O PENSAMENTO ECONÔMICO DE SERRA E DILMA

Todos são unânimes em afirmar que os discursos de Serra e Dilma não serão muito diferenciados. Ou seja, as bases dos fundamentos da economia já estão dadas e, dificilmente, alguém poderá propor alterações substanciais no câmbio, nas metas de inflação, na responsabilidade fiscal e no que concerne ao superávit primário.

Mas, necessariamente, a consolidação e o aperfeiçoamento de tais instrumentos serão as bases das discussões entre os dois principais candidatos. Segundo José Serra, não se pode admitir que o Brasil tenha a mais alta taxa de juros do mundo; a moeda mais apreciada e uma grande irresponsabilidade no que diz respeito aos gastos correntes. Ou seja, a única maneira de fazer o necessário ajuste ou garantir a “sintonia fina” entre tais instrumentos, passa por uma modernização e atualização aos novos tempos, da política cambial, da política monetária com vistas a redução dos juros básicos e incorporando um processo de eficiência da gestão do gasto público, melhorar a relação dívida interna/PIB e, consequentemente, abrir espaços para uma taxa de investimento maior e a geração dos superávits externos, pelo menos, ao nível que se conseguia no passado recente.

Na verdade, na história das economias do mundo, em quase todas elas, à exceção dos EUA, o motor para garantir dinamismo do crescimento das mesmas economias foi sempre o setor externo. No caso do Brasil, até bem pouco, os EUA determinavam o ritmo de expansão da economia brasileira. Agora, houve um “shift” em direção à China – a China assumiu o papel de segundo maior exportador do mundo, no ano passado! – embora que, a abertura da economia brasileira para o exterior seja de apenas 1,2% e o Brasil se coloque em 26º no ranking de economias, no que respeita à referida abertura. Assim, na visão de Serra, é fundamental fazer alterações não no valor do câmbio em si, mas na política cambial como um todo, de forma a que se reduzam os constrangimentos e os processos de apreciação do real.

Quanto à política microeconômica, será necessária uma revisão dos instrumentos destinados a modernizar tecnologicamente a indústria e criar mecanismos destinados a melhorar a competitividade da indústria vis-à-vis das indústrias do exterior. Isto porque o processo de “desindustrialização” do País vem se acentuando bastante com a exportação de commodities, tanto agropecuárias como minerais, que tem assumido a liderança da geração de renda da economia nacional.

Se Serra fala um choque de gestão, melhoria da eficiência do gasto público e pequenos ajustes nos fundamentos da economia, Dilma mantém o mesmo discurso, qual seja, manter a mesma política de Lula, dando ênfase a consolidação das conquistas sociais. Mas, Dilma começa a ousar em termos de números, pois que já está a estabelecer objetivos em relação ao superávit fiscal, a meta de inflação, à relação dívida interna/PIB como que, forçando a que Serra, num desafio, venha dizer o que pretende alcançar ou contestar as presumidas metas de Dilma para a economia como um todo. Aliás, Dilma já diz apostar em um aumento da taxa de investimento de 19,5% que diz acreditar que chegue este ano em 21,5% o que, embora não sendo o ideal, já garante que se consiga manter os 5 a 6% de crescimento do PIB. Na verdade, Dilma continuará a “bater” na tecla dos famigerados PAC 1 e 2 como bases de garantia de sustentação do crescimento desejado para o País.

Mas, é bom que se diga que, pelas primeiras declarações dos dois pré-candidatos, ainda não se pode ter uma clara idéia de suas propostas de governo nem da consistência do que eles apresentarão para um julgamento crítico da sociedade. Mas, já é um começo. Dia 10, Serra deverá mostrar um roteiro mais completo e consistente do que pensa para o País e, aos poucos, os assessores de Dilma mostrarão novas propostas e idéias sobre o que pensa em termos de transformação da economia do País.

A SUCESSÃO DESLANCHOU?

Meirelles, sem chances quer para a indicação pelo PMDB como candidato à vice-presidência e, com uma possibilidade muito remota de êxito para conseguir uma vaga de senador por Goiás, “disse ao mercado e a Lula que fico”, acalmando os mercados e fazendo a alegria de Michel Temer. E todo mundo sabe porquê!
Aécio, diante da ampla viabilidade de eleição de Serra e, também, em face do fato de não ter para onde ir – porquanto não pode ir para Dilma e será apenas mais um Senador, no Senado, na hipótese de qualquer um ganhar – já dá sinais de que pode aceitar a indicação para ser vice de Serra.

