DUELOS DE EGOS, CONFRONTO DE VAIDADES!

Dilma vai pagar um preço, do mesmo modo que pagou Serra, do excesso de vaidade, de soberba e de presunção de Lula. Serra, pela sua própria presunção e pela soberba de FHC, ao não querer estar ao lado do ex-presidente temendo pagar os ônus de seu último ano de governo, considerado, por muitos, um tanto desastroso, pagou o preço de sua própria soberba!

Agora Dilma, assim que apear do poder e começar a fazer o seu vôo solo, será obrigada a, muitas vezes, dar explicações sobre os excessos verbais de Lula e, aí, terá que mostrar a lealdade canina dos dias de hoje ou denegar as desastrosas, inapropriadas e inoportunas opiniões do chefe.

Sabe-se que a dura reação da mídia nacional a Lula, como que buscando desconstruí-lo, nada mais representa do que a demonstração, para Lula  e o PT, de sua força num regime democrático bem como representa uma forma de responder a tentativa do governo de manietar, controlar e subjugar à mídia aos desígnios do comissariado petista. Enquanto o Estadão estiver impedido de exercer o seu papel, em face de decisão da Justiça, em resposta a recurso impetrado, contra o jornal, pela família Sarney; enquanto as idéias de Franklin Martins sobre o Conselho Nacional de Jornalismo estiverem prevalecendo; enquanto forem sendo cerceadas as liberdades dos veículos ou ameaçadas por uma proposta nacional de direitos humanos, dificilmente os grupos sociais mais esclarecidos deixarão de temer pelos seus destinos.

Em 2002, para superar os temores do empresariado e dos banqueiros, Lula teve que adotar três medidas para superar tais dificuldades: a carta aos brasileiros; a indicação de José Alencar para vice; e, por último, a escolha  de Palocci para condutor da política econômica nacional.

Portanto, essa campanha presidencial vai ser um conflito de egos, um confronto de vaidades e um duelo de arrogâncias, sendo que Lula conseguiu ser mais prepotente e arrogante do que a tão criticada elite branca e de olhos azuis do país.

COMO SE DESCONSTRÓI UM MITO!

Este cenarista tem ponderado, em várias ocasiões e, frequentemente, tem insistido na avaliação de que a oposição não tem sabido construir um discurso convincente para intentar confrontar o governo de Lula. Ou seja, exercer o papel que lhe cabe e lhe compete de questionar o PT e seus aliados, no que diz respeito a sua forma de governar, o desrespeito a princípios éticos e valores morais consagrados e o uso, para fins pessoais, particulares e partidários, de recursos e meios públicos. Já que, confrontar Lula, ele mesmo, teria sido, para os seus opositores, um verdadeiro “nonsense”, vexaminoso e com poucas chances de êxito. Tentar desmontar, como foi tentado algumas vezes, só fez vitimar e ampliar o seu prestígio popular.

A experiência, dos últimos anos, demonstrou que não adianta falar do “talento empresarial de Lulinha”, nem dos êxitos dos “cumpadres” e amigos do Presidente; nem dos esquemas de corrupção dos mensaleiros, dos sanguessugas, dos aloprados e de tantos e tantos casos nem, tampouco, dos 600 mil “doados” por Dona Mariza para garantir a tranquilidade de seus netinhos, bem como outro “causos” meio que cabeludos e que acompanharam esses quase oito anos da era Lula.

Nada disso afeta o conceito e o prestígio de Lula. Ao contrário, mostra que “os invejosos” e a “elite branca” não aceitam o êxito que “um nordestino, operário e retirante”, possa ter alcançado por ter feito o governo que fez em favor do Brasil e, particularmente, dos desassistidos e descamisados.

Na verdade, no momento em que Lula “se fez mito e habitou entre nós”, qualquer tentativa de desconstruí-lo só faz operar algo que sempre o privilegiou. Ou seja, “bater” em Lula sempre funcionou como uma espécie de “fermento Royal”, fazendo inchar o prestígio e o próprio ego de Lula.

Praticamente, nesses quase oito anos, só houve um momento em que Lula “tremeu” nas bases e, lamentavelmente, para a Oposição, diante de um Presidente fragilizado, a oportunidade foi perdida. A oposição não foi capaz de aproveitar a chance de, talvez, até ter “apeado” Lula do poder. E isto ocorreu à época do “Mensalão”, período em que o próprio Lula temeu ser “impinchado”, dado o seu próprio conhecimento e envolvimento com o tormentoso processo.

Mas, pela incompetência da Oposição e, em face de um misto de sorte, carisma e bons ventos internacionais favorecendo a economia brasileira, Lula só fez crescer em conceito, prestígio e popularidade, não só “cá dentro” como alhures.

Ao ser agraciado com vários prêmios internacionais, receber forte apoio da mídia mundial e ser chamado, pelo próprio Obama de, “o cara”, Lula ampliou o seu prestígio interno e, efetivamente, construiu-se como mito. Isto em decorrência da sua enorme capacidade de se comunicar junto a todos os segmentos da sociedade, máxime as classes C, D e E. E ela foi muito bem aproveitada.

