MAS BRUTUS É UM HOMEM HONRADO!

A pororoca de escândalos a pipocar a cada instante ou a “todo santo dia” gera perplexidade, além de indignação e, até mesmo, revolta em grande parte da população. Mas, a que se deve tudo isto? Será que a institucionalização do processo democrático tem permitido a que tantas coisas, tantos desvios de conduta, tantas atitudes criminosas que apenas estavam “debaixo do tapete”, agora se revelem? Ou será que, no jogo de poder, na luta por interesses e na busca de afirmação de grupos ou de consolidação de projetos de manutenção de posições políticas, a guerra chega a tal ponto que, destruir reputações, enlamear histórias, desconstruir biografias estaria por trás de tantas denúncias, de tantas investigações e de tanta “roupa suja”? Por enquanto ninguém se aventurou a buscar o “leit motif” de tal quadro de desestruturação político-institucional do País.

Em um primeiro instante o povo que, no referido processo, é apenas expectador,  impotente diante de tanto descalabro, demonstra uma reprovação geral e irrestrita, face a atos e gestos que maculam a vida pública nacional. E, ao mesmo tempo, tais desvios de  conduta de alguns – e, já são muitos! – homens públicos, tendem a produzir algo altamente indesejável para a saúde das instituições, qual seja, a tendência de generalizar os conceitos e juízos de valor sobre todos os que estão presentes e são atores da cena pública, conducente, portanto, a uma descrença em todos e em tudo.

Há também outra parcela da população, talvez mais leniente ou, até mesmo, mais condescendente, que acaba se levando por um perigoso conformismo e indiferença ao reagir com a atitude de “é isto mesmo, todos eles agem assim”. E complementam: “Besta é quem não se aproveita e não leva também alguma vantagem”.

Existem ainda um outro grupo que, do alto de uma espécie de uma santa ingenuidade, reage dizendo que a democracia dispõe de um instrumento fundamental que é o voto e que o povo saberá, no próximo pleito,  julgar, severamente, aqueles que cometeram atos  tão indignos. Lamentavelmente, pela natureza do processo político-eleitoral brasileiro e, dadas as limitações de acesso aos bens culturais por parte  da população, o que se verifica é que, diferentemente do que se imagina, só em situações muito especiais, tais políticos recebem tal punição. Seria semelhante ao cristão, tão fiel e tão crente, que admite, de boa fé, que estes pagarão pelos seus pecados, diante da Justiça Divina! Mas até o Juízo Final, tais figuras já terão feito tanto mal, produzido tantas desgraças e infortúnios que, dificilmente, Deus, na sua infinita bondade, produziria pena e sofrimento  tamanhos que compensasse o mal por eles praticados contra seus irmãos, aqui na terra.

Por que ocorrem tais comportamentos que, lamentavelmente, em nada melhoram a sociedade e não conduzem a um fio de esperança de que um dia este país terá instituições relativamente sérias e homens públicos relativamente confiáveis?

Talvez tais comportamentos sejam determinados pelo tipo de sociedade, como a brasileira, que, na verdade, é uma sociedade de “castas”, de privilégios e de tantas desigualdades onde a impunidade é sua marca maior e onde a justiça só chega aos que podem e, onde os chamados cidadãos de “segunda categoria” têm a clara convicção de que a sociedade onde vivem, só sanciona quem sabe se aproveitar das situações e tirar vantagem em tudo.

Lamentavelmente, as atitudes de passividade, indiferença e de rebeldia inconsequente da sociedade, diante de tantos descalabros, só representam uma contribuição maior à  sua desagregação, à desmoralização das instituições, à busca de “salvadores da pátria” e ao total desestímulo aos jovens no viver e participar da vida pública do país.

Se o quadro que vivencia o país é de desânimo e de desestímulo, alguns acreditam que, um dia, reproduzindo um pouco o que ocorreu faz alguns anos na Itália, experimente o País uma espécie de “santa ira” e, através de um grande mutirão cívico nacional, promova-se uma “Operação Mãos Limpas”, atingindo todos os poderes e todas as suas ramificações criminosas.

