Scenarium de 03/09

O PRÉ-SAL TEM PRESSA!

Lula quer fazer e ficar na história. Lula não quer ser o Presidente a ser lembrado apenas pelo “nunca antes na história desse País…” mas por ter sido o homem que reescreveu os tempos do Brasil em AL e DL, ou seja, antes de Lula e depois de Lula. O Presidente é esperto. Segue uma máxima, em termos de partido, que ouvi de Teotônio Vilela, o velho: “Meu filho, não importa o animal, o que importa é a caminhada”. Assim Lula, sempre maior que o PT, esqueceu o PT. Sempre maior, na habilidade e na competência de fazer política, usou o que Getúlio costumava fazer – usar os amigos até enquanto eles são úteis. Descarta-os e, pelo seu charme pessoal, os atrai de volta como fez Getúlio com José Américo de Almeida, com Flores da Cunha, e tantos outros. Lula fez isso e faz isso com os Francisco Oliveira, Frei Beto, Luis Gushiken, José Dirceu, Marina Silva e tantos outros.

Para Lula, os companheiros se dividem entre os que são incapazes e os capazes… de tudo! E assim vai levando e sonhando cada vez mais alto. Bolsa Família foi e é o pão para garantir a popularidade necessária para governar. Atender a banca é aquietá-la e fugir das pressões e das maquinações que poderiam ser urdidas contra a estabilidade de seu governo. Conseguiu fazer o país sair da crise com “escoriações generalizadas”. E ensinou a tucanada que, mesmo sem título de doutor ou de professor, ele se saiu bem melhor do que o seu desafeto FHC, com aqueles seus ares professorais.

Consegue garantir a tal governabilidade, mesmo que para isto tenha tido que acender uma vela a Deus e outra ao Diabo, mostrando aquilo que Tancredo dizia: o que enche rio é água suja! Que vengan los apoyos!

Até bem pouco Lula buscava as glórias terrenas ou mais comezinhas como uma popularidade nas alturas, uma blindagem que só os ídolos mitificados conseguem, o respeito da mídia internacional e o entusiasta elogio de Obama dizendo que ele “era o cara”!

Aliás, o que Lula busca é entrar na história sem ter que passar dessa para outra. É ser, assim, um Nelson Mandela, marcado mais pela sorte, pela habilidade (Tertuliano frívolo peralta, que fora um paspalhão desde fedelho; tipo capaz de ouvir um bom conselho…) e pelos anos de estrada convivendo com multinacionais e com o poder militar em tenebrosas negociações para salvar o sindicalismo e a própria pele. E sem ter que ter passado trinta anos presos. (Lula tem sorte. Engana São Pedro e acaba no céu, como Tertuliano).

E aí caiu do céu a descoberta do pré-sal. Claro que os anos anteriores de estudos e pesquisas e esforços dos governos passados de nada valeram diante da sorte e da determinação de Lula. E já rejeitou o País até um convite para participar da OPEP.

O entusiasmo de Lula com o pré-sal leva-o a um delírio igual aquele caricaturado por Chaplin no filme O Grande Ditador. Com o pré-sal, entrará, de maneira definitiva e indelével na história. É melhor isto do que aquilo que alguns assessores queriam: fazer dele Prêmio Nobel da Paz o que, para Lula, nada mais seria do que um Doutor Honoris Causa melhorado.

O pré-sal é diferente. O pré-sal é o hoje, o amanhã e o depois do país e o legado de Lula as atuais e futuras gerações. Claro que Lula, cauteloso, já antecipou que tal euforia pode levar o país à chamada doença holandesa. Pode levar a desestruturação de um notável esforço que se vem fazendo na área de produção de energia limpa.  Pode também levar ao vício de reestatização, notadamente da exploração de minerais estratégicos o que, afugentará investidores privados nacionais e internacionais.

E, uma Petrobrás aparelhada política e ideologicamente, aí então as preocupações podem alcançar níveis elevados pelo potencial de desmandos, descalabros e prejuízos ao país. Sem ter projeto de médio e longo prazo, sobrando dinheiro na Petrobrás para fazer cortesia com o chapéu das gerações futuras, as coisas podem começar a preocupar.

Para aprovar, em 45 dias na Câmara, os quatro projetos do chamado marco regulatório do pré-sal Lula vai precisar de chamar os parlamentares “na chincha”, os nobres parlamentares, dramatizados pela antevéspera de um novo julgamento eleitoral. Paciente e comovidamente, ouvirá as suas demandas por cargos, por emendas que até agora não foram pagas, por verbas especiais e outro que tais. Dirá a eles que convençam aos empresários que os financiam e a mídia que lhes cobra tanto, que nas negociações será possível fazer algumas concessões que, sem mudar o espírito nacionalista da proposta, dará a flexibilidade para uma convivência pacífica entre investidores, empreendedores e produtores.