Por outro lado, a estratégia de Lula para as altas camadas da população, ou seja, para as populações de alta renda, Lula conseguiu cooptá-las  com um privilegiamento do sistema financeiro, fartos recursos de financiamento do BNDES e dos Fundos de Pensão, afora outros mimos. Com isto o “Mito Lula” tornou-se imbatível, inquestionável e incontestável, dando-lhe o privilégio de poder produzir uma pororoca de sandices e de asneiras. E, esse comportamento de Lula,  para muitos,  tem  mostrado que ele perdeu os limites do controle e se alçou a uma espécie de patamar divinal.

Considera-se com o dom da infalibilidade e decidiu, de moto próprio, para si e para os seus seguidores, que o mundo deveria curvar-se aos seus pés. Ocorre que, diante dessa crença, por parte de Lula, de que nada o atinge, nada o afeta e nada o constrange, Lula, como que, perdeu o senso crítico. Ficou agindo com a total falta de freios, de auto-crítica e, diria este cenarista que, até com uma chocante irresponsabilidade. O comportamento do Presidente parece que transmite a idéia de que ele está a entrar em um processo de crise existencial, talvez por aproximar-se o doloroso tempo “de ter que voltar à planície”, o que, para ele, será muito duro e difícil.

E essa falta de prumo, levou a que Lula desperdiçasse conquistas possíveis e já quase dadas como certas, como seria uma indicação, com muita viabilidade, para concorrer o Prêmio Nobel da Paz e a própria idéia que havia de fazê-lo Secretário Geral da ONU.

Mas depois do caso Irã, do deplorável desempenho diante da morte do “preso de consciência” cubano, do total apoio a chamada, por ele, “democracia venezuelana” do companheiro Chávez, das bobagens no caso de Honduras e o seu apoio a ala “albanesa” e xiita do PT, então as coisas mudaram, internacionalmente, e o seu prestígio sofreu duros revezes. Basta ver o comentário do escritor Mário Vargas Llosa que afirmou que Lula se juntou “a escória da América”! Para o jornalista Moisés Nahim, da revista Foreign Affairs considera Lula “um dos cinco grandes hipócritas de 2009”, numa demonstração de um mal estar generalizado que tomou conta da mídia internacional contra o Presidente do Brasil. A sua incontinência verbal, inclusive com a pesada gaffe cometida frente a ex-Presidente do Chile, Michelle Bachelet quando, em visita oficial para levar solidariedade do povo brasileiro ao povo chileno, Lula arrematou com este infeliz comentário: “Ainda bem que não morreu nenhum brasileiro”.

No que concerne ao público interno, a uma série de propostas de seus companheiros mais radicais, não apenas relativas às propostas estatizantes, mas, até mesmo, as que conduzem ao cerceamento de liberdades e direitos civis, sugeridas em várias iniciativas de seu governo, Lula vai perdendo o prestígio conquistado, internacionalmente.

Provavelmente ele reagirá dizendo que não importa o conceito internacional, mas o conceito dos brasileiros a seu respeito, demonstrado por pesquisa que mostra que a sua candidata ultrapassou, em termos de preferência popular, o seu contendor e adversário, José Serra.

Mas, o fato, mesmo que a “mídia mancomunada com a elite branca e preconceituosa de São Paulo”, segundo Franklin Martins, continue a reprovar os seus últimos gestos e atitudes, Lula, aparenta não dar bolas para tal. Mesmo agora, quando ele deverá confessar ao Procurador que atua no caso do Mensalão, de que foi advertido por Roberto Jefferson sobre o fato, mas que, não tendo elementos suficientes para caracterizar a “coisa” como criminosa, optou pelo caminho de considerar, tão somente, tal reprovável comportamento de seus parceiros, inclusive em seu proveito, o crime como se fora “caixa 2”, destinado a apoiar candidaturas a cargos eletivos.

O problema do mito é que, quem tiver diferenças, críticas e reprovações deve entender que um mito não se combate, não se busca desestruturar e nem desconstruir, mas se deve deixar que o tempo, “senhor da razão”, bem como deixar que a própria loucura do mito, diante das conquistas e do apanágio, em termos de apoio popular, faça com que ele se sinta Deus e comece a cometer tantas bobagens e tantos erros, que acabe mostrando aos seus admiradores, que o “Rei está nu”.

A visão desse cenarista é que, aos poucos, diante de uma antecipada nostalgia do poder, de um conjunto de dramas existenciais de quem foi tudo e podia tudo e, logo e logo, não terá mais tal poder; diante da consciência de que Dilma, caso seja eleita, não guardará a “moita” para o seu retorno daqui a cinco anos; considerando que, se Serra for o eleito, Lula terá que dar explicações sobre fatos e atos que ficaram nebulosos; e, levando em conta, que a solidariedade da companheirada nunca foi a ele, mas tão somente ao poder, dentro do pragmatismo cínico dos companheiros que sobraram ao seu lado, aí o mito deverá mostrar que tinha “os pés de barro”.

Porque o “calcanhar de Aquiles” de Lula é, provavelmente, a possível insanidade que domina aqueles que se sente acima do bem e do mal!

MEIRELLES E A SAÍDA!

Finalmente, aquilo que já era esperado, ou seja, o que já fazia parte do “script” na cabeça de Lula, começou a se desenhar para o “distinto público”. Desde o momento em que Lula botou na cabeça que a candidata a presidente seria Dilma Rousseff, ele começou a engendrar uma maneira de, além de garantir minutos preciosos de TV do PMDB bem como um apoio parcial do maior partido do País, criar a possibilidade de gerar um candidato a vice, do PMDB, sem os estigmas do grupo de Michel  Temer. Porém, na sua cabeça, para vender uma “ex-guerrilheira” ao País, seria necessário fazer com que  agregasse um acompanhamento mais palatável, principalmente para os segmentos conservadores do País.