Para que isto ocorresse, ou seja, uma limpeza ética nos poderes executivo, legislativo e judiciário e, a partir daí, começasse a desmontagem dos esquemas de corrupção disseminados por toda a sociedade, diante dos braços de delinquência em que se apóiam tais esquemas, precisaria que se gerasse um ambiente, tipo o que mobilizou as “diretas já” no País. Mas, alguém há de perguntar: será que, como hoje ocorre diante do jogo de interesses políticos inconfessos, muitas idoneidades, muitas pessoas dignas, muitos homens de espírito público, não seriam ceifados, como ocorre em todas as revoluções?  Isto porque, aqui mesmo, os grandes canalhas perpetram crimes contra homens públicos que se colocam nos seus caminhos, usando do poder da força, da força do poder e da capacidade de comprar consciências e de empreitar “emboscadas morais” contra aqueles que não pactuam dos seus métodos e de seus princípios.

Este é o grande perigo quando não se sabe a serviço de quem estão as instituições que deviam zelar pela lei, pela justiça e pelos bons princípios e costumes.

O Brasil já conheceu situações onde homens públicos foram acusados, de maneira injusta e desonesta, de terem praticado atos abusivos e, a história comprovou que, tudo não passou de atitudes políticas odientas e espúrias. Falaram da honestidade de Getúlio; execraram seu Ministro João Alberto, atribuindo-lhe roubos e atos desonestos; Juscelino, que fez tanto e tantas obras, na época onde não havia tantos controles, foi acusado de ladrão e morreu, praticamente, sem nada; Mario Andreazza precisou que os amigos se cotizassem para pagar seu enterro; recentemente Ibsen Pinheiro que, por causa de uma atitude de má-fé de um jornalista, teve a sua reputação jogada ao rés do chão e, após quinze anos de humilhações, o próprio jornalista vem a público confessar que cometeu um erro e pedir desculpas pelos transtornos que causou aquele homem público! E, o que dizer do sofrimento imposto ao atual deputado  e ex-ministro da Saúde, Alcenir Guerra,  que sofreu “o pão que o diabo amassou”, sendo chamado de “ladrão de bicicletas”, a partir da suspeição de que havia favorecido grupos em uma licitação de seu ministério e que, após exaustiva investigação, concluiu-se que nenhuma responsabilidade teve e que, na verdade, inexistiu qualquer desvio?

Na verdade, a possibilidade de uma operação “mãos limpas” no Brasil é por demais remota. A desconfiança em tudo e em todos é generalizada. Agora mesmo, no escândalo de Brasília,  o chamado episódio dos vídeos, fruto da delação premiada de um ex-auxiliar do atual Governador José Roberto Arruda ,que, pelo estrago que está a produzir,  atingindo o único governador do  DEM e, de forma indireta, o seu parceiro eleitoral, o PSDB, além de figuras “coroadas” do PMDB, além de mostrar que a corrupção é endêmica no País, também alguns,  se perguntam por que, de repente, um sujeito foi capaz de produzir esse “strip tease” moral do País, faria tal e, por quais razões? Por que, só agora, vinha acumulando todos esses explosivos vídeos, ele é “estimulado” a fazer essa devassa? Por que, no momento em que se definem os contornos da sucessão presidencial,  tais  vergonhosos fatos vêm a público, através de gravações feitas pela Polícia Federal e autorizadas pela Justiça? Alguns pretendem atribuir a coincidência de tais devastadoras imagens,  a quem, tendo o poder, interessaria desmoralizar e fragilizar tais instâncias, seguindo a máxima da escritora Agatha Christie que sempre parte do princípio de que, se se quer descobrir um crime, se pergunte a quem interessa o referido crime. Claro que aqui não se trata de crime e sim, se confirmadas as imagens, de uma contribuição, à sociedade, na proporção em que aumentaria a sua indignação. Mas, ao analista frio, a preocupação seria procurar desvendar quem  seria o grande beneficiário  por toda essa “lavagem de roupa suja”.

A pergunta fica no ar. Será que a ação desenvolvida pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela mídia está marcada dos mais republicanos propósitos e não manipulados, mesmo inconscientemente, por interesses político-partidários?