PARA ONDE VAMOS?

Este cenarista assistiu a uma interessante palestra do economista Luís Carlos Mendonça de Barros sobre as perspectivas do Brasil para a década de 2011 a 2020. A surpresa, em primeiro lugar, foi a de assistir a um economista ousar e intentar montar um cenário econômico que ele crê, viável. Isto porque os economistas sempre fazem interpretações e análises do que já ocorreu e nunca do que virá!

 A segunda surpresa é a de que o expositor fugiu ao estereótipo de justificar a insegurança e as incertezas dos prognósticos em problemas como o câmbio, os juros altos, a carga tributária e a burocracia. Embora reconhecendo que estes elementos existem e podem prejudicar o itinerário da expansão econômica, não lhes foram atribuídos pesos que inviabilizassem o prognóstico tão, aparentemente, otimista.

 O cenário estabelece que o país crescerá, de forma sustentável, entre 4 e 6%, com a possibilidade de ficar na média de cinco por cento.

 Admite que bastaria um ajuste na política econômica para adequá-la ao novo perfil da economia brasileira para que os resultados sejam alcançados.

 Acredita que, um desafio a ser enfrentado pelo país, será como absorver uma entrada maciça de moeda externa, não só derivada do “carry over”, mas de enormes oportunidades de investimentos em face do pré-sal, da mineração, da Copa, dos Jogos Olímpicos e de toda uma demanda de investimentos na infra-estrutura logística do país.

 Crê que, “commodities”, tanto agropecuárias como industriais, mesmo com o câmbio apreciado, continuarão tendo uma demanda forte e com ajuste dos preços externos para sobrepor-se ao problema cambial.

 Coloca como pontos fortes da economia brasileira, os seus sólidos fundamentos econômicos; um sistema financeiro-bancário com regulação e controles modernos e riscos minimizados; uma base institucional com precariedades mas não a ponto de comprometer, tanto, o processo e, acima de tudo, um mercado interno grande e dinâmico.

 Há de se convir que esta “Terra Prometida”, por mais que se pretenda pessimista, dificilmente deixará de se concretizar. Não restam dúvidas de que as críticas colocadas por FHC, Armínio Fraga e outros sobre o autoritarismo popular, o populismo exacerbado e a tentativa de estatizar e aparelhar o Estado pelos atuais detentores do poder é algo preocupante.

 Em curto prazo, os estrangulamentos provocados pelas limitações da infra-estrutura logística e o caos urbano, são pedras no crescimento.

 Porém, na perspectiva desse cenarista, o fato de o país não dispor de um plano de vôo, de pelo menos para dez anos, não ter promovido as reformas institucionais básicas e ter criado um perigoso e doloroso atraso na formação de seus recursos humanos, representam problemas e desafios mais sérios do que Luís Carlos Mendonça de Barros explicitou na sua exposição.