O CEARA TEM JEITO? ORA SE NÃO!

Se se fizesse essa mesma pergunta há vinte e cinco anos, provavelmente, a resposta seria um sonoro e afirmativo não! Mas os tempos são outros e as circunstâncias e as possibilidades econômicas sofreram radical mutação.

Em 1970, um grupo de cientistas e filósofos, das mais variadas vertentes do pensamento humano, resolveu discutir os limites do crescimento econômico a partir de um conjunto de premissas e informações sobre os mais variados dados de operação e funcionamento das sociedades. Constituíam o chamado “Clube de Roma” que, após exaustivos estudos e analises, concluía que estavam dados os limites para a expansão econômica do mundo e as dramáticas restrições que estariam presentes na vida das populações do Globo.

Na verdade, as perspectivas ali estabelecidas seriam corretas caso já não estivessem, em curso, certos conhecimentos, invenções e inovações que revolucionariam conceitos, mudariam paradigmas e alterariam ritmos e tendências em vários segmentos da vida humana.

Diante do rápido e inusitado crescimento populacional, a expectativa era a pior possível, dados os limites de expansão da área agricultável e as possibilidades de incremento dos índices de produtividade agropecuários. Inexistiam fronteiras agrícolas ainda inexploradas e não se levava em consideração, pois era algo deveras embrionário, a miragem da chamada revolução verde, iniciada nos campos de arroz da Índia e do Paquistão, patrocinada por um americano alucinado que se dizia capaz de multiplicar, por dez, a produtividade de culturas de subsistência e garantir que enormes ganhos poderiam ser alcançados também com a pecuária de corte e de leite.

As alterações ocorreriam, não só em decorrência de melhoramentos genéticos, mas de mais eficientes técnicas de uso e manejo dos solos, além de outros “improvements” fundamentais ao aumento da produtividade física e econômica do campo.

Se ventos tão favoráveis sopravam em direção ao campo, algumas transformações também estavam sendo promovidas no cenário da indústria manufatureira e dos serviços. Os grandes saltos decorriam de inovações derivadas de avanços alcançados e ocorridos na eletro-eletrônica, máxime em decorrência do surgimento do transistor e, um pouco amais tarde, do aparecimento do chip, o que fez que se conquistassem avanços excepcionais na modernização dos setores industriais e de serviços.

Por aí as TIC’s deram um enorme avanço e conseguiram embarcar tecnologia de ponta em todos os segmentos manufatureiros. Mas, é bom registrar, que as inovações tecnológicas foram de tal monta na indústria manufatureira, que os chamados minerais pouco nobres ganharam a chance de enriquecimento enquanto que muitos outros minerais estratégicos tiveram a chance da exploração, inclusive no fundo do mar e de sua reutilização através dos processos de reciclagem.

De maneira muito dinâmica tais processos estavam a ocorrer e, através da revolução das comunicações, foi possível universalizar o acesso a tais bens culturais através das várias manifestações do processo de globalização.

E a pergunta que se coloca é o que o Ceará tem a ver com isto? E, por que todo esse discurso de evolução do conhecimento cientifico e tecnológico se o Ceará, um estado pobre de tudo, dentro deste país também atrasado, conseguiu ou está conseguindo apropriar-se de tais ganhos?

Na verdade, o que se evoluiu tecnologicamente no uso e no manejo e na racionalização de recursos hídricos; nos novos conceitos sobre solos; sobre os trezentos e sessenta e cinco dias por ano de insolação; as vantagens de uma mão de obra criativa, disciplinada e diligente; um empreendedorismo muito ativo e uma serie de idéias de negócios a serem implementadas bem como antigos projetos estruturantes aguardando oportunidade, funding e decisão política para, numa abertura de políticas publicas voltadas para a correção de desequilíbrios regionais, serem implementados!

E as circunstancias começaram a favorecer o estado com a dinamização do turismo, da agroindústria de flores e frutas tropicais; com a implantação do Porto do Pecem e os seus projetos estruturantes bem como com a retomada da indústria têxtil e de confecções; da indústria coureira e calçadista, além dos ganhos com o pioneirismo nas áreas de exploração de fontes alternativas de energia.

Tais razões têm conduzido o Ceará a ser o terceiro maior produtor de couros e calçados do País; de ser o segundo exportador de frutas tropicais e de ser também o segundo produtor de flores. Além disso, o pólo de confecções do estado retomou o seu vigor e dinamismo e, respaldado pela forte expansão do turismo, tem garantido significativo crescimento da economia urbana cearense.

A maior resistência as secas conquistada pelo estado; os colchões sociais garantidos pelos programas compensatórios de renda além dos projetos de agricultura familiar e previdência rural, entre outros, ao lado de um projeto de descentralização industrial, deu outro fôlego e dinamismo a economia do estado.

Finalmente, os projetos estruturantes que estão sendo gestados ou estão em processo de implantação, configuram um “turning point” ou um ponto de inflexão na história econômica do estado.