QUAL A TEMÁTICA QUE LIDERARÁ A DISCUSSÃO NA SUCESSÃO PRESIDENCIAL?

Nos encontros mensais do COSEC – Conselho Superior de Economia da FIESP, um tema tem sido recorrente. Por que o Brasil não dispõe de uma proposta de longo prazo, ou melhor, não sabem os policy-makers estabelecer um itinerário desejado para o povo do país, ou melhor, de maneira mais singela, para onde vai o Brasil?

É difícil construir políticas públicas consistentes quando não se sabe para onde se pretende ir ou aonde se quer chegar! Na expressão do velho Sêneca “ao navegante que não sabe para onde vai não interessa a direção do vento”. O máximo de aprofundamento da discussão tem sido questionar os gargalos logísticos, a pesada carga tributária, o câmbio que limita a capacidade exportadora e os juros reais ainda muito elevados. Os desenvolvimentistas se restringem a falar, vagamente, no custo Brasil, envolvendo as limitações da infra-estrutura, da burocracia, da falta de mão de obra qualificada, entre outras restrições.

É crucial cobrar dos novos ou potenciais dirigentes, qual o tipo de país imaginam ou pensam eles, será possível construir nos próximos anos? Aonde se quer chegar nos próximos vinte ou cinqüenta anos em termos de quantidade e de qualidade de vida para os brasileiros? Para chegar lá, ainda se deveria questionar quais serão as pré-condições para tanto? Quais os instrumentos tanto em termos de arcabouço institucional, de marcos regulatórios, de ênfase em termos de superação dos gargalos logísticos, na redução de transferência de ineficiências por parte do setor público,  entre outros, para alcançar os grandes objetivos do país?

Será possível estabelecer como meta-compromisso crescer, nos próximos anos, pelo menos 5 a 6% ao ano? Será admissível reduzir o analfabetismo do país a quase zero nos próximos dez anos? Será aceitável estabelecer como compromisso, reduzir a 5 a 6 por mil nascidos vivos a mortalidade infantil? Será permissível ter um desemprego aberto igual ao dos países do primeiro mundo? Será compreensível dispor de saneamento ambiental para todos os brasileiros nos próximos 20 anos?

Enfim, quais os objetivos que ao país se pode traçar para os próximos anos ou, pelo menos para a próxima geração?

O que normalmente as discussões giram em torno, diz respeito ao peso das taxas de juros, da elevada carga tributária e da burocracia que domina as relações entre o estado e o cidadão. Seria interessante que o COSEC convidasse os presidenciáveis e pedisse que eles imaginassem o cenário do Brasil econômico-social e político para daqui a trinta anos, definindo grandes agregados e metas- desafio a serem cumpridas. Adicionalmente, caberia a cada candidato definir, na sua visão, quais seriam os principais entraves e gargalos a serem removidos, não só do ponto de vista institucional, logístico e de funding, para poder viabilizar os objetivos desejados. Finalmente, caberia ao candidato formular as estratégias de ação que iria adotar para superar tais entraves, não só em termos de apoio político-partidário e parlamentar, de adesão das elites e das forças democráticas da sociedade brasileira.

Se assim se proceder será possível estabelecer, pelo menos, um norte, um azimute a indicar o país que os brasileiros sonham, querem e têm direito.

2 Comentários em “QUAL A TEMÁTICA QUE LIDERARÁ A DISCUSSÃO NA SUCESSÃO PRESIDENCIAL?

  1. No Brasil nunca existiu um Planejamento de longo prazo que servisse de meta a ser perseguida, pelos seus dirigentes, conforme sugerido no seu artigo. Qual partido tem um Plano de Governo? Qual Governante tem um plano de metas de longo prazo? Històricamente, quando existe uma mudança no Governo ( Federal, Estadual ou Municipal), qual governante mantém as prioridades anteriores?
    Só para comparação, eu me lembro da primeira vez que fui a Washington – DC e andei no Metrô, no final da década de 70, na época, os trechos inaugurados eram mínimos, mas dentro dos trens existiam mapas definindo quantas linhas seriam construídas, até onde iriam e quando deveriam ser inauguradas, hoje, podemos ver que as metas traçadas foram cumpridas e existem várias linhas em operação; já no Rio, havia uma meta de se inaugurar a estação de Ipanema em 1979 , coisa que deve acontecer em Dez/2009, com “apenas” 30 anos de atraso! Ainda no Rio o último planejamento de trânsito sério, foi feito pelo Governo de Carlos Lacerda, nos anos 60 quando foram definidas necessidades das linhas Amarela, Vermelha, o Túnel Rebouças, a ligação Rio-Santos, etc idéias que levaram 30 anos para serem implementadas
    Sua idéia é excelente, mas acredito que os nossos políticos não têm esta mesma visão

  2. Infelizmente acredito que a temática da sucessão presidencial não será levada aos eleitores nesse tom. Além de realmente não se ter um planejamento em longo prazo, temáticas sérias como as que foram colocadas dificilmente empolgarão um povo sem educação, sem saúde e sem segurança, principalmente.
    Na verdade serão promessas de continuidade das medidas paliativas existentes como a Bolsa Família, Bolsa Educação e outras mais. Sem distinção partidária, o que é o pior.
    É, Dr. Paulo, você fala como quando era deputado e exerceu outras funções públicas com esmero e dignidade. Com sua análise técnica e buscando uma solução sempre. Isso pouco ou quase não existe hoje. Parecem longe os tempos em que governantes e deputados regionais lutavam e defendiam seus rincões com garra, escolhendo o melhor para seu Estado.