2010, O ANO QUE VAI COMEÇAR!
Talvez uma das discussões mais interessantes que deverão assumir a liderança das novas “issues” do ano que começa, especialmente no mundo ocidental, diga respeito aos rumos e aos caminhos da democracia.
Os dados preliminares que se dispõe são relativamente auspiciosos. O fundamentalismo muçulmano dá mostras de que, como ocorreu na mesma percepção dos chineses, que abandonaram os valores e princípios da revolução cultural na China, o que os cidadãos querem, em primeiro lugar, é a garantia do direito à vida, à sobrevivência condigna, a liberdade de culto e à busca da felicidade, sem querer parafrasear a introdução da Constituição americana.
Os chineses têm dado mostras que não estão tão ansiosos em discutir as liberdades civis e políticas, mas, em primeiro lugar, estabeleceram como meta para eles mesmos, que a sobrevivência econômica condigna seria a primeira alternativa ou o primeiro grande objetivo, notadamente para as novas gerações e, depois, a busca do direito de ir e vir, sob o ponto de vista político, viria, necessariamente, como a segunda opção.
Este século começa sob os auspícios de um sentimento que domina quase todo o mundo. Todos estão exaustos de pelejas, batalhas e guerras. Nada disso tem mais charme e nada disso anima as discussões e os interesses. Claro que alguns grupos, diante de ressentimentos históricos e ou de pendências religiosas, ainda teimam na manutenção de um processo autofágico de confronto e de destruição. Mas, na maioria dos casos, o que se verifica é uma exaustão, um cansaço e uma busca por um processo de paz em que cada grupo escolha os seus caminhos e opções e não venha ser molestado nem pelo poder, nem pelas ideologias, nem pelas hegemonias e nem pela pressão autoritária por parte de grupos ou de pessoas. É por isto que não se pensa em fronteiras para os limites do número de estados e nações, porquanto a experiência histórica tem demonstrado que, impor que grupos religiosos ou étnicos, tão diferenciados histórica e culturalmente, tenham que ser mantidos sob o guante de um estado em que foram justapostos sem terem afinidades e nem identidades.
Dizia Winston Churchill que “a democracia é o pior dos regimes políticos, excetuando todos os outros” e, o mais relevante é que, as eleições servem muito menos para fazer as melhores escolhas, mas, após apostar em alguns nomes, idéias e homens, descobre o eleitor que errou nas suas a avaliações e fez as apostas erradas, a democracia lhe permite a chance de consertar o erro na próxima eleição retirando, de cena, aqueles que o enganaram ou que frustraram as suas expectativas.
A jornalista Lúcia Hipólito, em artigo recente publicado na mídia nacional, chamou a atenção para uma marca histórica inolvidável, qual seja, desde 1926 nunca se reelegeu três presidentes sem interstícios e sem interrupções do processo democrático. Para ela, “a democracia é um processo que só se consolida pela adesão quotidiana e voluntária dos cidadãos. Adesão a seus valores de eleições livres e diretas, instituições sólidas e independentes, alternância no poder, tolerância com o diferente”. E complementa, “a ditadura nos dá o direito de sermos iguais. A democracia nos dá o direito de sermos diferentes. De pensar diferente, de falar diferente, de tolerar outro que não pensa como você”.
Assim, nos anos mais recentes, os povos buscaram uma maneira de garantir os princípios que garantam a institucionalização da cidadania, quais sejam: uma estabilidade macroeconômica razoável, uma estabilidade relativa das instituições, marcos regulatórios estáveis e uma razoável segurança jurídica.
Parece-me que a sua visão sobre o assunto cai em um sentimento de romantismo, apesar de conter um otimismo, digamos, necessário.
Não consigo enxergar tal capacidade dos povos, até porque são mantidos à margem da informação e em condições, muitas das vezes, dependentes das benesses do estado. São inúmeros os exemplos espalhados pelo mundo, sem a necessidade de irmos tão longe! Aliás, a América do Sul parece estar repleta de governantes cujas características se encaixam perfeitamente no que me refiro.
Quando encontramos um povo que está inserido em um contexto mais favorável econômico, social e cultural pergunto-me se o motivo de aceitarem tais involuções deve-se ao fato de que ainda há um resquício na cultura que não permite quebrar essa corrente que os prende ao assistencialismo, à corrupção, à leniência e ao comodismo. Parece o mais fácil! Para que mudar esse “status quo”? “Eles” vão cuidar de nós que sem haja necessidade de passarmos pelos obstáculos naturais das mudanças e cairmos no trabalho árduo.
Faz sentido?