Para tanto, era necessário “envolucrar” Dilma com uma candidatura a vice capaz de, mesmo o país confiando em Lula, assegurar que, mesmo sem Lula presente, o compromisso assumido de estabilidade sem sobressaltos, seria mantido. E foi aí que Lula inventou a sua nova Carta aos Brasileiros, versão 2010, revista e atualizada, na figura de alguém que, ao lado de Dilma, desse a garantia de que as bases da política econômica contariam com um guardião confiável e respeitável e, por mais que Dilma pudesse vir a ser monitorada pelo PT, tal figura “seguraria as pontas” e daria o aval necessário para que se acreditasse que nenhum solavanco, de vulto, ameaçasse as bases da economia brasileira. E esse alguém, com muito carinho e dedicação, foi trabalhado para assumir tal papel e ser colocado, para julgamento da opinião pública, no momento o mais oportuno possível. Fê-lo filiar-se ao PMDB e, também, dizer a todos e a tudo, que se manteria no governo até o final do período lulista. Assim foi “inventado” Meirelles para colocar, “goela abaixo” dos dirigentes do PMDB, como o “seu” candidato a vice de Dilma. E, como ficarão os donos do partido? Mas que partido, perguntarão os que conhecem o DNA do PMDB? Se o partido já está e sempre esteve mais do que partido e repartido? Vão, os espertos dirigentes nacionais do PMDB ter que “engolir” o que o sapo barbudo inventar para vice de Dilma, porquanto, amanhã, segundo antecipam as más-línguas, sairá uma nova rodada de pesquisas onde Serra deverá cair mais um pouco, o que coloca Lula, com a “faca e o queijo” na mão para dizer para o PMDB: “é pegar ou largar do jeito que eu oferecer”. E, ao lado de alguns mimos do tamanho moral do partido, dobrar as “espinhas” mais rígidas do partido.

Aí então, Meirelles será ungido vice de Dilma, o empresariado e a classe média conservadora ficarão atendidas e, a própria comunidade internacional, não verá Dilma como um perigo iminente. É esperar para ver o que vai acontecer!

E A ECONOMIA, HEIN?

Os dados divulgados agora revelam o que os economistas já esperavam: a economia brasileira encolheu 0,2% e, a renda das pessoas, pelo menos 1,5 a 1,7%! Mas, como diria o inesquecível Bussunda, quando solicitado a montar um slogan para uma campanha em favor do Rio de Janeiro, se saiu com esta: “Podia ser pior. Podia ser São Paulo”. Então, para não ficar atrás, a gente pode dizer, diante de tal resultado: podia ser pior, podia ser igual ao México, que encolheu mais de 6% em 2009! Claro se olhar os brasileiros para os 6,5% da Índia e os 8% da China, aí a gente fica meio que frustrado!

O importante a considerar é que, este ano, o país está retomando o crescimento, de maneira muito forte, aproveitando a folga de capacidade instalada e um pouco de investimento privado adicional vez que, os investimentos do PAC, continuam lentos e lerdos. A taxa de poupança do país ainda continua em 16,5% e, quem sabe, talvez, este ano, suba para um patamar um pouco mais elevado. Mas é bom que se chame a atenção para o fato de que, o índice mais adequado para um crescimento significativo e necessário ao País, seria algo em torno de 25% do PIB, coisa difícil de se atingir pois as restrições tributárias, os encargos trabalhistas e previdenciários, as dificuldades ambientais para o desenvolvimento dos negócios, além da burocracia asfixiante, limitam as possibilidade de atingir tal índice.

TÓPICOS RELEVANTES!

Ainda repercute, não só na mídia nacional, acusada por Franklin Martins de “golpista e aliada a grandes grupos econômicos, que buscam manchar a imagem de Lula e desconstruir Dilma Rousseff”, o “affair” Lula versus grevistas de fome cubanos.

O cubano na fila para morrer, em breve, o jornalista e psicólogo Guillermo Fariñas, acusa Lula de ser “cúmplice da tirania” e que esqueceu que já foi um perseguido político como ele. Ao que Lula redarguiu condenando a greve de fome de cubanos dissidentes e qualificando de “artifício” usado por presos políticos e que não deve servir de “pretexto de direitos humanos para liberar pessoas”.

A intransigente defesa do regime castrista por Lula tem recebido críticas cá dentro e alhures. E, nenhuma delas vinculadas a postura do chamado “Imperialismo Americano”! E, fontes palacianas, argumentam que o governo brasileiro não pode e não deve interferir ou opinar sobre decisões de governos de outros países nem tampouco discutir ou questionar por que os cubanos foram presos, etc. etc. etc.

É bom lembrar que o governo brasileiro não consegue se dar bem com dissidentes cubanos, haja vista o caso dos boxeadores que… Deixa prá lá! Está o país mais para Zelaya, Battisti, etc. do que para “esses caras” que “desafiam o poder revolucionário de Cuba, ninguém sabe a serviço de quem”. Cometem “haraquiri”, pela vaidade, talvez, de ganhar uma imortalidade, nem que seja, efêmera, segundo argutos e representativos ideólogos dentro da intimidade de Lula. O assunto ainda vai render muito ainda, mas, como Lula está acima do bem e do mal, ele continuará a não dar bolas para tal julgamento de uma “mídia vendida e mercenária”, segundo o ideólogo-mór do regime, Franklin Martins.

