

E os episódios são os seguintes. O primeiro deles, depois de “claudicar” e, de comportar-se  de maneira insegura e frágil, o Supremo Tribunal Federal, pressionado pela sociedade civil brasileira, resolveu dar respaldo e garantir a aplicabilidade da chamada “lei da ficha limpa” no processo de escolha de representantes políticos e gestores públicos. Assim, a nova postura assumida pelo STF, respeitando uma legítima decisão da sociedade civil pois que a iniciativa da lei foi popular, fez com que se espalhasse um sopro de compromisso com os ditames do novo diploma legal, por parte de juízes, promotores e procuradores, espalhados por todo o País. E, em tal atitude, a própria mídia resolveu assumir papel fundamental em termos de conscientizar os cidadãos da relevância para o aprimoramento das práticas político-eleitorais, da referida lei, em todo o país.

Se isto representou um fato alentador no processo de melhoria qualitativa do quadro político-eleitoral, um segundo fato foi extremamente saudável para a democracia brasileira. Foi o efeito Eliane Calmon que, numa atitude das mais corajosas e ousadas, resolveu expor as vísceras do Judiciário, denunciando fatos já sabidos por quase toda a sociedade mas temida a sua divulgação e, até  mesmo, de serem passíveis de comentários por parte de qualquer cidadão, diante do temor de retaliação que o corporativismo do poder se apoia e se respalda. Eliane Calmon, ao chegar ao extremo de denunciar a existência de vendedores de sentença e de “bandidos de toga”, despertou e provocou o próprio Executivo a fazer uso da COAF – Comissão de Acompanhamento Financeiro – para avaliar a evolução patrimonial de membros do Judiciário e do seu entorno mais próximo! Foi pressionada por respeitáveis membros do Judiciário, inclusive sendo acusada de prestar um desserviço à sociedade na proporção em que tal gesto de denúncia poderia levar à desconfiança e a perda de credibilidade do Poder, ele que é a última instância da cidadania junto à maioria da população.

Se o papel de Eliane Calmon marcou notável posição perante à sociedade brasileira, o relator do mensalão, Ministro Joaquim Barbosa, praticamente, tornou-se um símbolo de esperança de que a impunidade dos poderosos não se faria assim mais com tanta facilidade como no passado recente. Não é porque o ministro relator levou ao patíbulo mais de 25 cidadãos, entre eles, três figuras maiores da política nacional – Ministro José Dirceu, Deputado José Genoíno, ex-presidente do PT e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha – que seu gesto revigorou a confiança dos brasileiros de que algo estaria, de fato, mudando no País. Mas sim porque, sem a conotação de um linchamento público e, permitido o direito de defesa realizado, de forma magistral, não apenas pelos advogados dos réus mas também pelo Ministro Levandowsky que, de maneira competente, fez o contraponto e não permitiu que o STF fosse contaminado pela fogueira das vaidades, estimulado muitas vezes pela voz rouca das ruas ou pelos holofotes televisivos.

Se estes três fatos foram tão auspiciosos e tão relevantes para a construção e o fortalecimento das instituições democráticas do País, talvez até em decorrência de tais episódios, as eleições municipais deste ano mostraram uma nova faceta onde não houve, de fato, partido hegemônico no processo. Ou seja, nem o PT e nem o PMDB foram tão fortes sequer na manutenção de seus domínios. Por outro lado, o PSB foi a boa surpresa e, para o PT, a perda dos apoios no Norte e no Nordeste bem como o renascimento do DEM e do PSDB, além da fragmentação do controle das prefeituras por partidos considerados pequenos, foi a marca dessas eleições.

Também, embora um grande líder nacional, Lula, só tenha conseguido salvar São Paulo, capital, do desastre do seu partido, muito menos pelos méritos do seu candidato ou até mesmo pelos seus próprios méritos, mas, muito mais em face da teimosia de Serra em não buscar os apoios de Alckmin, de Aécio e de Eduardo Campos.

Na verdade, uma leitura mais acurada do processo eleitoral e uma melhor avaliação do xadrez político, pode indicar que a sucessão de 2014 estabeleça novas avaliações e apresente novos players. Mas isto é assunto para um outro comentário!

Scenarium de volta ao ar. Aguarde.

Em breve o Scenarium estará de volta com as análises políticas de Paulo Lustosa.

