COPA DO MUNDO, OLIMPÍADAS, GASTOS SOCIAIS E PRIORIDADES!
Inexistindo uma oposição consequente e consistente no país, a discussão que algumas pessoas pretendiam travar em torno da prioridade, da relevância e da oportunidade para o Brasil em sediar dois eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, ficou totalmente comprometida e, agora, também desproposital. Desproposital porque já são fatos consumados.
Isto porque perdeu-se a oportunidade de fazê-la, buscando talvez, demonstrar, com números, que tais investimentos seriam muito mais benéficos do ponto de vista da melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro, se destinados à educação fundamental, à saúde pública, à mobilidade urbana, ao combate à violência e a recuperação da infra-estrutura de transporte e comunicações do país, do que em tais eventos.
Ou, pelo contrário, uma simulação técnico-científica dos efeitos, diretos e indiretos; os impactos para frente e para trás em termos da atividade econömica; a capacidade de tais eventos forçarem a agilização, maior diligência e maior seriedade no que concerne ao enfrentamento dos maiores e mais graves problemas, do Rio, por exemplo, como o combate as causas da violência, a redução do caos urbano, a despoluição da Baía da Guanabara e das praias da Cidade Maravilhosa, talvez convencesse a todos os brasileiros da relevância, prioridade e importância dos eventos.
Notadamente os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro que, assim como os Jogos Panamericanos, beneficiarão quase que exclusivamente a cidade do Rio de Janeiro. E será que o Rio estaria potencialmente com mais meios do que Chicago para realizar tal evento? Em Chicago a população disse não ao evento diante do alto déficit enfrentado pela prefeitura, do rescaldo da crise econômica internacional e de outras prioridades que dominam as preocupações dos seus cidadãos.
Alguém ou alguma instituição de estudos econômicos, sociais e políticos fez uma avaliação do que representou, para o Rio de Janeiro, os quase quatro bilhões de reais gastos com o Jogos Panamericanos? Inclusive, o que foi feito da infra-estrutura montada para garantir-lhe uso alternativo em benefício da população?
A história nos mostra exemplos positivos, como no caso de Barcelona, que após a realização das Olimpíadas inseriu a cidade no roteiro turístico mundial e exemplos não tão bons assim, como no caso de Atenas. No caso do Rio de Janeiro, após a realização dos Jogos Panamericanos, o que ficou de legado para a cidade? Como estão sendo aproveitadas as estruturas montadas para os jogos em prol da população? O Engenhão, por exemplo, carinhosamente apelidado de “vazião”, não tem condições sequer de receber jogos da Copa do Mundo. E a Vila Olímpica que até hoje não se conseguiu regularizar a documentação dos imóveis?
Talvez, aqueles que apóiam incondicionalmente o Governo, afirmem que a Copa do Mundo de Futebol, por exemplo, ao ser realizada em 12 cidades, exigirá uma série de investimentos não só na infra-estrutura física – vias, metrôs, veículos leves sobre trilhos, equipamentos de saúde, equipamentos hoteleiros, etc. – mas em ações e políticas públicas destinadas ao combate à violência e a outros males da vida urbana do país. Outros afirmarão que tais eventos atrairão uma soma significativa de investimentos privados internacionais e turbinarão a atividade turística, de tal forma, que rentabilizarão, numa visão mais compreensiva, todo o esforço feito pelo país. Outros ainda falarão de quanto tais conquistas representarão para a ampliação do respeito do país no exterior; para aumentar a auto-estima dos brasileiros e para melhorar o índice de felicidade dos tupiniquins.
Em parte, tais argumentos são até procedentes e válidos. Isto porque, sendo um país que não pensa e não age a médio e a longo prazo; sendo um país que não dispõe de políticas públicas que formatem o desenho do país que querem os brasileiros e a que têm direito, possivelmente, tais eventos, forçarão a construção de cenários que levem ao planejamento de intervenções em tais áreas urbanas e em certos segmentos sociais que permitam, ao fim e ao cabo, hierarquizar prioridades que acabem atendendo ao que o país precisa. Ou seja, tais eventos iriam representar o planejamento e as políticas de médio e longo prazo para o enfrentamento de questões cruciais do país.