E, sem maiores discussões, apenas ao nível da pobreza de conhecimento e formação do Congresso, ajudado pelo necessário “lubrificante cívico” –nada de mensalão – e de pequenas benesses para viabilizar o retorno ao Congresso de tão prestimosos e compreensíveis líderes, Lula conseguirá o seu objetivo. E, de quebra, vai garantir que o PMDB, ficando com a promessa do controle da empresa que administrará o pré- sal, estará pronto para assumir a candidatura de vice de Dilma. Então, Lulinha, paz e amor, adentrará, com o pé direito na história! E, com certeza, dirá em alto e bom som: Nunca antes na história desse país conseguiu-se tanto em tão pouco tempo.

DEPOIS DO SONHO E DO DELÍRIO, VEM O REAL DO PRÉ-SAL!

Mal chegou ao Congresso, ou talvez antes mesmo, os excluídos – governadores que não foram ouvidos em relação à regulamentação do pré-sal – começaram uma rebelião não aceitando a má partilha proposta por Rio, Espírito Santo e São Paulo. E aí vem a pergunta? Numa economia tão desigual, com tantas diferenças, por que os resultados do pré-sal serão concentrados nos três estados? Por que os benefícios não deveriam ser de todos? Por que não adotar uma distribuição dos benefícios inversamente proporcional à renda per capita? Como ficarão os maranhões e as alagoas da vida? E o Fundo Social a ser criado, sem hierarquização de prioridades, será que, sob o controle da União não reproduzirá o que acontece com a CIDE, o FUST, a malfadada CPMF e tantos outros fundos e contribuições destinadas a fins específicos que a União teima em não cumprir? Por que o pré-sal não dá qualquer esperança ao consumidor da possibilidade de vir a ter um preço mais baixo na bomba?

Por que o fundo não estabelece margem para reduzir a tributação – hoje de 40% – sobre combustíveis e derivados, retirando um naco adicional dos ganhos da Petrobrás?

Por que será que, ao invés de fechar a participação de capitais privados na Petrobrás nas explorações do pré-sal, não se permite que trabalhadores usem o seu FGTS para a compra de ações da empresa?

Se educação e saúde são obrigações do Estado e se destina parcela considerável para elas no Orçamento da União, por que o esforço desse fundo não se dirige a melhorar a qualidade do ensino médio – vide experiência do Ceará; a aceleração da implantação das escolas técnicas; a aumentar a meta de formar, ao invés de 10 mil, cerca de 50 mil doutores/ano; garantir incentivos especiais a melhorar o ensino médio apoiando iniciativas como os resultados de escolas técnicas, escolas militares e religiosas que tem tido o melhor desempenho no país sejam públicas ou privadas; por que parte não vai para um estímulo muito maior à produção científica do país e não vai para o saneamento ambiental para cumprir suas metas em período mais curto?

Será que a sociedade, atropelando o Congresso, não começa a se mobilizar para antecipar a opinião da plebe rude ignara sobre tais temas e a definição de metas-compromisso para tanto?

OBAMA, OBAMA!

Cerca de 59% dos americanos acham que o país está sendo levado para a direção errada. Os americanos, diante dos amargos remédios para o enfrentamento da crise e, sentindo que só a banca foi a maior beneficiária da derrama de dinheiro, sentem um quê de frustração porquanto os resultados na reversão das tendências de desemprego ainda não são os esperados para tamanho esforço. A popularidade de Obama caiu 17 pontos percentuais (lembram que ele foi eleito com 70% de aprovação) porque, para o cidadão comum ele promove políticas que aumentam os gastos e centraliza o poder em Washington. A lógica na cabeça dos americanos é que se Obama está propondo algo, isto deve envolver gastos, aumentar o tamanho do governo e ruptura com a tradicional abordagem americana. É, com as questões relacionadas ao plano de saúde, os gastos adicionais com a guerra, a situação de Obama começa a perturbar-lhe o sono. Mas ele ainda tem muito capital, muito tempo e muita determinação para acertar e, pela torcida de todo o mundo, ele deve acertar!

BOAS E MÁS NOTÍCIAS!