UM DISCUTÍVEL “JÁ GANHOU” ESTÁ NO AR!

Faltando mais de trinta dias para o encerramento da campanha eleitoral, pelo rádio e pela televisão, diante do inusitado crescimento de Dilma Roussef, entre os seus aliados, adeptos e militantes petistas, verifica-se um clima de “já ganhou”.

Na verdade “sentar na cadeira” antes da definição, pelos tribunais eleitorais de que o candidato já ganhou, é uma temeridade e já criou situações deveras embaraçosas para vários pretendentes a cargos executivos. O próprio ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, foi vítima de tal inusitado otimismo que, de maneira desastrada, o levou a, literalmente, sentar-se na cadeira de prefeito de São Paulo e, frustrar-se, amargamente, quando, terminada a apuração de todos os votos, ele havia perdido para Jânio Quadros.

Claro está que os indicadores mais significativos quase que já definem a vitória de Dilma no primeiro turno. Porém, como dizia o velho político mineiro Magalhães Pinto política é como nuvem. “Você olha prá cima ela tem um formato. Baixa a vista e, quando olha de novo ela já está com outro formato”. Agora mesmo, a disputa para o Governo de Minas Gerais que apresentava uma diferença abissal entre Hélio Costa e Antonio Anastasia, caiu, de maneira significativa, dando a entender que, pelo menos o segundo turno já está garantido.

Também, na eleição municipal de 2008, o Presidente Lula, já gozando de enorme prestigio popular, decidiu se engajar, de corpo e alma, nas campanhas das petistas Maria do Rosário – candidata a prefeita de Porto Alegre –, Fátima Bezerra – candidata a prefeita de Natal – e Marta Suplicy  – candidata a prefeita de São Paulo. E, o que foi que o país assistiu? Foi Lula perder, de “lavada”, em todas as três cidades!

Por outro lado, em 2006, Lula disputando a reeleição, com todo o seu prestígio, não conseguiu vencê-la no primeiro turno quando o seu concorrente era visto como um candidato “insípido, inodoro e incolor”, ou, no melhor tratamento, um “candidato bonzinho”.

Apesar de a história ser sempre a dos vencedores e do seu itinerário de glória, o perdedor, notadamente nas sociedades jovens e emergentes, apenas consegue, num primeiro momento, a manifesta solidariedade dos vencedores, após cobradas as “dívidas de guerra”.

Até a literatura consagra o principio de que só se olha para aquele que foi o ganhador da competição quando, o velho Machado de Assis, em uma de suas obras, fala de “ao vencedor as batatas”. E, na política, nos dias que correm, sempre se argumenta que não vale à pena insistir em um candidato que dá sinais de que pode perder. Segundo as más línguas, o povo não quer “estragar o seu voto” e tende, num efeito de manada, seguir a tendência da moda e consagrar o candidato que está à frente.

Apesar de toda essa argumentação, este cenarista acha que a eleição não está concluída e, quem chegou mais alto, é que tenderá a cair. Aliás, competição eleitoral assemelha-se à maratona onde, se se gasta todos os recursos no começo, para abrir uma larga vantagem, a tendência é que “falte gás” para os metros finais da corrida! Ou seja, não estaria cedo demais para “cantar vitória”? E, não estaria cedo demais para alguns dos correligionários de Serra estarem “jogando a toalha?”

A CLASSE MÉDIA VAI AO PARAÍSO!

A evolução observada do número de pessoas que ascenderam na escala social e alcançaram o “status” de classe média baixa – rendimentos entre mil e quatrocentos reais e quatro mil  reais/mês – atingiu o notável número de quase metade dos brasileiros: 90 milhões!

Segundo os últimos dados disponíveis pela Fundação Getúlio Vargas, a nova classe media já representa 47% da renda nacional, frente a 44% representados pelas classes A e B.

Tal cifra representa um valor que supera os 500 bilhões de reais, além do mais dinâmico mercado para bens de consumo duráveis e não duráveis do País.

Esse segmento tem muitos sonhos de consumo a realizar e a referida investigação demonstra que os que fazem a classe C não admitem que se possa viver ser computador e têm aspirações que fazem a alegria das grandes lojas varejistas do País.

