A VOLTA OU O RETORNO? É A OBVIEDADE!

De maneira envergonhada o cenarista vem a público apresentar as suas mais sinceras escusas pela ausência na produção de seus comentários, por quase um mês. Para um grupo tão fiel de amáveis e compreensivos leitores as razões para tal fato, embora não o justifique, decorrem de uma avaliação das circunstâncias políticas onde nem mesmo as tragédias coletivas — Brumadinho — ou individuais — o passamento de Ricardo Boechst —; nem tampouco a ausência de fato econômico singular ou de questão internacional de relevo  ou ainda, de uma atitude ou decisão de governo que tivesse o impacto na vida e na sociedade brasileira, seriam suficientes para justificar tal descaso para com os amáveis leitores. Portanto as escusas são mais que oportunas! Aliás são obrigações do afeto e do respeito do cenarista para com os seus amigos e leitores.

É fato que, os quase trinta dias últimos, a par da assunção de um novo governo, a nível nacional e estadual, caracterizaram-se pela mesmice, pelo lugar comum e pelo que o cenárista denomina de “monotonia da normalidade”. Nenhum fato especial pode ser destacado que marcasse o ambiente, as circunstâncias e o dia-a-dia do País. Nada de novo a não ser a triste tragédia de Brumadinho que já se previa desde a que a antecedeu, no caso a de Mariana.

Se se quiser “tirar leite de pedra”, talvez somente os eventos políticos diferenciados mas, de uma certa forma, aguardados, como o envio ao Congresso do pacote de justiça e segurança do Ministro Sérgio Moro; os questionamentos tímidos sobre as idéias contidas no pacote denominado de “reforma da previdência”; as questões envolvendo a demissão do primeiro ministro do governo, poderiam criar fatos políticos de repercussão maiores. Porém, na verdade, não foi isso que se assistiu. Vive-se, nos dias que correm, a mesmice da mediocridade que domina a cena nacional onde nem sequer o inusitado dar o ar de sua graça.

Por isto fica tão difícil produzir análises que provoquem interesse na sua leitura. Alguém poderia sugerir que se buscasse esmiuçar os conceitos e idéias contidas nas propostas de Sérgio Moro no sentido de avaliar se a sua aprovação produzirá efetivo impacto na redução da violência bem como na diminuição da criminalidade, de toda ordem, Brasil afora. Até agora, antes que se abram os debates pontuais sobre cada uma das idéias ali contidas, será difícil antecipar o que se poderá esperar da iniciativa do ministro da justiça.

Também, a própria proposta de reforma da previdência embora, nesse caso, por ser assunto ou matéria na pauta do debate nacional por um já razoável período de tempo, não gera um intenso debate pois que, em parte, a hábil escolha do mote de comunicação da proposta — “veio para corrigir desigualdade e permitir a sobrevivência do sistema previdenciário” — ajudou a torná-la mais palatável aos deputados e senadores. Ademais, ao insistir na tecla de que “os pobres pagarão menos e os que podem mais pagarão mais”, ao propor esse conteúdo de justiça social, conseguiu reduzir e, por certo, tenderá a reduzir as restrições e oposições ao seu conteúdo.

Ademais, o périplo que faz o Secretário de Previdência e Assistência Social, Rogério Matinho, num penoso processo de explicações detalhadas e didáticas de pontos que poderiam representar conflitos de interesses de determinados grupos sociais, tem representado instrumento fundamental de convencimento da maioria dos parlamentares. Por outro lado, a desarticulação das esquerdas e um trabalho ora feito junto a mídia, pelo governo, tem favorecido a criação de um clima propício à aprovação da matéria. Claro que algumas mudanças poderão e deverão ocorrer, mas sem comprometer a essência da reforma.

A questão que preocupa é a falta de articuladores e negociadores políticos no governo o que gera incertezas quanto a sua capacidade de negociar com lideranças no Congresso. Não basta Bolsonaro dizer que não aceita governar apoiado no estilo da velha política do “toma lá, da cá”. O fundamental é buscar estabelecer  uma argumentação convincente ou avaliar, friamente, que concessões o governo central fará à classe política, sem comprometer a ética comportamental do poder para, dessa forma, ser o governo capaz de manter a sua credibilidade. A arte de fazer política compreende dialogar, transitar entre contrários, debater, conceder, negociar e, ao final,  maximizar os resultados no processo de negociação com os parlamentares. E é isto que o governo Bolsonaro tentará conseguir,

E é isto também que se espera da estrutura de poder conandada por Bolsonaro. Será que seu estado maior, composto, fundamentalmente, de oficiais generais, conseguirá a proeza de, sem fazer concessões que não aviltem o poder, atingir, em prazos razoáveis, as decisões fundamentais a por em prática as suas ideias e compromissos de campanha? Será que, contando com a favorabilidade de ter os presidentes das duas casas do Congresso, totalmente comprometidos com as reformas, Bolsonaro e sua “troupe” terão a habilidade, a paciência e a competência de negociar com o Congresso e aprovar as reformas institucionais essenciais a que o País possa voltar a crescer, de forma sustentável?

Diz-se pela tradição e experiência vivencial que se tais medidas mais relevantes não conseguirem a sua aprovação nos primeiros seis meses de governo, aí as coisas ficarão mais difíceis de serem concretizadas. Mas, com jeito e com algo mais como, por exemplo, dando os 100 bilhões do que for arrecadado com o pré-sal,  como querem os estados, eles “sensibilizarão” os deputados federais a aprovarem tais matérias! Não são mencionados os senhores senadores  pois lá no Senado, o clima e os votos são amplamente favoráveis às reformas. Se assim for, o governo Bolsonaro “insípido, inodoro e incolor”, mesmo não ganhando cores mais fortes, estará cumprindo o seu papel e Paulo Guedes estará vendo ser construído o espaço necessário para rever o tamanho e o papel do estado e permitindo que os brasileiros sonhem com um estado que não atrapalhe o desenvolver de iniciativas e a aplicação da criatividade dos brasileiros para construir um novo tempo para o Brasil.

É claro que são apenas reflexões pois que o País já parou faz uma semana e o que se vive agora é, tão somente, a festa maior da brasilidade, o Carnaval. Portanto, nada de preocupações sérias e nem análises críticas para buscar entender para onde vai o Brasil. Aliás, agora, há uma convicção e uma certeza de que a folia tomará conta de mentes e corações país afora, desobrigando a todos de pensar em alguns coisa nova e relevante.

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