O comentário de Lula, colocando no mesmo nível bandidos e presos políticos, revoltou, até mesmo, a OAB Nacional, que repudiou tal comentário e a mídia está a indagar qual a importância estratégica – comercial, financeira, geopolítica ou o que seja – de Cuba para o Brasil? Qual o conceito de Direitos Humanos na visão brasileira? A profunda admiração de Lula e de seus seguidores a Cuba, deriva de uma idéia de que o socialismo “democrático?” cubano poderia ser espelho para a construção do socialismo bolivariano brasileiro pensado pelos ideólogos do regime?

O segundo assunto, esse mais interessante e palatável, é como ganhou corpo e evoluiu, contra a opinião do Palácio do Planalto, a emenda Ibsen/Humberto Souto, relativa à distribuição dos royalties do pré-sal que, segundo a avaliação desse cenarista, representará o verdadeiro deflagrar de um federalismo fiscal, que abrirá espaços para uma reforma tributária necessária e exigida pela sociedade e pela economia brasileira. Isto porque, a reforma tributária encontra,  como principal obstáculo político para a sua viabilização, o conflito distributivo entre os entes federativos. Ontem, no plenário Nereu Ramos, houve uma ampla mobilização de políticos municipalistas buscando, entre os parlamentares, o apoio para a proposta. E, para a satisfação dos municipalistas convictos, ela foi viabilizada, com sua aprovação ontem, no apagar das luzes. Então, multiplicar-se-á por 10, no mínimo, as receitas da maioria dos municípios brasileiros.

Restará agora, a votação no Senado, onde o governo tentará derrubá-la. Se não, Lula poderá, se aprovada, vir a vetá-la. Aí, a Câmara será chamada a derrubar o veto de Lula. E, aí, num ano eleitoral, nem Lula vai vetar, nem o Senado vai rejeitar e ninguém vai querer brigar com prefeitos!

O terceiro assunto é a candidatura das oposições à Presidência da República que, agora, ou vai ou racha. As manifestações de tucanos, de aliados de peso – Senador Jarbas Vasconcelos, entre outros – e a perplexidade da mídia, ansiosa pela abertura da “temporada de caça”, está gerando uma angústia, quase intolerável, na sociedade civil brasileira. Tal clima  está levando a um “estreitamento” dos espaços de movimentação de José Serra e, consequentemente, a sua manifestação explícita quanto à assunção de sua candidatura.

Enquanto não há definição, Lula, juntamente com a sua fiel escudeira, Dilma, passa por cima da lei, dos costumes e dos hábitos políticos e faz campanha, aberta e clara, como se estivesse dentro dos prazos estipulados em lei. Aliás, Lula criticou Serra por haver apresentado uma maquete de ponte a ser construída em São Paulo querendo, deixar claro, que se Serra faz por que ele não pode fazer?

O que se espera é que o novo Presidente do TSE, Ministro Levandosky, manifeste-se sobre o que o Presidente e os governadores podem ou não fazer de política eleitoral, fora dos prazos legais. É esperar para ver se, como até agora, tudo será considerado normal e legal.

No mais, só FHC, de maneira coerente e correta, faz a defesa daquilo que representa o verdadeiro conceito do moderno liberalismo. Em palestra em São Paulo, FHC afirmou que “o liberal típico não é de direita, ressaltou. Nos Estados Unidos a palavra quer dizer progressista”. Mais adiante coloca FHC: “numa sociedade onde o estado é enorme e vai continuar sendo, é preciso valorizar as liberdades individuais. E é preciso estabelecer uma discussão mais relevante se se “deseja um capitalismo burocrácio, corporativo, em que o Estado manda e resolve ou um capitalismo de competição, de clara orientação liberal”.

E finaliza dizendo que “nem o liberalismo americano e nem o europeu é ser contra o Estado e a favor do mercado. Isso é um clichê de luta política do Terceiro Mundo”.

Por enquanto, só FHC, com ciência e consistência, mesmo que dele se discorde, apresenta temas para uma discussão madura do que quer e do que pretende a sociedade brasileira em termos de amanhã.

Quem se habilita a trocar as agressões por uma discussão mais profunda dos desafios que se impõem sobre a sociedade brasileira?

TANCREDO, O ARAUTO DA ESPERANÇA QUE NÃO SE CONCRETIZOU!

As celebrações do centenário de Tancredo Neves revelaram, para as novas gerações, a dimensão política de um homem que, em momentos cruciais da história do Brasil, deu lições de brasilidade, de transigência e de conciliação e de capacidade de encontrar soluções para os impasses construídos pela incompetência de uns, pela prepotência de outros e pela arrogância de muitos.

O mineiro de São João Del Rey, se iguala, na visão e ótica deste cenarista, no mesmo nível de estadistas como Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa, Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, sendo que, na habilidade e no desprendimento político, supera os dois últimos. Ele faz parte de um tempo onde os políticos eram cassados por defender a democracia e a Constituição, diferente dos tempos amargos de hoje, onde quando não vagam impunes, são cassados por corrupção e desrespeito às leis do país.

