UMA SEMANA E TANTO!

De há muito não se experimentava e vivenciava um momento de tantos fatos incomuns e de emoções tão significativas como a semana que passou. Desde a madrugada de quinta o cenarista produz análises que são vencidas pelo tempo e pelas circunstâncias pois que, ao montar um comentário — e, foram, pelo menos, dois deles –os novos fatos os atropelam e os faz vencidos pelas novas circunstâncias.

Assim, desde a última quinta-feira quando o primeiro deles estava pronto e o cenarista já ia torná-lo público eis que, por volta das 16 horas, cinco de abril, foi dado a púbico a decisão do Juiz Sérgio Moro de expedir mandato de prisão contra o ex-presidente Lula e, mais ainda, concedia-lhe um prazo de 24 horas para que se apresentasse á Superitendencia da Polícia Federal, em Curitiba.

A partir daí o País parou. Parou em estado de descrença, de perplexidade e, de uma certa maneira, de dúvida e incerteza inclusive, nas próprias instituições pois não se acreditava que o ex-presidente e o líder político mais bem avaliado no País, seria trancafiado. Parecia algo inacreditável a ponto de se temer as reações e manifestações de seus simpatizantes que, nas suas demonstrações de revolta ameaçavam com a possibilidade de que, haveria até sangue no confronto entre eles e as autoridades policiais pois não iriam permitir que o seu líder maior fosse entregue, de bandeja, aos seus presumidos executores.

Porém, para surpresa de todos, não adiantou o “ranger de dentes”, os discursos espetaculosos, as encenações do próprio Lula pois, o que todos imaginavam impossível, aconteceu. Depois de idas e vindas, de marchas e contramarchas, de negociações que pareciam infindáveis, o próprio Lula, avaliando as consequências de uma atitude de confronto e de desrespeito a decisão legal, entregou-se! E hoje já amarga a solidão no presídio de Curitiba! E, para surpresa geral, no País do crime organizado, da violência estabelecida, das ameaças e do desrespeito às instituições, o que o Brasil e o mundo assistiram foi, pasmem, o mais estrito cumprimento da Lei, dentro da idéia de que aqui prevaleceria o “duela a quine duela”!

E, ao fim ao cabo, depois de especulações de toda ordem, de avaliações de especialistas e de pseudo-especialistas e de apreciações de palpiteiros de todas as dimensões, o que sobrou de tudo isto? Que, apesar de lenta e marcada por percalços, dúvidas e incertezas, o País parece que estar a mudar. O que se presume é que as instituições estão, mesmo com suas precariedades e limitações, a operar e os fatos políticos, não importa a sua dramaticidade e mesmo, gravidade, não afetam mais tão seriamente, a vida e a economia do País como ocorria até um passado recente. Mas, se isto é algo saudável e positivo de se constatar, não há de se negar que o “triste fim de Luis Inacio” foi um golpe para todos aqueles que um dia viram nele a “äscensao do proletariado ao poder”. E, tendo exercido o poder, direta e indiretamente, por cerca de quinze anos, mesmo co todas as denúncias de desvios de conduta, ele continuava com um significativo prestígio junto às massas populares.

Lamentavelmente o que se assistiu foi a derrocada de alguém que incendiava as massas, que fez um primeiro governo do País que foi aplaudido por mais de 80% da população e que,  por conveniências, erros de conduta e crença na impunidade, deixou escorrer por entre os dedos, todo esse enorme capital político. Seu processo de desconstrução não se fez agora mas foi se realizando desde a epopéia do Mensalão quando o seu envolvimento só não teve consequências mais graves para ele por inabilidade, incompetência e interesses difusos das oposições políticas da época.

Lula, com quem o cenarista conviveu desde 1979 e com quem trabalhou na primeira década de 2000, era um homem afável nos gestos, simples, uma certa rudeza no linguajar mas, envolvente e convincente, de uma notável inteligência e de uma extraordinária competência política, estranhamente,  deixou que todas as suas potencialidades e possibilidades fossem superadas por sua incapacidade de administrar o próprio êxito e o próprio sucesso”!

Examinar o que passou, especular sobre os erros cometidos e avaliar o barulho provocado no meio de seus exaltados seguidores e admiradores, não agrega nada, pelo menos, para o momento em termos de intentar desenhar o cenário do que virá e concluir sobre o que ficará para a história. O que se deve intentar descortinar é o que virá numa chamada nuuma era pós-Lula. Que efeitos essa catacombe sobre o PT, terá efeitos significativos sobre o próximo pleito? Quem serão ou quem será o herdeiro político dele? Que esquerda surgirá a partir desse momento? Ou será que Lula, tal qual a Phoenix da mitologia grega, renascerá das cinzas e voltará ao cenário político nacional?

É difícil antever mas, dificilmente Lula conseguirá reconstituir ou reconstruir o líder carismático e envolvente que ele foi pois o discurso que garantiu o êxito passado perdeu o momento e o sentido para os dias atuais. E, mais ainda. Faltará a Lula a idade, a saúde e à disposição para um recomeço. E, no horizonte, por enquanto, não se vislumbra uma liderança capaz de ocupar o seu espaço com a desenvoltura e a competência como ele desempenhou. Mesmo que a duração de sua estada em Curitiba seja abreviada, as marcas que ficarão são indeléveis e não permitirão o seu retorno ao palco político.

O que se pode especular é sobre o impacto de sua saída de cena sobre o cenário nacional. Há quem acredite que Ciro Gomes, Marina Silva e até o recém lançado possível candidato, o ex-ministro Joaquim Barbosa, possam surgir como alguém com uma proposta ou com idéias sintonizadas com os novos tempos e com as expectativas de uma sociedade como que “meio cansada de guerra” como a brasileira. A tendência mais natural é que o pleito que se avizinha será algo sem maiores emoções e sem maiores atrações e a tendência, nesse primeiro momento, é o reestabelecimento do conservadorismo onde o pleito indicará que a sociedade buscará um candidato centrista diante do temor de extremismos e radicalismos.

E, desse modo, a “república terá sido salva” porquanto conquistas como a Lava Jato permanecerão, a impunidade não prosperará e a esperteza não mais será a marca maior de atuação dos homens públicos e dos líderes do país. Também, baseado no otimismo que domina o cenarista, iniciar-se-á um período de reestabelecimento de crença nas instituições e no amanhã do País e, por certo, o Brasil retomará a caminhada interrompida com a crise recente e com a frustração e a desconfiança que se instalou nos líderes e homens públicos do País. Ou será  “wishful thinking”, otimismo incontido ou até leviano por parte do cenarista? O fato singular é que, numa análise fria e isenta dos fatos, nunca se viu tanta mudança de comportamento das instituições brasileiras como nos últimos tempos. O legado, da Lava Jato, até agora, é enorme pelas figuras de peso trancafiadas ou processadas tanto do meio empresarial como político. E isto tem sido exemplar e tem levado a sensação de que o crime não compensa e a impunidade não mais prospera com tanta liberalidade como até recentemente.

A nova etapa do projeto do Brasil que se quer é tentar melhorar a qualidade da classe política e forçá-la a ter mais compromissos com a dignidade, a decência e respeito aos seus representados

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