As razões encontradas para a agregação de mais de 32 milhões de brasileiros à classe media nacional, são desde o efeito do Plano Real a reduzir o impacto negativo da inflação sobre a sua renda disponível, passando pelo aumento da escolaridade, ampliação do emprego e do salário médio, além do acesso ao crédito com juros menos escorchantes dos que eram praticados até bem pouco tempo.

E, para o futuro? Quanto mais de brasileiros poderão ser acrescentados a tal contingente?  A tendência é que, vegetativamente, tal grupo vá aumentar, mas caso haja alterações na estrutura tributária reduzindo a sua regressividade; redução dos impostos de importação sobre bens duráveis; financiamentos de casa própria de forma mais adequada; acesso à escola de melhor qualidade e grande avanço nas oportunidades abertas pelas escolas de ensino técnico, a tendência é que, até 2014, sejam agregados mais 20 milhões de brasileiros.

Este cenarista defende medidas relativamente simples na área tributária, como a isenção parcial de impostos sobre a cesta básica e sobre os serviços industriais de utilidade pública – água, energia elétrica, esgoto, lixo, comunicações – e, mantido o ritmo de expansão da economia, será fácil ampliar o número de brasileiros na classe C.

Por outro lado, se se juntar o que ocorre no Nordeste, onde o dinamismo econômico tem se mostrado superior ao nacional e, segundo alguns experts, é possível ampliar em 8% o PIB regional, bastando que se reduza em 10% a desigualdade de renda, então a nova classe média terá chegado ao paraíso.

QUANDO A DESIGUALDADE LIMITA E ATRAPALHA!

Estudo desenvolvido pelo Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), do curso de pós-graduação, em Economia, da Universidade Federal do Ceará, revela que, se o Ceará apresentasse um nível de desigualdade de renda menor, ele teria conseguido aumentar em cerca de 7,2%, o seu PIB. Ou seja, caso o nível de desigualdade de renda do Ceará fosse igual ao de Santa Catarina, o seu PIB  seria 7,2% maior!

Segundo o Professor Flávio Ataliba, diretor do LEP, se o estado conseguir reduzir a desigualdade em 10%, nos próximos anos, a renda média do estado deveria alcançar 8% a mais do que os limites atuais. E que alternativas se colocam para reduzir desigualdades de renda tão expressivas? E, como será possível fazê-la, a nível estadual ou de unidade da Federação, em um país como o Brasil, onde os instrumentos de política econômica adotados pelo governo central, tendem a aprofundar tais desigualdades?

As propostas relativas aos programas de compensação de renda, os investimentos em escolas técnicas, os assentamentos rurais, os aumentos dos salários médios, serão tais instrumentos suficientes para, em período relativamente curto, diminuir tais desequilíbrios? Ou será que alterações na estrutura tributária do País, notadamente propostas como isenção de tributos sobre a cesta básica ou sobre os serviços industriais de utilidade pública para as populações de baixa renda, seriam bastante para atenuar tais desigualdades? Investimentos maciços em educação de base e em ensino técnico, ajudariam a superar tal problema?

Por que, nos debates eleitorais, os candidatos majoritários não tocam em questão tão relevante para a construção da cidadania?

QUANDO CHEGAREM OS VOTOS DA PEDRA BRANCA, AÍ…

No Ceará, há alguns bons anos atrás, quando as apurações ocorriam de município a município, sem a totalização simultânea e sem os recursos digitais e da banda larga, um candidato em desvantagem de votos, dizia, com toda a convicção e certeza: ‘’Deixem vir os votos da Pedra Branca e vocês vão ver a nossa vitória”.

Agora, com o início do programa pelo rádio e pela televisão, as esperanças de candidatos em desvantagem, se valem de tal recurso de tal sorte que a fortuna mude o rumo da sua história ou convalide o que as pesquisas preliminares estão a demonstrar.

O que representa o rádio e a televisão para as eleições? Qual a influência de tais instrumentos midiáticos para mudar votos? Qual o seu impacto para conquistar simpatias e apoios? Qual o discurso que mais sensibilizará o eleitor? A que eleitor, preferencialmente, deverá ser orientado o discurso? O povo quer ouvir muitas propostas ou poucas e muito convincentes? O peso de Lula é definitivo agora, quando não foi na eleição última de prefeito? Se tem tanto peso assim, por que  não está tendo no Acre, onde o PT é amplamente majoritário?

