QUAIS AS PROPOSTAS QUE DEVERÃO SER LEVADAS A PÚBLICO PELOS CANDIDATOS?

Muita gente começa a mostrar preocupação com o discurso e com as propostas dos candidatos à Presidência da República, máxime as idéias daqueles com maiores possibilidade de êxito eleitoral, no caso, Dilma e Serra.

Não satisfaz ao grande público o belo fraseado de que “não interessa o embate entre o ontem e o anteontem”. Nem tampouco que são “as idéias e não as pessoas que devem brigar”. Não importa as adjetivações do tipo, “continuidade sem continuísmo” ou as indicações mais chulas do tipo “time que está ganhando não se mexe”. Tampouco, dizer como este cenarista tem dito que as pessoas querem saber o que propõem os candidatos para o seu amanhã e não falar de coisas já conquistadas. Nem tampouco que se vendam sonhos e esperanças. O que se cobra é que sejam consequentes.

Na verdade as pessoas querem respostas para os seus dramas e, de um modo geral, não são os seus chamados direitos difusos ou as propostas para a coletividade que lhes interessam. Preocupam-se com a saúde, a educação e a segurança, de maneira mais geral. Estão atrás é do emprego, da vaga do filho na escola pública, do atendimento hospitalar, do transporte coletivo mais adequado e da chance de sonhar que o amanhã será bem melhor do que o ontem. No fundo, as pessoas querem respostas para os seus problemas pessoais e suas angústias mais imediatas.

Lembra tal comportamento das pessoas, muito o que, se não se engana o cenarista, uma passagem do livro de Eça de Queiroz, “O Conde D’Abranhos”, quando um seu humilde eleitor foi levá-lo o seu também humilde pleito. O Conde, deputado representante do pobre homem, começou a discorrer sobre os conflitos da humanidade, as crises existenciais e os problemas humanitários maiores. E o pobre homem, segurando o chapéu, após ouvir tão longo discurso disse, humildemente: Seu Conde, eu só vim aqui atrás do meu emprego!

Na verdade, não adianta dizer o candidato que promoverá um crescimento sustentável ambiental e socialmente; que a estabilidade econômica é condição sine qua non para um crescimento seguro; que as conquistas sociais serão mantidas e ampliadas; que educação, saúde e segurança são prioridades maiores do governo, etc. e etc., pois tudo isto não cala junto ao povo.

Provavelmente um discurso com vista a solução de problemas de forma mais pontual, atenda melhor e seja melhor compreendido pela população, não apenas pelos filhos do bolsa família mas também pelos mais abastados.

Se alguém quiser fazer um discurso convincente para os cariocas, por exemplo, que tal propor que apoiará a montagem das UPPs em todas as grandes favelas do Rio? Que tal propor programa de mudança de populações de áreas de risco desde que seja de todo impossível urbanizar e dar segurança as atuais ocupações? Que tal garantir que o metrô estará atendendo a, pelo menos, 80% da população do Rio até 2014? Que tal garantir aos nordestinos que, até 2014, toda a questão de água estará resolvida com a transposição, as adutoras do sertão e outras soluções capazes de superar de vez o drama das populações do semi-árido? Que tal prometer aos paulistanos que, nunca mais, o desastre de 2009/2010 se repetirá, pois se montará sistema assemelhado ao de Tóquio de proteção contra inundações? Que tal prometer um “tour de force” no sentido de superar os gargalos de infra-estrutura acelerando os investimentos em portos, aeroportos, ferrovias, rodovias, comunicações, etc., quer via investimentos diretos, PPPs, investimentos internacionais, concessões, etc.?

Enfim, propostas pontuais que respondam aos grandes desafios do país, mas que a população perceba a relevância e a urgência bem como a capacidade do governo de fazê-las e viabiliza-las, deverão representar o discurso mais interessante e confiável dos candidatos.

O pontual vai superar o geral.