Este cenarista fez política, ainda no tempo em que o eleitor se orgulhava do seu representante, quando o representado lembrava-se dos bons momentos e das boas ações, das iniciativas e dos discursos do seu deputado; onde, por exemplo, este cenarista teve o privilégio de ser chamado por Tancredo Neves de “o Vanguardeiro do Nordeste”, não só pelo seu papel no Colégio Eleitoral que o elegeu, mas pela sua crença inabalável de que era crucial que o nordestino vivenciasse e experimentasse uma espécie de “ideologia da nordestinidade”, sentimento de amor a terra tal qual o que liga os mineiros a Minas, a Minas de todos os brasis.

Ministro da Desburocratização, escolhido tão somente pelo próprio Tancredo, como é testemunha o Senador Pedro Simon, este cenarista procurou honrar a opção que lhe fez “o arauto da esperança” e construiu, no período em que foi ministro, toda a estrutura da defesa do consumidor no Brasil, além de ter dado enorme impulso à informatização do Judiciário e a proposta de agilização de suas ações, através de um amplo trabalho de organização e métodos nos fóruns e cartórios espalhados pelo Brasil afora.

Se tal não bastasse, construiu todo um conceito e um trabalho a favor do empreendedorismo nacional, não só como ministro, mas depois, quando implantou o próprio SEBRAE, com S, dando-lhe autonomia administrativa, orçamentária e financeira e desenvolvendo o programa Pequenas Empresas, Grandes Negócios!

Tudo sob a inspiração daquele homem pequeno, mas que foi capaz de responder, aos trinta e cinco anos, como Ministro da Justiça de Getúlio, ao desafio de se propor a enfrentar os militares golpistas da época. E que garantiu, com sua ação negociatória e conciliatória, a posse de JK na Presidência da República. Foi fiador da posse de Jango, com a engenhosa criação da figura do parlamentarismo no Brasil, respeitando o direito do presidente constitucional do País, João Goulart, e que, pelo seu papel histórico de estadista, teve profundo respeito por parte de Castelo Branco, ao rejeitar, com um duro, “Este não!” a proposta de militares radicais pedindo a sua cassação nos pesados anos de chumbo do golpe militar.

E foi Tancredo, representando o espírito libertário de Minas quem aceitou o desafio de confrontar o poder e, num difícil colégio eleitoral, mudar a história do Brasil e iniciar a construção do estado democrático de direito. Tancredo, que tinha como farol dos seus sentimentos democráticos, o protomartir da independência, Tiradentes, a quem chamada “desse herói ensandecido de esperança”. E essa saga de Tancredo, quando ao tomar posse no Governo de Minas, de maneira tão oportuna e precisa, iniciava o seu discurso, com a frase símbolo das alterosas: “Minas, teu nome é liberdade”!

Quando os brasileiros e o mundo assistiram a um pedreiro cubano, depois de oitenta e cinco dias de greve de fome, morrer, enaltecendo  o seu próprio gesto ao afirmar que “morrer pela liberdade e pela democracia é viver eternamente” ou como está a afirmar uma outra vítima do estado ditatorial cubano, Guillermo “Coco” Fariñas, ao afirmar que “há momentos na história em que é preciso haver mártires”, a gente se orgulha de Tancredo que deu uma vida pela preservação das liberdades e dos direitos civis dos brasileiros. E sonha com um retorno glorioso a um passado de ética e do respeito ao  múnus públicos de homens como ele, Ulysses, Teotônio e tantos outros.

Parece que estes dois cubanos estariam, de forma indireta, homenageando aquele que, para nós, não apenas criou a Nova República, como nos deu a maior das lições de que “tudo vale a pena, até mesmo a  vaidade de ajudar a construir a liberdade e lançar as bases do respeito a cidadania”.

QUAIS AS PROPOSTAS QUE DEVERÃO SER LEVADAS A PÚBLICO PELOS CANDIDATOS?

Muita gente começa a mostrar preocupação com o discurso e com as propostas dos candidatos à Presidência da República, máxime as idéias daqueles com maiores possibilidade de êxito eleitoral, no caso, Dilma e Serra.

Não satisfaz ao grande público o belo fraseado de que “não interessa o embate entre o ontem e o anteontem”. Nem tampouco que são “as idéias e não as pessoas que devem brigar”. Não importa as adjetivações do tipo, “continuidade sem continuísmo” ou as indicações mais chulas do tipo “time que está ganhando não se mexe”. Tampouco, dizer como este cenarista tem dito que as pessoas querem saber o que propõem os candidatos para o seu amanhã e não falar de coisas já conquistadas. Nem tampouco que se vendam sonhos e esperanças. O que se cobra é que sejam consequentes.

Na verdade as pessoas querem respostas para os seus dramas e, de um modo geral, não são os seus chamados direitos difusos ou as propostas para a coletividade que lhes interessam. Preocupam-se com a saúde, a educação e a segurança, de maneira mais geral. Estão atrás é do emprego, da vaga do filho na escola pública, do atendimento hospitalar, do transporte coletivo mais adequado e da chance de sonhar que o amanhã será bem melhor do que o ontem. No fundo, as pessoas querem respostas para os seus problemas pessoais e suas angústias mais imediatas.

Lembra tal comportamento das pessoas, muito o que, se não se engana o cenarista, uma passagem do livro de Eça de Queiroz, “O Conde D’Abranhos”, quando um seu humilde eleitor foi levá-lo o seu também humilde pleito. O Conde, deputado representante do pobre homem, começou a discorrer sobre os conflitos da humanidade, as crises existenciais e os problemas humanitários maiores. E o pobre homem, segurando o chapéu, após ouvir tão longo discurso disse, humildemente: Seu Conde, eu só vim aqui atrás do meu emprego!