Ciro ainda teima, mas, como todos já sentem, a chama do entusiasmo e da determinação para manter a sua candidatura já se apaga diante da postura de seu partido e da ação conciliatória de Tasso que, pelo que se sente no ar, já acertou com Serra o palanque do mesmo no Ceará e com Cid Gomes, que o apoiará para a sua reeleição a Senador pelo Ceará. Assim, até o início da próxima semana, Serra, Tasso, Ciro e Cid, juntos, decidirão que o palanque de Serra, no Ceará, será definido por Cid, afastando-se, o mesmo do PT e selando a sorte da antiga aliança dos Ferreira Gomes e de Tasso, aliança esta que volta mais firme do que nunca. Todos sabem que é uma aliança que vem de, pelo menos, 1986!

O discurso de Serra, bem trabalhado, bem estruturado e bem dosado, definiu as bases de sua campanha, estabelecendo princípios e valores e, ao mesmo tempo, estabelecendo linhas e diretrizes da sua proposta de transformação estrutural da economia e da sociedade brasileira.

Da mesma forma, Dilma continua na sua mesma linha de propor “continuidade com continuísmo”, porquanto assenta a sua estratégia em Lula e tão somente em Lula.

Ademais, praticamente os vices já começam a ser definidos, pois que, o G-8 da Câmara, com o respaldo do PMDB do Senado, já se definiu pelo apoio a Michel Temer, para contrariedade de Lula e de muitos petistas, mas, para a objetividade e factibilidade da aliança, vão ter que engolir Michel.

Por outro lado, Serra, ainda tendo mais tempo para traçar a sua estratégia de escolha do vice, na verdade, segundo as más línguas, já acertou todo o seu acordo com Aécio Neves que deverá, para o “bem de todos e felicidade geral da nação”, aceitar, com doce constrangimento, a sua indicação para vice. Caso venha a ocorrer um recuo de Aécio, diga-se de passagem, muito difícil de ocorrer, Serra teria duas alternativas possíveis e viáveis, quais sejam, a indicação de Tasso, para atender o Nordeste ou a indicação de Beto Richa, para conciliar interesses e a unidade dos apoios no Paraná.

Os palanques estaduais estão sendo fechados para ambos os candidatos ocorrendo alguns problemas para Dilma em estados como o Ceará, em Minas Gerais, no Pará e, agora, pela atitude esdrúxula do PT do Maranhão, em rejeitando o apoio a Roseana Sarney, criou-se um sério embaraço com o Morubixaba do Senado e seus companheiros. E aí podem faltar palanques para Dilma em alguns estados e, quem sabe, colocar o próprio Sarney e, talvez, Renan, nos braços de Serra. Ademais, em São Paulo, em Minas e no Rio, a atitude de Lula em relação à questão dos royalties pode, com certeza, de um jeito ou de outro, conspirar contra Dilma. Serra “nada sabe e nada fala” sobre a questão mesmo que São Paulo venha a ser muito prejudicado com a mudança dos critérios da partilha dos referidos royalties.

Os analistas mais sinceros confessam, agora, que a estratégia de Serra de não se declarar candidato e com todas as pressões dos correligionários e da mídia, até agora, ajudou-o, diferentemente do que se pensava, em muito, a reduzir as agressões e os ataques a ele e ao seu governo. Conseguiu manter-se com as preferências cristalizadas nos 35 a 40%, durante todo esse período e, agora, pode definir seus caminhos e alternativas com mais tranquilidade e serenidade. É por isto que, a partir de agora, como se pode deduzir das críticas educadas, porém duras, aos que cercam Lula – “não fui cúmplice de corrupção e de desmandos” -, crítica esta que, de forma direta, atingem o próprio Lula. E Serra espera que ele ou Dilma acusem o golpe, pois aí, o embate começa a ficar mais interessante. Fez, com a inauguração do Rodoanel uma declaração do tipo “obra não é no discurso e nem no papel, mas em concreto e pedra e cal”. E arrematou dizendo que não se deve confundir sério com sisudo nem vê-lo como centralizador ao invés de vê-lo como gestor capaz de coordenar ações e de cobrar resultados.

