QUEM APOSTA?

Este Scenarium, faz cerca de seis meses, apontou aqui várias razões porque acreditava que o candidato do PSDB seria Aécio e não Serra. Continua a acreditar e a achar que, para as atuais circunstâncias, Aécio é mais palatável e mais adequado, como produto para contrarrestar o discurso do PT, do que Serra. Em primeiro lugar, Serra é a cara do PSDB, do Fernando Henrique e daquilo que foi estigmatizando o partido como o da defesa  elite branca, presunçosa, arrogante e capaz de mandar o povo, se lhe faltasse pão, comer brioche, como assim se expressou a decapitada Rainha de França. Se o discurso de Lula e do PT é contra FHC e seu governo, Serra o encarna mais do que qualquer pessoa.

Em segundo lugar, Aécio ou, até pelo fato de ser chamado carinhosamente de Aécinho, de origem, é PMDB, da parte boa e não da chamada  “banda podre” e, traz no nome, na história recente, o legado de um homem que, após costurar a transição do estado autoritário para o estado democrático de direito, teve a vida ceifada pelas “trapaças da sorte”. Aécio Neves é Tancredo reencarnado, é Ulysses vivificado, é Teotônio sonhado.

Por outro lado, Aécinho não é São Paulo, não é paulista e não permite espaço para a propaganda violenta, face o norte, nordeste e até mesmo o centro-oeste, de que, após um período em que os trabalhadores e nordestinos tiveram o poder, o poder se devolve aos paulistas, segundo os petistas “tão violentamente preconceituosos com o Nordeste”. Tudo falácia, mas, para quem conhece o povão da região, o discurso pega. E pega, até mesmo, para uns, ditos alfabetizados, metidos a intelectuais, que ainda vivem a teoria estruturalista dos tempos de CEPAL.

Aécinho, por sua vez, desde o primeiro momento, não é um anti-Lula mas um pós-Lula, com trânsito com todo mundo e capaz de fazer costuras políticas tal qual os mineiros de velhas tradições eram capazes de fazer.

Também, junto ao PMDB, ao DEM e a outros partidos que não se sentem bem junto ao PT, Aécio é mais palatável para um entendimento do que José Serra. É, hoje, o mais carioca dos mineiros e o mais mineiro dos nordestinos. E, se for ele o candidato, até Ciro virá para ser seu vice.

Serra, embora seja a melhor expressão de gestor público do país, não tem a simpatia, o carisma e o jogo de cintura de Aécio. Também não sai como Aécio, com 70% dos votos de seu estado. Ademais, não dispõe de muitos graus de liberdade como Aécio que, por enquanto, a única coisa que pode fazer é ser candidato é ser candidato a senador por Minas. E, se Serra se eleger ou Ciro se eleger, a sua vantagem de ser jovem, vai para o ralo. E se Dilma se eleger, com o compromisso de apoiar Lula para um mandato a partir de 2015, aí que as chances de Aécio são remotas, em termos de futuro político.

Por outro lado Serra não vai correr o risco de entregar a outrem, os segundo e terceiro maiores orçamento da República, para correr o risco de não ser eleito presidente e, consequentemente, além de encerrar a sua carreira política, desestruturar o que ainda resta de seu partido. Ao passo de que, se apoiar o nome de Aécio, terá o controle do partido, parte do mando do governo federal e, além de tudo, ajudará a eleger a maioria dos governadores do país para o seu partido ou para os seus aliados.

O leitor já pensou nisso? Se pensou, critique, comente e sugira outros argumentos prós e contra a tese acima esposada.