Scenarium de 16/09/09

 

LIÇÕES DA CRISE

 Mantém-se um debate, ainda acirrado, se a crise passou, efetivamente! Para alguns economistas há sinais de que o pior da crise passou, mas que é preciso estar muito atento pois que algumas bolhas ainda podem se fazer presentes e tumultuar o quadro econômico internacional.

 Por outro lado, alguns economistas europeus já antecipam que o “cassino” voltou a operar. Ou seja, o sistema financeiro e bancário mundial mantêm muitos ativos podres e já ensaiam a retomada de outros possíveis subprimes ou de uma alavancagem não mais recomendável. Aliás, na última reunião do G-20, várias recomendações foram feitas relativas a diminuição da alavancagem dos bancos, da sua capitalização, da redução dos bônus de desempenho além de um duro protesto porquanto os contribuintes não aceitarão, mais uma vez, pagar a conta da irresponsabilidade de certos agentes  econômicos.

 Existirão possíveis novas bolhas? Que sinais são colocados? Outra indagação que se faz é se a recuperação econômica será comandada mesmo pelos emergentes ou se dependerá da superação da crise nos Estados Unidos. 

 O que é certo é que a crise ainda não está de todo superada, pois quem melhor conduziu o seu enfrentamento – provavelmente a China – ainda não retomou o crescimento pré-crise pois que se espera um crescimento de 7 a 8% este ano contra 11% de 2008! Por outro lado, parece que duas  conclusões são bastante claras do que a crise apontou. A primeira a de que, se não fora a mão pesada do Estado, a situação teria se agravado muito mais e, provavelmente, não se estaria saindo agora da crise e os efeitos  econômico-sociais teriam sido devastadores.

 A ação intervencionista do Estado, para alguns mais apressados, determinou o fim do liberalismo o que, na verdade não procede. O que pode proceder é a certeza de que a simplificadora tese de que a eficiência dos mercados resolveria tudo foi por água abaixo bem como a convicção de que a esquerda foi incapaz de propor algo para substituir a chamada visão liberal da condução da economia. A única coisa que parece que retomou os espaços e o fôlego foi o velho keynesianismo.

 E PARA O BRASIL?

 O Brasil não foi o último a entrar na crise nem o primeiro a sair. A crise, para o país, não foi um tsunami nem tampouco foi uma marolinha. A economia está saindo da crise, mas somente se configurará como a tendo superado totalmente, quando o país voltar a crescer aos níveis que vinha crescendo antes da crise. Os bons fundamentos da economia, o grande volume de reservas cambiais, uma ação enérgica e competente do Banco Central e as medidas anticíclicas tomadas pelo governo permitiram que, em pouco mais de seis meses, o país já começasse a sentir a reversão de expectativas. Claro está que se o PAC tivesse andado, como queria Lula, e se as renúncias fiscais fossem direcionadas para não permitir a queda da taxa de investimentos, os dados poderiam ser melhor festejados. As circunstâncias internacionais no que respeita à demanda e ao preço das commodities exportadas pelo Brasil, aliada a entrada de capitais de risco internacionais tanto na bolsa como nas empresas, permitiu mudar,  bastante, o quadro do balanço de pagamentos do país. Louve-se, ainda, o espírito do Presidente que esbanjava otimismo e vendia a convicção de que o Brasil sairia fácil da crise.

 Agora, o dever de casa ficou talvez um pouquinho mais difícil para a retomada do crescimento sustentado que o país requer, pois que as contas públicas pioraram, os gastos de custeio aumentaram e, diante de um ano eleitoral, as possibilidades de melhorarem são muito remotas.

 As mudanças institucionais – reformas tributária, previdenciária, trabalhista, sociais, etc. – não têm qualquer chance de serem votadas em 2010. E nem alterações perfunctórias para reduzir a carga tributária e melhorar a qualidade do gasto público, têm chance de ocorrer.

 É o caso de deixar as esperanças nas mãos do próximo governo e do novo Congresso!

 REDUÇÃO DA CARGA TRIBUTÁRIA

 A crise deixou de saldo, uma redução de quase um ponto percentual – 0,95% – na carga tributária bruta em função das renúncias fiscais. Mas a boa notícia, em breve, se tornará uma má notícia não só com o fim de tais renúncias como com a criação da CSS e,  provavelmente, com a tributação da poupança, prevista para atingir valores acima de cinqüenta mil reais, a partir de 2010. A única coisa que minimiza o sofrimento dos poupadores é que o imposto de renda será cobrado somente sobre as novas contas.

4 Comentários em “Scenarium de 16/09/09

  1. Rafael,

    Grato pelas suas observações. Acho que a questão da saúde passa por um problema seríssimo de gestão e de priorizar a prevenção — ações de saneamento ambiental, ampliação do programa de médicos de família, a volta ao combate das doenças tropicais de maneira mais séria– além de reduzir os gastos exagerados com medicamentos de alta complexidade. Quanto as políticas econômicas as preocupações são com a reorganização das finanças públicas, pois, para enfrentar a crise elas foram desorganizadas; retomar os níveis do superávit primário de antes da crise; reduzir encargos sociais sobre a mão de obra e diminuir os gargalos da infra-estrutura. Se algo dessa natureza for feito, estará o país no caminho da s

  2. A cadeia de eventos associados a crise e os respectivos movimentos de recuperação, gera análises inéditas que partem dos mais variados pontos de vista. O texto permite concluir que a ciência econômica ainda está longe de estabelecer um modelo de previsão para a forma como os eventos se encadearão para formar a próxima crise. Isso pode ser constatado através da simples indefinição se estamos em nova bolha – que bolha é essa? – ou não.

  3. É muito difícil saber se a crise já terminou ou quando irá terminar, alguns falam que a melhor representação da crise seria uma curva tipo “U”, outros defendem que a crise seria melhor representada por um “W”; também não devemos esquecer que a crise não vai acabar ao mesmo tempo para todos e um problema localizado num País pode afetar outro(s). De qualquer maneira “a mão pesada do estado” foi importante na fase inicial da crise, mas não deve se repetir por muito tempo, afinal o país tem que “andar com as suas próprias pernas”

  4. Acho que poderíamos aproveitar as lições dessa crise para repensarmos a política econômica do país, ja que foram feitos alguns ajustes com a crise porque não continuar com esse ajustes ja que o pais cresceu ou pelo menos não caiu como outras economias. Em relação a CSS, o governo deveria fazer um discurso realmente nacionalista usando o equivalente desse imposto em desconto dos royalties do PRE-SAL, ai sim o Brasil iria realmente se sentir dono do PRÉ-SAL sabendo como pelo menos uma parte desse dinheiro e gasto.