Por tudo que ocorreu na antevéspera da “sexta-feira da Paixão”, com as despedidas dos dois principais candidatos a Presidência, a sucessão começou e começou para valer!

A “NOVA” ESPLANADA SOB SUSPEIÇÃO!

São muitas as dúvidas que pesam sobre os novos auxiliares de Lula não só quanto a sua competência, capacidade de articulação política e de serem “notáveis” desconhecidos para o público, os políticos e a mídia, mas, em alguns deles, pesam suspeições de procedimentos e atitudes reprováveis.

Erenice Guerra, a nova Chefe da Casa Civil, ainda tem sob a sua cabeça, como uma espada de Dâmocles, a acusação de montagem de dossiês além de outras ações consideradas não muito corretas.

Os jornais mostraram a natureza de uma denúncia contra o novo Ministro da Integração, onde ficou a suspeição sobre condução irregular das licitações dos processos relativos à Transposição das Águas do Rio São Francisco, o que, até agora, não ficaram bem explicadas.

O novo Ministro da Agricultura, “enfant gatté” de Michel Temer, é acusado de transações tenebrosas quando dirigia a Companhia de Docas de São Paulo e de suspeição sobre contratos na CONAB, último cargo ocupado pelo atual ministro.

A mídia levanta dúvidas sobre projetos no Ministério dos Esportes também sujeitos a suspeições, notadamente projetos dirigidos ao Distrito Federal.

A irmã do Chefe de Gabinete de Lula vem a ocupar o cargo que era de Patrus Ananias além de Miriam Belchior, a viúva de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André, que agora é a mãe ou madrasta do PAC.

Na verdade, tais questões não afetarão muito o governo porquanto o governo é, exclusivamente, do Presidente Lula e, portanto, ou as coisas continuarão a andar devagar como já estão ou dentro da inércia natural do processo.

QUEM SERÃO OS PREFERIDOS PARA O NOVO GOVERNO?

Dizem que, se Dilma for eleita Presidente, estarão em alta no seu governo, Antonio Palocci, Paulo Bernardo, José Eduardo Cardozo, Fernando Pimentel, José Eduardo Dutra, Candido Vacarezza, Erenice Guerra, entre outros. Aliás, é bom não esquecer que, dos aliados, estarão em boas graças, Edson Lobão, Carlos Lupi, César Borges e Mário Negromonte.

Caso Serra seja eleito Presidente, nomes como Mauro Ricardo, José Roberto Afonso, Aloísio Nunes Ferreira, Nelson Jobim, Raul Velloso, Martus Tavares, Luis Roberto Barradas, Jarbas Vasconcelos, Paulo Delgado, Sigmaringa Seixas, entre outros, serão os preferidos.

Claro está que, Sérgio Guerra, Tasso Jereissati, entre outros, deverão ser chamados bem como, numa conciliação maior, Ciro Gomes deverá vir a servir ao governo Serra.

QUEM CAI PRIMEIRO?

As informações que estão sendo divulgadas pela Anistia Internacional sobre as execuções de opositores ao regime de Marmoud Armadinejah, do Irã; a repercussão, de ampla reprovação, da forma como estão sendo tratados os chamados “presos de consciência” de Cuba, com os protestos das mulheres de branco contra o governo, em face da greve de fome de vários cubanos; os descalabros cometidos pelo Coronel Chávez, na Venezuela, antecipam o que poderá ocorrer, em breve, nesses respectivos países.

Isto porque, recentemente, foi divulgada pesquisa realizada por um Instituto Latino-americano de Estudos sobre Democracia, avaliando o sentimento das populações, dos vários países latinos, no que respeita à democracia e a sua prática. Na referida pesquisa, cerca de 53% dos latinos não querem e não acreditam na possibilidade de serem restaurados regimes autoritários, via golpe militar, em seus países. Apenas 34% ainda temem que possa vir a ocorrer tais rupturas institucionais via golpes militares, porquanto, diante de manifestações de Chávez, de Evo, de Rafael Caldera, de Fernando Lugo e de Daniel Ortega, há ainda quem tema uma “recidiva” do que ocorreu, em passado relativamente recente, na América Latina.