AS BOAS

  • As reservas cambiais já chegam a quase 220 bilhões de dólares; A inflação está abaixo do centro da meta; O desmatamento da Amazônia caiu 48% de 2008 para 2009 mas, em julho, segundo o INPE, o aumento da área desmatada no mês de julho foi 158% maior!
  • A confiança da indústria cresceu 6,1%;
  • Pesquisa mostra que 75% das pessoas preferem cotas sociais – para pobres – e não raciais nas faculdades; A British Petroleum descobriu um campo gigantesco a quase dez mil metros de profundidade. E a Petrobrás tem 20% dos direitos de exploração.

AS MÁS

  • Violência chega a capital federal com o assassinato do ministro, da mulher e da empregada à facadas; Crescem os gastos de pessoal e com encargos no governo Lula de 4,51% em 2003 para 5,11% em 2009. E 2010 promete novas contratações – 51000 – e novos reajustes acima da inflação e do crescimento de PIB, de forma conjunta.
  • Déficit da previdência cresce.

PERGUNTA DO SCENARIUM

Por que não criar a bolsa cursinho para os alunos das escolas públicas com maior potencial e desempenho para corrigir falhas e lacunas na sua formação básica e permitir igualdade de condições na concorrência com os brancos e bem nascidos nas universidades públicas?

3 Comentários em “Scenarium de 03/09

  1. Ioneda,

    Existem algumas contradições nas políticas públicas brasileiras. O fato de se destinar 70% ou mais do Orçamento da União para o ensino superior, diante da dramática situação do ensino fundamental e médio, já é um desvio inaceitável. Você como educadora sabe que, uma má base, estraga o resto da formação para a vida toda. Por outro lado, o sistema de cotas para pessoas de cor, foi rejeitado pela sociedade em pesquisa recente onde só 10% da população concordam. Concordam, sim, em 70% que as cotas fossem para pobres, independente da raça ou da cor.

    Sendo assim, as distorções são enormes. Agora, existirá uma reação muito pesada da sociedade no sentido de mudar essa estranha prioridade no ensino superior gratuito o qual só beneficia quem tem base. E quem tem base é quem vem da escola privada. E quem vem da escola privada é a classe média e alta. Ora a sua idéia seria uma forma de fazer uma transição e diminuir a injustiça. Mas é bom lembrar que, a classe média, particularmente, paga uma alta carga tributária para ter escola e saúde de graça e não tem. Como a qualidade é muito precária, a classe média paga duas vezes. Para que os de mais baixa renda tivessem a igualdade de oportunidades dos brancos nos vestibulares, uma alternativa adicional seria, nesse país de bolsas, criar uma bolsa cursinho para os alunos de baixa renda que tivessem potencial e interesse para a continuar os estudos. Talvez por aí começaria a ser revista esta triste situação.
    ondições com os brancos?

  2. Será que não seria mais produtivo e menos hipócrita que os governos acabassem com essa história de universidade publica gratuita e investissem pesadamente no ensino básico e profissionalizante no nível médio, com escolas bem equipadas, professores capazes e bem remunerados?
    Todos sabem que as IES públicas sejam federais ou estaduais detém o maior contingente de alunos de classe média e classe média alta: são alunos de escolas privadas. Pois que, a estes fosse cobrada uma taxa de matrícula e uma mensalidade mínima para a manutenção do seu curso. Seria uma parceria mais justa. Aos alunos com origem de escolas públicas o ensino seria gratuito, porém com a obrigatoriedade de seis meses a um ano de serviços em instituições públicas depois de formados, de acordo com a área de atuação.
    Para isso, é preciso coragem.
    Ionêda B. Ellery

  3. A poesia completa sobre Tertuliano, que vem logo abaixo, mostra que Lula, foi dramaticamente marcado pela sorte, até quando teve o infortúnio da vida de retirante em São Paulo. E, usando o seu charme, o seu talento, tendo uma mãe lúcida e equilibrada que lhe deu o siso para aproveitar das chances que a vida lhe deu.

    Tertuliano, frívolo peralta,
    Que foi um paspalhão desde fedelho,
    Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
    Tipo que, morto, não faria falta;

    Lá um dia deixou de andar à malta,
    E, indo à casa do pai, honrado velho,
    A sós na sala, diante de um espelho,
    À própria imagem disse em voz bem alta:

    – Tertuliano, és um rapaz formoso!
    És simpático, és rico, és talentoso!
    Que mais no mundo se te faz preciso? –

    Penetrando na sala, o pai sisudo,
    Que por trás da cortina ouvira tudo,
    Severamente respondeu: – Juízo. –

    Artur Azevedo