Ao que tudo indica, o Brasil acostumou-se a ser um país festeiro e que, mesmo não planejando o dia de amanhã e vivendo de símbolos e fantasias, acaba dando certo. Então que venham a Copa do Mundo, as Olimpíadas, o prêmio Nobel da paz, o Oscar e tudo que encha de orgulho e alegria, nem que seja uma alegria de carnaval, o maravilhoso povo brasileiro.
Perfeito. Magnífico comentário.
A diferença da atitude do povo de Chicago e a do povo brasileiro é a educação.
Desculpe, tio. Acho que fiz uma crônica e não um comentário.
Há alguns equívocos na formação do histórico popular brasileiro: primeiramente, desde Macunaíma, adoramos o malandro. Alguns acrescentam o termo “bom” ao malandro para melhorá-lo. Aqui (não conheço outros lugares no mundo), tudo acaba sendo deturpado.
Para não pagar o suficiente a um trabalhador (ou porque não pode, ou porque não quer, ou porque o mercado oferece isso), para fugir dos impostos, o empregador concede os benefícios não tributáveis. Assim, criamos o vale-transporte, o refeição, o dentista, o plano de saúde e, agora, mas não tão agora, a previdência privada, que, é claro, não é pra qualquer trabalhador.
O trabalhador, que é o peixe pequeno, achando que está se dando bem, inventa que mora num lugar – quando mora noutro – para ganhar mais um vale-transporte, vende seu tíquete-refeição com ágio de 15% em qualquer esquina e, em alguns casos do Rio, dorme sob as marquises dos prédios da Presidente Vargas.
Outra coisa louca é essa eterna festa, esse eterno carnaval que, na minha opinião, não é alegria, mas espasmo, não é festa, mas catarse – em algumas músicas do Chico, é mesmo o lugar da irrealidade (o Sanatório Geral). O carnaval é uma anestesia geral para uma operação de risco.
Fui a Salvador em Setembro e não me lembro de ter visto um lugar mais triste – acho que nem Recife, onde a prostituição é uma epidemia. Tive a sensação que todos esmolavam (escrevi isso no meu blog) e, para irmos ao Pelourinho, fomos tão recomendados que pensei que estávamos indo ao complexo do Alemão (no Rio). Sem contar que o grande povo baiano fica pulando do lado de fora da “festa”, que assim como a previdência privada, não é pra qualquer um.
E por aí, podemos colocar o carnaval carioca, o amazonense (que, disse um amigo meu, é de fazer chorar tal é a alegria alcançada em meio a tanta tristeza) etc.
Sintomaticamente, um dos personagens mais famosos de nosso folclore é o Curupira. Aquele que anda pra trás, mas faz todos pensarem que andou pra frente, ou, porque de repente eu sou um pessimista, que anda pra frente, enquanto eu, e somente eu, acho que está andando pra trás.
Pensando no Pan, o orçamento inicial esteve em R$370.000,00 e, disseram, terminou em mais de R$ 4 bilhões. Quem foi o projetista, o coordenador que conseguiu errar essa conta é que a gente nunca vai saber.
Claro, muita gente riu. Um riso instantâneo sana dores longas – eu acho.
Já as Olimpíadas (e a Copa – esses outros carnavais) estão orçadas – desde já – em R$ 25 bi. Se colocarem o mesmo coordenador (parece que é o mesmo – ou, pelo menos, os mesmos) e se errar do mesmo jeito, teremos um PIB para essa grande festa do esporte mundial (mundial no sentido de fora do Brasil, porque nossos atletas não ficarão prontos com a mesma facilidade que surge dinheiro para algumas coisas e não existem para outras).
Mas, pode ser que eu seja chato e incapaz de ver a alegria do meu aluno – comemorando em meio ao povo em Copacabana, cheio de cerveja –, que só quer um motivo pra sorrir – qualquer um.
Um abraço do seu romântico e chato sobrinho, Máximo.