Corroborando com tal sentimento, dois fatos devem ser considerados para que não se espere a reinstalação de regimes de força na região. O primeiro deles é que, os militares, como instituição, não querem mais “pagar o preço” do enorme desgaste, diante da sociedade civil, como sói ocorrer com os militares brasileiros e nem as forças armadas dos demais países, estão dispostas a serem manipuladas por tiranetes e títeres que usurpam o poder em nome de resguardo das próprias liberdades civis que eles acabam por cercear.

Assim, pelo andar da carruagem, é bem provável que, em breve, mais do que se imagina, o regime do Irã entre em crise e Armadinejad seja “apeado” do poder, dado o nível de revolta do povo e da falta de equilíbrio e de consistência da aliança dos aiatolás, entre eles mesmos e, de seu apoio, ao atual presidente. Assim a “bola da vez”, em termos de derrocada do regime, será, com certeza, o Irã. Falta ao país apoio internacional já que Rússia, Estados Unidos, Japão, União Européia, China e outros menos votados, estão todos, em uníssono, contra a política nuclear do país e reagem, negativamente, aos abusos perpetrados em termos de desrespeito aos direitos humanos.

Na sequência, é bem provável que caia a República Bolivariana Socialista de Hugo Chávez, diante dos desmandos em termos de desrespeito às liberdades civis, da opressão sobre intelectuais e jornalistas bem como pela perseguição constante às redes de televisão e rádio, além da enorme crise econômica que hoje domina o País e impede o seu Presidente de vender mais sonhos e esperanças ao seu sofrido povo. Portanto, dificilmente a “ditadura” chavista, inclusive com os seus problemas com a Colômbia, terá mais as simpatias de vários países sulamericanos, a não ser de Cuba! Sendo assim, na sequência de possíveis quedas de regimes, ao bolivariano seguirá a queda do regime conhecido como o dos aiatolás!

Finalmente Cuba, com a “ausência”, como liderança carismática, do Comandante ou “Coma Andante” para os adversários do regime, aguentará todas as pressões internas que, embora haja um processo de repressão violenta, não temem as retaliações, prisões e outras privações que o regime impõe aos seus dissidentes. Assim, Cuba, com a queda do regime, mostrará, ao mundo, o que os 50 anos de revolução garantiu de melhoria de qualidade de vida aos cubanos, quanto avançou no apoio aos direitos sociais e quanto “plantou” de bases para apoiar um desenvolvimento sustentável e continuado.

Aliás, quanto a este último ponto, o que parece, segundo relatos fidedignos, nada de base de logística e de estímulo para o fomento de negócios, foi realmente feito. Alguém há de observar que países como a Argentina, encontram-se em crise institucional e econômico-financeira bem mais grave que tais países mencionados o que, de certa forma, poder-se-ia esperar destino mais dramático que os do Irã, de Cuba e da Venezuela.

Na verdade, até mesmo os países africanos, com algumas graves exceções, estão intentando buscar o desenvolvimento apoiado em, ainda frágeis, mas democráticas instituições. Já nos países latinos, até a alteração da Lei Maior para buscar a perpetuação no poder e um terceiro mandato, tem sido a prática mais observada gerando, como era de se esperar, o caldo de cultura necessário para que se fomente situações de confronto entre o poder estabelecido e importantes segmentos da sociedade civil. É esperar para ver e para crer!

DESIGUALDADES, UM TEMA RECORRENTE!

De repente, um tema que estava hibernando, embora não devesse, o da desigualdade de renda, volta à tona a partir dos efeitos, considerados, por muitos, nefastos, gerados pelo ENEM/SISU. Ou seja, os estados do norte e do nordeste estão antecipando os efeitos deletérios do uso dos resultados do exame nacional do ENEM, como critério para ocupação das vagas, das universidades, em substituição aos vestibulares. O balanço dos resultados está a mostrar que, para as vagas de Engenharia, Medicina, Arquitetura, Direito, etc., a maioria das vagas, no Norte e Nordeste, está sendo ocupada por estudantes do Centro-Sul do País. E, em isto ocorrendo, uma política pública nacional, como sói ocorrer com várias outras, que deveria ser destinada a reduzir desigualdades e abrir oportunidades para os mais desvalidos, está produzindo um aumento da própria desigualdade de renda entre pessoas e entre regiões.