Na verdade, não adianta dizer o candidato que promoverá um crescimento sustentável ambiental e socialmente; que a estabilidade econômica é condição sine qua non para um crescimento seguro; que as conquistas sociais serão mantidas e ampliadas; que educação, saúde e segurança são prioridades maiores do governo, etc. e etc., pois tudo isto não cala junto ao povo.

Provavelmente um discurso com vista a solução de problemas de forma mais pontual, atenda melhor e seja melhor compreendido pela população, não apenas pelos filhos do bolsa família mas também pelos mais abastados.

Se alguém quiser fazer um discurso convincente para os cariocas, por exemplo, que tal propor que apoiará a montagem das UPPs em todas as grandes favelas do Rio? Que tal propor programa de mudança de populações de áreas de risco desde que seja de todo impossível urbanizar e dar segurança as atuais ocupações? Que tal garantir que o metrô estará atendendo a, pelo menos, 80% da população do Rio até 2014? Que tal garantir aos nordestinos que, até 2014, toda a questão de água estará resolvida com a transposição, as adutoras do sertão e outras soluções capazes de superar de vez o drama das populações do semi-árido? Que tal prometer aos paulistanos que, nunca mais, o desastre de 2009/2010 se repetirá, pois se montará sistema assemelhado ao de Tóquio de proteção contra inundações? Que tal prometer um “tour de force” no sentido de superar os gargalos de infra-estrutura acelerando os investimentos em portos, aeroportos, ferrovias, rodovias, comunicações, etc., quer via investimentos diretos, PPPs, investimentos internacionais, concessões, etc.?

Enfim, propostas pontuais que respondam aos grandes desafios do país, mas que a população perceba a relevância e a urgência bem como a capacidade do governo de fazê-las e viabiliza-las, deverão representar o discurso mais interessante e confiável dos candidatos.

O pontual vai superar o geral.

DEPOIS DE MINAS, O QUE VIRÁ?

Muitas foram as confabulações, as articulações e as tramas de bastidores ocorridas em Minas, na última quinta-feira. Muitas foram as especulações, as interpretações de gestos e as tentativas de avaliar o que queriam dizer alguns próceres, de forma direta e expressa ou, talvez, nas próprias entrelinhas. Nunca houve uma circunstância em que cada gesto foi pensado, medido; cada palavra ponderada; cada indagação respondida com cautela e avaliando as suas consequências, como nesta festiva e apoteótica quinta-feira, em Minas Gerais.

A hora, para os políticos, para os analistas políticos e para os jornalistas, é a de buscar interpretações, fazer conjecturas e ilações sobre o que sobrará das comemorações dos cem anos de Tancredo Neves. Os mineiros sonhavam que ali, dar-se-ia a concretização de seu “wishful thinking”, qual seja, ver o seu menino-homem, ungido candidato das oposições, à Presidência da República. Mas, o calabrês José Serra, com muita estrada e muita vivência, é muito mais frio, mais experimentado, mais calculista e mais senhor de seus destinos do que a “vã filosofia imagina”, de tal forma que, nem as grandes emoções ai sofridas ou vivenciadas por ele, abalaram, aparentemente, o seu “mood”. Serra saiu do evento, para muitos, com determinação ainda maior de ser candidato, já tendo mandado Goldman, seu vice, preparar-se para assumir o governo e Aluisio Nunes Ferreira e o seu marqueteiro, prepararem-se para estabelecer orientações e diretrizes para que o comando nacional do partido ajuste-se a linha e aos ditames do que é o seu estilo e seu “jeitão” de comandar o processo.

Ciro Gomes, parceiro de empreitada de Aécio na eleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, também torcia, desesperadamente, para que fosse Aécio o candidato, pois que, em tal ocorrendo, resolveria os problemas seus, de Tasso e do governador, seu irmão. Ciro até provocou Tasso chamando-o, carinhosamente, de “meu vice-presidente”, vez que, o que se especula é que, caso Aécio não aceite ser vice, Serra buscaria um vice do Nordeste e, o mais adequado e oportuno para a empreitada, seria o Senador Tasso Jereissati. Claro que alguns acham tal possibilidade remota porquanto Tasso sempre teve e, parece ainda ter, as suas diferenças com Serra. Mas, como o que interessa é ganhar o pleito, Serra “engoliria” Tasso. Isto porque o Ceará é o quinto maior colégio eleitoral do País e, até agora, é o mais “embrulhado” no que tange a formação de palanque para Serra. Tasso não se entusiasmou, aparentemente, com a idéia, pela provocação que se fez de sua possível candidatura a vice de Serra. Mas, como dizia Gonzaga Motta, ex-governador do Ceará, “a política é dinâmica” e, tudo pode acontecer!

Por seu turno, o PT continua querendo aprontar das suas, ameaçando lançar o nome de José Alencar como candidato ao governo de Minas, numa nítida provocação aos demais partidos, fazendo jogo com o estado de saúde do Vice-Presidente, para tirar proveito eleitoral em Minas.

Por outro lado, os petistas estão apavorados com a hipótese de Lula credenciar-se, efetivamente, para assumir a candidatura de Dilma, afastando-se do governo por três meses. Deixar o governo, para os petistas, nem pensar. E o principal partido aliado de Lula, o PMDB, nem piscou para dizer que apoiaria a idéia.