Quando o governador está no lado contrário ao Presidente e tem muita popularidade – caso Aécio Neves – o que pesará mais, a sua influência ou a de Lula? Se vice não é votado, para que aparecer na televisão? Só para dizer que se o titular for impinchado ou morto, ele seria confiável para assumir a sua posição?

Essas e outras questões terão as suas respostas ao longo desse período de quarenta e cinco dias de exposição dos candidatos e de suas “idéias”, no rádio e na televisão. Quem será capaz de antecipar ou de antever o que vai ocorrer? Alguns dizem que, com a vantagem de Dilma e a força de Lula, o país não assistirá uma eleição em dois turnos. Mas, se Lula foi ao segundo turno com Geraldo Alkimin, que a oposição chamava de  “picolé de chuchu”, por ser um tanto insípido e inodoro, será que Dilma, sem o jeito bonachão,  sem o  jogo de cintura e sem as desconfianças das elites de que é detentor o  Nosso Guia, conseguirá tal intento?

A LEI DA PALMADA!

Há uma discussão que, tendo sido mudada de eixo e de enfoque, hoje se tornou quase bizantina, qual seja, se o ato de disciplinar as crianças com as, segundo alguns, “boas e justas palmadas”, deveria ser terminantemente coibido, pela brutalidade que encerraria e os efeitos deletérios que provocaria.

O que se deveria buscar, com mais afinco, seria algo mais sério. Por exemplo, como refletir por que o País gasta 14 vezes mais com a terceira idade do do que  com a pré-infância ou com as crianças nos seus primeiros anos de vida?

Por outro lado, por que não se aproveita o IBGE para que se examinem as condições de “fiscal and mental deprivation”, sobre as crianças nos lares brasileiros. Também avaliar como os pais conduzem os filhos às drogas – como usuários ou “aviões” -, à prostituição infantil e, até mesmo, como os próprios familiares são os responsáveis pela sevícia, pela violência física e sexual de seus filhos. Que políticas seriam adotadas para combater tais patologias? O que fazer com as chamadas Casas de Correção da FEBEM que, na forma como são concebidas e geridas, são “fabricantes” de facínoras e bandidos da pior qualidade ao invés de reeducarem as crianças deliquentes ao retorno ao convívio da sociedade.

Na verdade, os excessos verborrágicos de políticos ou de pretensos entendidos na matéria, são mais eloquentes do que qualquer medida prática, séria e comprometida com a juventude. Provavelmente, a causa maior da violência no País derive da falta de políticas sérias, convincentes e realmente conducentes a criar perspectivas menos trágicas para esses que são chamados, cìnicamente, o “futuro” do Brasil. Com os candidatos, a palavra!

O NORDESTE AGORA VAI?

“Há algo de novo sob o reino não da Dinamarca, como diria Hamlet, mas sob o sol generoso e abundante do Nordeste”!

Desde 2003, a região cresce, de maneira acelerada, superando os índices apresentados pelo país, como um todo, e por qualquer das suas regiões econômicas.

O relatório divulgado pelo Banco Central sobre o desempenho econômico de todas as regiões do país mostra que o Nordeste registrou “expansão vigorosa” no trimestre encerrado em maio, enquanto o resto do país amargou desaceleração.
Os dados são extremamente auspiciosos, pois que considerado o mesmo período do ano passado, as três principais economias do Nordeste – Bahia, Ceará e Pernambuco – apresentaram taxas de crescimento de 9,5, 8,9 e 7,8%, respectivamente.

Tais resultados são fruto não apenas da forte expansão do comércio varejista – 10,1% -, das transferências de renda do governo federal para as populações mais carentes e de fortes investimentos em infra-estrutura, além, é claro da injeção de crédito garantida pelos financiamentos significativos do BNDES e do BNB.

Por todo esse esforço e diante do dinamismo da atividade serviços, fundamentalmente do turismo, além da implantação de um significativo número de indústrias – só o Piauí está implantando ou implantou 286 empresas nos últimos 8 anos! – a  região, que antes tinha o seu dinamismo amparado na cana-de-açúcar, no gado e no extrativismo rudimentar, tais atividades tradicionais perderam  terreno para indústrias e serviços tecnologicamente  de ponta.