As desigualdades de renda são fruto de distorções do sistema capitalista, de causas históricas, de ações políticas e de políticas públicas que, aparentemente, destinadas a reduzir tais desigualdades, tendem a aprofundá-las!

Os processos de descapitalização das regiões mais deprimidas, antes promovidas pelo comércio externo e pelo câmbio, pelo sistema financeiro e bancário e por vários outros mecanismos, foram a base de alargamento do hiato entre, por exemplo, a região Nordeste e a região Sudeste do País. Migravam os recursos materiais e humanos, das regiões mais pobres para as regiões mais desenvolvidas, em busca de oportunidades mais promissoras, ampliando a descapitalização regional e alargando o fosso a ser vencido, das diferenças de renda.

Na verdade, para se ter uma idéia de tal processo, basta verificar o fato de que hoje o Nordeste Brasileiro, embora tenha 28% da população do País, só detém 12% da renda nacional! E isto porque, não só caíram bastante as taxas de fertilidade feminina, com notável impacto sobre o crescimento populacional da Região, como, nos últimos anos, O Nordeste vem crescendo a taxas superiores as do País.

A questão das desigualdades requer uma retomada da discussão porquanto, agora mesmo, relatório da ONU relativo ao “5º Fórum Mundial da ONU: O Estado das cidades do mundo 2010/2011- unindo o urbano dividido”, mostra que Fortaleza e Belo Horizonte estão em 13º lugar como as cidades mais desiguais do mundo, enquanto Brasília em 16º, Curitiba em 17º, Rio em 28º e, São Paulo, a melhor ranqueada cidade brasileira, em 39º! E isto implica no fato de que existe um vínculo entre distâncias sociais e disfunções e problemas sociais. E aí, violência e desigualdade de renda têm algo a ver.

Por outro lado, no sentido de ajudar a aprofundar tais desigualdades, é fundamental mostrar que, em termos de qualidade de ensino, o Brasil não conseguiu cumprir três das principais metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação para 2010 e está anos-luz dos indicadores da OCDE. Em termos de analfabetismo, a meta era chegar em 2010 em 4%, igual ao nível dos países europeus da OCDE e, o que se conquistou foi ficar em 10%, muito além da meta. Em repetência, a meta era 10,7%, o estágio atual é 13% e a OCDE está em 3%! Em termos de ensino superior, os matriculados entre 18 e 24 anos eram para alcançar 30%, ficaram em 13,7% e, na OCDE, o nível alcançou 39%!

Pelo que se pode observar do que ocorre na educação, em termos de país, e o que se reflete nos indicadores no Norte e Nordeste, bem piores que as metas nacionais, a contribuição do ENEM vai ser muito significativa para piorar, ainda mais, tais desigualdades e complicar a vida de milhões de severinos espalhados pelo Norte e Nordeste do País.

O PAÍS DOS DESPERDÍCIOS: A CULTURA, A LÓGICA E A PRÁTICA DO DESPERDÍCIO!

Muito se tem falado, país afora, como se desperdiçam recursos, tempo, talentos e oportunidades. Tudo por causa da burocracia, da incompetência, da incapacidade gerencial ou até, quem sabe, em face de interesses escusos! E isto, notadamente, no setor público, embora também se verifique no setor privado, onde são enormes os referidos desperdícios.

Talvez por inexistir uma cultura nacional, construída em anos de sofrimentos e privações, como enfrentaram os europeus, após tantas guerras, que os levaram à fome e ao desespero, não tenha sido permitido, no Brasil, desenvolver conceitos e idéias de “não istruir”, como dizem os nordestinos, máxime os cearenses, quando apelam para que não se “jogue fora” tantos bens e tantos valores!

A própria incapacidade de conter o desenfreado crescimento das urbes e, dada a cultura do automóvel, o que se desperdiça de vidas, de gastos com saúde e combustível, diante dos engarrafamentos monumentais, já representaria algo de tamanho impressionante! Nas próprias cidades, o que se desperdiça de água, por falhas e problemas na captação, na adução e na distribuição, além do uso perdulário de tão precioso líquido, é alarmante! No que respeita a alimentos, os desperdícios desde a colheita, o armazenamento e o transporte, segundo alguns levantamentos, alcança 20% da safra colhida. Na construção civil, o desperdício de materiais chega a mais de 18%, segundo dados levantados pelos sindicatos da construção civil! Se se considerar o tempo desperdiçado pelos empresários só para atender as exigências da burocracia nas áreas tributária, trabalhista, previdenciária, entre outras, representa soma que ultrapassa a mais de 5% do PIB do País.