Finalmente, um dos grandes temores da Oposição é que Dilma assuma muito a postura de “filha do Lula” e que, o seu papel de candidata a Presidente, seja deveras reforçado.

FALANDO DE COISAS BOAS!

Há quase unanimidade, entre economistas brasileiros e analistas de fundos de investimentos, além de alguns autodenominados cenaristas, de que, em 2010, o País crescerá mais que 5% e, talvez, menos que 6%.

E isto sem se falar no “constrangimento externo” onde se admite dificuldades em buscar financiamento para um déficit nas contas com o exterior, que deverá superar os 60 bilhões de dólares. Também, mesmo sabendo-se das restrições provocadas pelos gargalos da infraestrutura de transportes, energia e comunicações, ainda assim, o país terá um bom ano, inclusive na geração de empregos diretos.

Aliás, os resultados alcançados pelo emprego, com carteira assinada, em janeiro de 2010 – mais de 180 mil postos criados! – colocam uma perspectiva, bastante otimista, de que o Brasil superará mais de 2,4 milhões de postos de trabalho em 2010. Tais dados são bastante alvissareiros na proporção em que, em 2009, o crescimento econômico foi zero e, pelo andar da carruagem, 2011 deverá ser um ano extremamente difícil, pois as restrições institucionais, a limitação de mão de obra qualificada para a indústria, as repercussões dos problemas fiscais criados em 2009, poderão comprometer os resultados desejados ou esperados. E, em não se mencionando os problemas relativos à elevação da taxa de investimentos do país, que continua patinando no entorno dos 17%.

Ainda este ano, mas com repercussão em 2011, os problemas na zona do euro, a redução de fluxos financeiros de investimentos, além dos atrasos nas obras de infra-estrutura do famigerado PAC, deverão comprometer as expectativas de crescimento do país. Também, os dados relativos aos problemas fiscais, vez que, até agora, medidas restritivas e corretivas ainda não foram sequer aventadas, podem ampliar o conjunto de desafios para fazer com que as bases da estabilidade econômica sejam mantidas, sem atropelos.

Ademais, o “estatismo” proposto pelos lulistas, a tendência em retirar das mãos da empresa privada certas iniciativas, como por exemplo, o caso da formação de mão de obra para a indústria realizada pelo sistema S, além das dificuldades de superação dos impasses na área do meio ambiente, poderão comprometer os anseios de um crescimento sustentável e vigoroso da economia brasileira. Também é importante considerar que a “enxugada” de liquidez promovida pelo Banco Central ao aumentar o compulsório dos bancos – de mais de 71 bilhões de reais – aliado ao discurso do Presidente do Banco Central que ameaçou com “medidas duras e antipáticas”, tais como o aumento da taxas de juros básicas, pode levar a uma certa “travada” no crescimento.

Uma boa discussão a ser estabelecida agora é por que, para controlar uma tendência inflacionária, não se busca o aumento da capacidade produtiva das empresas, a redução das ineficiências, a diminuição da burocracia e a diminuição da carga de impostos, ao invés de se buscar o caminho de redução do crescimento? Por que não se aproveita o fato de que, para reduzir o impacto da crise econômica, foram realizadas, em 2009, várias renúncias fiscais setoriais, o que levou a redução da carga tributária do País em mais de um ponto percentual, e, planejadamente, tenta-se reduzir, em mais um ponto este ano? Seria uma boa contribuição do governo Lula, nos seus estertores, de ganhar ainda mais simpatias para a sua candidata.

Ainda quanto as bem sucedidas ações desenvolvidas pela iniciativa privada, é fundamental não podá-las, sob pena de enorme prejuízo para o País. É fundamental, portanto, lembrar que o SENAI, na sua função de gerar mão de obra qualificada para a indústria, em 1982, quando concorreu às primeiras Olimpíadas Internacionais sobre a qualidade da mão de obra qualificada, não teve sequer registro de sua qualificação ou do seu ranqueamento. Em 2008, chegou, pasmem, ao segundo lugar no mundo, superando Estados Unidos, Suíça e outros países desenvolvidos.

Isto vem a demonstrar que, certas iniciativas como o sistema S, devem ser estimuladas, apoiadas e fortalecidas tal como o que acontece com cerca de 30 mil alunos da rede escolar privada de Fortaleza que, nos dias que correm, levam mais vagas nas disputas dos vestibulares do IME, do ITA e da Escola Naval do que os estados de São Paulo e do Rio, juntos. Além disso, nas chamadas olimpíadas de química, física, biologia e matemática, de um modo geral, os cabeças-chatas levam 43% de todos os troféus.

Tal fato vem a demonstrar que, um pouco de visão estratégica, ousadia e capacidade gerencial dos governos, poderiam multiplicar, só no Ceará, por exemplo, a experiência de trinta mil alunos para 300 mil, em quatro anos e, dentro de um projeto bem concebido, estender os seus efeitos aos alunos da escola pública. Pelo que se vê o país não vive só da política e de más notícias.

A OPOSIÇÃO EM BUSCA DE UM DISCURSO!

O “mantra” de Dilma, usando as metáforas e as expressões futebolísticas de seu guru, já é por demais conhecido: “em time que está ganhando, não se mexe”. Ou dizendo melhor, “continuidade sem continuísmo”, pois que, a essência do que foi plantado por Lula, precisa de uma guardiã para que tais programas não sofram solução de continuidade.