Ademais, investimentos como os no Porto de Suape, no Complexo do Pecém, na Ferrovia de Integração Oeste-Leste, no Gasoduto de Integração Sudeste-Nordeste, na Refinaria Abreu Lima e na Térmica MPX Itaqui, deverão  juntar-se aos investimentos na Transnordestina, na Refinaria e na Siderúrgica do Pecém, além dos investimentos na transposição das águas do Rio São Francisco para garantir os necessários “improvements e upgrades” no processo de construção da cidadania nordestina.

Essa onda de expansão e de dinamismo  na área econômica está pressionando não apenas por investimentos adicionais em infra-estrutura, mas, também, está provocando melhoria no desempenho em segmentos como a educação formal, a saúde de alta complexidade, a formação de pessoal técnico e a melhoria nos processos de gestão da coisa pública. Ou seja, parece que o processo de mudança estrutural está sendo irreversível e, se porventura, a União acelerar a realização dos investimentos em infra-estrutura, gerando, com isso, as externalidades positivas para  a atração de atividades diretamente produtivas, estão estará, em curso, efetivamente, uma verdadeira política de correção de desigualdades espaciais.

Por outro lado, se se considerar que a maior parcela de população abaixo da linha de pobreza absoluta está no Nordeste e, a continuar os programas de compensação de renda,  a modernização esperada e desejada, ganhará “momentum” e tornar-se-á irreversível.

Finalmente, um dado extremamente saudável nesse processo é que o crescimento ocorre de maneira descentralizada, gerando-se pólos dinâmicos nas regiões interioranas e dando surgimento a verdadeiras metrópoles regionais.

Os sonhos de Celso Furtado, de Rômulo de Almeida, de Raul Barbosa e de tantos outros economistas e políticos nordestinos, está se tornando real concreto:  o sertão está virando mar e a prosperidade está chegando a milhões de lares antes desvalidos e sem esperança!

E O SHOW VAI COMEÇAR…

A propaganda pelo rádio e pela televisão aberta começa amanhã e vai até o próximo dia 30 de setembro. A campanha é curta. Desde o momento em que a legislação permite algum tipo de propaganda ou, pelo menos, a indicação de que alguém é candidato a alguma coisa – 90 dias antes do pleito! – até quando se apresentarão no rádio e na televisão, ou quarenta e cinco dias antes do embate!

E qual será o comportamento do eleitorado nessa que, até agora, é a mais chocha, insossa e insípida campanha jamais vista no país? E, será que o horário eleitoral gratuito – para quem? – sensibilizará o eleitorado? Alguns desligarão a TV no momento em que começarem os programas ou irão ver filmes ou abrirão  o seu “tv set” nos canais de tv por assinatura. Outro segmento assistirá tais programas com manifesto desinteresse. Outro grupo, notadamente aqueles que são assíduos telespectadores da TV Câmara, TV Senado e Voz do Brasil, colar-se-ão aos seus aparelhos para ouvir e ver o desfile das candidaturas. E, o que ficará de tais movimentos? As repercussões, na mídia, no dia seguinte e os comentários, entre os que assistiram, sobre as idéias e propostas bem como sobre a postura dos pretendentes.

Os candidatos majoritários buscarão explorar a sua história de vida, seus êxitos bem como, explicarem como resolveram problemas que afetam as populações, no curso de suas gestões em cargos que ocuparam, entre outros aspectos. As propostas se vincularão aos dramas que mais afligem as populações mais sacrificadas como saúde, segurança, educação, transporte de massa e emprego.

No caso dos presidenciáveis,  os mesmos irão bater na tecla da continuidade porquanto tudo é processo e, como FHC deu continuidade ao que foi plantado por Itamar Franco, Lula assentou seu programa de governo no que foi instituído por FHC e, necessariamente, Dilma e Serra mostrarão que irão continuar a obra do Grande Guia, só que aperfeiçoando e corrigindo distorções verificada na sua implementação ou garantindo um “up-grade” quantitativo e qualitativo a certos programas.

Claro que as provocações surgirão do tipo: “Você, porventura, entregaria o seu filho para ser levado para a escola num ônibus onde o motorista nunca dirigiu um veículo desse tipo? Você compraria um carro de uma pessoa  que mentiu sobre a sua vida pessoal? Você entregaria o seu filho para ser operado por um médico que nunca trabalhou num hospital ou numa emergência?”

