E AS PRIMEIRAS PROPOSTAS SURGEM!

José Serra começou a definir propostas e compromissos a serem avaliados e aferidos, quanto a sua viabilidade e consequência, pelo eleitorado.

Em reunião na Amazônia, procurando desfazer a idéia de que, sendo sempre visto como excessivamente pró-São Paulo, seria contra a Zona Franca de Manaus, declarou, peremptoriamente, que não só manterá, mas fortalecerá e ampliará o papel dessa zona econômica especial. Para retirar todas as suspeições sobre a sua relação com o bolsa família, reiterou o compromisso com o programa e, mais ainda, de fortalecê-lo, não só em termos de recursos, mas de objetivos de inclusão social a serem alcançados.

Não obstante a explicitação de tais idéias cujo objetivo tem mais a ver com retirar de si a pecha que o PT quer lhe colocar de ser a expressão máxima da chamada “elite branca, presunçosa, arrogante e preconceituosa contra nordestino, trabalhador e pobre”, objetivamente, Serra vai desmontando os conceitos que Dilma já tentava lhe atribuir.

Mas, ousando um pouco mais, diante do clamor nacional por uma política objetiva, eficiente e eficaz de enfrentamento da violência, notadamente nas cidades, Serra propõe a criação de um novo Ministério, o da Segurança Pública. A proposta recebeu críticas objetivas e pertinentes de Marina Silva que, antes das estratégias e das políticas públicas claramente definidas, não há razão para discutir mais um órgão na estrutura administrativa nacional.

Aliás, isto faz parte da formação político-institucional ou político-cultural brasileira onde, antes de existir sociedade civil existiu o estado. Ou seja, o estado veio antes da sociedade e marcado pelo sebastianismo – “o que o governo vai fazer pela gente” -, pelo centralismo, pelo formalismo e pela inexistência de prática de cidadania.

E isto resume muito dos males que enfrenta a sociedade brasileira. Discutir a criação de novos ministérios pode ser só uma provocação de Serra para ver o que Dilma virá a dizer para que, de acordo com a sua declaração, mostrar o quão estatizante e o quão anti-cidadã seria a atuação da candidata.

Inobstante o possível jogo de Serra, as instituições da sociedade civil brasileira que, até bem pouco tempo, mostravam-se tão omissas diante dos disparates de ideólogos xiitas de plantão no governo, agora assumem um papel mais esperado pela sociedade. Agora mesmo o STF, numa votação inconteste, coloca uma pá de cal na proposta do Programa Nacional de Direitos Humanos que iria provocar um processo de crise política na sociedade com a revisão da Lei da Anistia.

A essa atitude, somam-se outras tomadas pela mídia nacional, pelas igrejas cristãs, pelo agronegócio e pela própria OAB, diante de várias idéias disparatas, esclerosadas e totalmente distantes do mundo e da circunstância em que vive o mundo.

Por que os ideólogos do governo não lançam a idéia de rediscutir conceitos como igualdade de oportunidades, democracia sem desigualdade e sustentabilidade efetiva para o crescimento brasileiro? Por que não discutir causas e formas de enfrentamento da violência urbana? Por que não abrir um fecundo e sério debate em torno das cidades brasileiras que estão a falecer de causas as mais variadas?

São inúmeros os temas, são sérias e urgentes as questões relacionadas à vida dos brasileiros que se teme que, num momento como este, que antecede um novo período governamental, não se estabeleça uma agenda para o Brasil dos próximos vinte anos.

Isto sem se descuidar dos desafios do momento, como manter os fundamentos da economia, promover a volta da geração de saldos comerciais vigorosos, do reencontro com a responsabilidade fiscal e do enfrentamento da questão da competitividade da economia, máxime da indústria manufatureira do país.

Espera-se que o debate não fique só na parte cosmética, nos adjetivos e na estratégia de apenas se sobrepor aos adversários, sem apresentar algo que agregaria valor à sociedade brasileira.