Aliás, para convalidar tal tese, Lula deverá mandar já, ao Congresso, a sua CLS ou uma versão, para a área social, do que foi a CLT, para a área trabalhista. Pretende, inclusive, mandar também um projeto de lei, criando a Lei de Responsabilidade Social!

Dilma continuará “colada” a Lula, ficará “vendendo o peixe” de que ela foi quem engendrou e fez operar todos os programas do atual governo e que, tais iniciativas melhoraram a vida dos brasileiros. Ademais, Lula, como seu fiador maior, garante que ela será uma governante com capacidade gerencial indiscutível e um conhecimento profundo de como funciona o governo e a sua máquina.

À oposição só restará a alternativa de dizer que, “o passado já foi conquistado e o que o povo quer saber é o que o futuro lhe reserva”. Para tanto a oposição, na busca de desconstrução do discurso do governo, deverá mostrar, em primeiro lugar, que o que se tem hoje é fruto de um processo e não fruto do acaso ou de uma ação de um governo, um homem ou um líder isolado. Sem a EMBRAPA, por exemplo, sem a infra-estrutura de comunicações do centro-oeste, sem a ousadia empreendedora dos que se dispuseram a ocupar áreas antes inóspitas e sem a força do crédito oficial, não existiria o vigoroso, eficiente e competitivo agronegócio brasileiro. Sem o Plano Real, sem a Lei de Responsabilidade Fiscal, sem o PROER, sem o cambio flutuante e sem as metas de inflação, o País não teria atravessado as várias crises econômicas internacionais e não teria criado o ambiente propício para os negócios e a retomada do crescimento. A quem creditar tais conquistas e tais êxitos? À sociedade brasileira, em primeiro lugar. A homens, até mesmo o próprio Sarney com o seu experimentalismo do malfadado Plano Cruzado; as maluquices do curto período de Collor na Presidência, com novos planos de combate à inflação e a abertura da economia; e a determinação de Itamar Franco e de seu ministro da Fazenda em intentarem, mais uma vez, a busca e a conquista da estabilidade da moeda do País com o Plano Real.

Portanto, as conquistas de uma sociedade e de uma nação não são obra de um homem só e nem de um só momento. São fruto de um processo que, não só se fez ao longo de um período de tempo como contou com a participação de muitos. Quanto das conquistas brasileiras não se devem a Getúlio Vargas? Quanto não se deve a Juscelino Kubitscheck? Quanto não se deve aos governos militares e sua visão estatizante?

Se se pretendesse estabelecer tal processo de fulanização da história, agora mesmo, a classe empresarial estaria debitando parte significativa da desindustrialização que vem enfrentando o País, nos últimos anos, ao governo do Presidente Lula que, ao não estabelecer políticas industriais que contivesse o processo de perda de posição relativa da indústria na economia nacional, máxime num país onde 80% de sua população é urbana, seria o responsável maior por tal problema. Mas, se o processo ocorreu, diferentemente do que ocorreu com a Coréia e a China, não pode ser de responsabilidade de um governante, mas de um conjunto de ações, omissões e erros de política econômica, praticados pelos governos e pela própria classe industrial.

Portanto, a grande “deixa” ou chance da oposição é buscar construir um discurso que fale do amanhã, mas de um amanhã que “venda” ao povo “esperança consequente” e fale daquilo que diz respeito ao seu universo de problemas e aspirações.

E aí vão duas recomendações. A oposição deve esquecer a sua linguagem empolada e saber que o grande eleitorado é aquele que entende e processa bem a linguagem de Lula. A segunda coisa é propor coisas que agreguem valor a vida dessas pessoas que tentam sair da faixa de pobreza absoluta bem como aquelas que conseguiram se transformar, orgulhosamente, em classe C ou em classe média. Além de quererem ver garantidas as conquistas que fizeram até agora, gostariam de vislumbrar o que mais se lhes poderá dar para a sua ascensão social, notadamente de seus filhos.

A classe C quer ouvir, dentro do que cabe na sua compreensão e entendimento, como reduzir a violência a que está sujeita; a ver, claramente, como o acesso à saúde poderá vir a ser bem melhor e como mais e mais oportunidades de emprego surgirão a sua frente.
Ou seja, o discurso tem que falar de sonho, de esperança e de amanhã, mas de um amanhã que as pessoas possam vislumbrar e perceber. Há que mexer com o imaginário coletivo.

Este cenarista lembra-se de um estudo que foi feito, há alguns anos, sobre preocupações, demandas, aspirações e sonhos da população, dividindo-a por nível de escolaridade. Foi colocado em um gráfico, nas abscissas, o espaço e nas ordenadas, o tempo. A maior parte das pessoas de menor escolaridade e de mais baixa renda se localizava no entorno da origem, querendo demonstrar, com isso, que só na proporção em que as pessoas avançam em termos de escolaridade, elas vão se preocupando com o universo em seu entorno. Primeiro preocupam-se com o vizinho e com a semana, os mais limitados em renda e culturalmente. Depois com a rua e com o mês. Depois com o bairro e com o ano. Depois, bem pouca gente, com o amanhã mais distante e com o estado e o país. E é dentro dessa perspectiva que as coisas devem ser montadas em termos de estratégias da oposição, se ela quiser competir com o discurso, por enquanto, imbatível, do “mito” Lula e repetido, à saciedade, por Dilma.