Enfim, muitas pessoas procurarão descobrir quais propostas apresentadas pelos candidatos mostram maior viabilidade de concretização e se, ao apresentá-las, os candidatos transmitem credibilidade no que falam.

Por fim, os candidatos majoritários e proporcionais devem ter em mente que os programas começam com uma audiência que sobe nos primeiros programas, caem no meio do caminho e volta a subir ao final da campanha.

Dentro de tais perspectivas, o espetáculo vai ser construído e quem mais se beneficiará do instrumento midiático, não se pode saber nesse primeiro momento. Quem está à frente  nas pesquisas de opinião, terá mais vantagens? Quem está atrás recuperará o tempo perdido e criará espaços para crescer? Espera-se que, pelo menos, o eleitorado possa conhecer mais e melhor as opções  que se colocam ao seu julgamento. O resto é aguardar e “rezar” para que Deus ilumine almas e corações para que as escolhas foram as mais legítimas e adequadas para o interesse do povo brasileiro.

O BRASIL, A DESACELERAÇÃO ESTIMULADA E A CRISE MUNDIAL.

O Brasil cresceu 9,96% no primeiro semestre de 2010 e, mesmo em face da desaceleração imposta pelas políticas macroeconômicas nacionais, mesmo assim terminará este ano com um crescimento entre 7,3 a 7,8%. Para 2011 a expectativa é de um crescimento entre 4,5% e 5,0% do PIB.

Segundo os dados de crescimento do consumo interno, nem o aumento da taxa básica de juros, a SELIC, fez arrefecer ou desacelerar o consumo das famílias, no País. Como o aumento da taxa SELIC não provocou a elevação das taxas na ponta, o impacto do crédito, do aumento da renda, do salário médio e da própria incorporação de novos consumidores ao mercado, pelo aumento do emprego e da redução das desigualdades, está produzindo significativo efeito positivo no consumo. E, por conseguinte,  uma dinamização do crescimento econômico do País apoiado, fortemente, no mercado interno. Isto porque, até bem pouco fonte de dinamismo da economia interna, o setor externo, apesar do crescimento das exportações, apresenta um balanço de transações correntes, este ano, apresentando significativo déficit!

Segundo o Economista da FGV, Marcelo Nery, “se a tendência de crescimento e de redução das desigualdades no País prosseguir, nos próximos anos, mais 14,5 milhões de brasileiros sairão da faixa de pobreza e outros 36,5 milhões serão adicionados às chamadas classes médias brasileiras – b e c – de 2010 a  2014”.

O mais interessante nesse processo é que, mesmo sem dispor de qualquer política de redução de desigualdades espaciais e regionais, o notável impacto positivo do crescimento nacional é que a renda média do nordestino, outrora região pouco dinâmica e de crescimento sempre inferior à média nacional, de 2003 a 2008, cresceu a taxa de 7,3% ao ano, mesma proporção em que cresceu a renda do trabalho! E,  em face de vários fatores inclusive das politicas de compensação de renda, a nível nacional, a renda per capita dos mais pobres cresceu a taxa de 10% ao ano, segundo o economista da FGV.

Em face de tais dados e mantido o ritmo de expansão da economia e de redução das desigualdades dos últimos anos, até 2015 o Brasil passará o PIB da Itália e, até 2025, o da Inglaterra, para “gáudio” dos brasileiros!

Não obstante dados tão favoráveis, os analistas também advertem para o fato de que a reaceleração da economia americana estancou; de que a crise da zona do Euro se mantém e de a China não ter encontrado o dinamismo desejado de seu crescimento, na demanda interna, como esperado e requerido para ficar imune às crises econômicas internacionais.

Tudo isto que ocorre no ambiente externo, necessariamente, deverá ter repercussões no crescimento brasileiro dos próximos anos. Além disso, os componentes internos a gerarem restrições e estrangulamentos – problemas fiscais, estouro na balança de transações correntes, carência de mão de obra qualificada e problemas de logística nas áreas de transportes, comunicações e energia – não encontraram um planejamento estratégico para enfrentá-los, antes que seja demasiado tarde.

Espera-se que a partir de inúmeras advertências feitas sobre os problemas que, internamente, limitam o crescimento do país, ocorram decisões capazes de superá-los e permitir que todo o quadro de otimismo que se anteviu e se desenhou acima,  para o País, efetivamente se concretize.