Na verdade, os brasileiros que ousam refletir um pouco sobre os descaminhos desse “brazilzão” ficam deveras impressionados quando juntam “pedaços” para avaliar o tanto de meios que se joga, janela fora, face a tantas incompetências provocadas pela burocracia, pelo centralismo, pelo formalismo oficial, pela incompetência e pela corrupção!

Mas neste belo País não basta ficar indignado ou manifestar revolta quanto a tais descaminhos. Seria fundamental que se abrisse um amplo debate nacional para identificar tais desperdícios, as suas causas e as possíveis estratégias para tentar superar tais problemas.
Será apenas um problema cultural? Decorreria apenas da estruturação do estado brasileiro, centralizador, formal e burocrático? Seria fruto, apenas, do excesso de normas e procedimentos que, ao, aparentemente, se destinarem a facilitar, a regrar, a corrigir distorções, nas ações do poder público, tendem a “enrredar” os cidadãos numa teia de complicações? Complicações que, diga-se a bem da verdade, infernizam a sua vida e desperdiçam tempo, dinheiro, paciência e, até mesmo, chegam a sacrificar vidas que dependem da ação de governo!

Não seria hora de aproveitar os debates sucessórios a nível nacional para pautar tal questão e ver quem, dos presidenciáveis, tem alguma coisa criativa a dizer na busca de solução para tão grave problema? Talvez fiquem os brasileiros frustrados, pois que, é bem provável que até mesmo a tão requerida e necessária idéia de um planejamento estratégico para o país, que dê uma visão, aos cidadãos, para onde pretendem, os presidenciáveis, se eleitos, levá-los, inexiste e inexistiu até agora. Ou seria pedir muito dos presidenciáveis que eles exteriorizem, de forma clara, como pretendem conduzir o país e como acreditam poder levar o povo ao destino de esperança e de sonho a que este mesmo povo tem direito?

OS GARGALOS DOS PROJETOS ESTRUTURANTES!

O Brasil, além de apresentar uma limitada e constrangedora relação INVESTIMENTO/PIB, em torno de 17 a 19%, quando busca priorizar uma série de intervenções estruturantes, o esforço esbarra na incompetência gerencial, nos “imbróglios” criados pelos órgãos de licenciamento ambiental e os de controle, além dos naturais entraves burocráticos!

No estudo de um caso específico, o estado do Ceará, as obras do PAC mostram um desempenho para lá de pífio, reproduzindo, mais ou menos, o que ocorre a nível nacional. E, imagine o leitor que, em se tratando de regiões deprimidas, subordinadas a enorme fosso em termos de desigualdades de renda, vis-à-vis o resto do País, os atrasos no andamento de tais projetos estruturantes são deveras constrangedores e limitadores ao desenvolvimento do estado e a superação do seu estado de pobreza.

O PAC do Ceará tem 54,5% de suas obras no papel e apenas 10,2% delas concluídas. Os seus projetos estruturantes, sonhos de mais de quarenta anos, no caso a Refinaria e a Siderúrgica, sofrem dos mais variados problemas. A Refinaria, com a atitude claudicante da Petrobrás que, segundo Ciro Gomes, quer trocar o compromisso de implantação da Refinaria Premium II pelo apoio político a Dilma Rousseff além de problemas relativos a suposta “propriedade” da área onde será assentada, reclamada por uma etnia indígena! Aliás, é estranha essa demanda da tal etnia indígena porquanto no Ceará, nem índios e nem negros, praticamente, estiveram por lá. Lá não tinha zona da mata, não tinha ouro, não teve café e muito menos alguma coisa da Corte Portuguesa. Qualquer coisa em termos de índios aldeados e populações quilombolas é conversa de historiadores preciosistas ou de ambientalistas ou “culturalistas” xiitas.

Quanto a Siderúrgica, tão ansiada por permitir consolidar o embrião de um polo metal-mecânico, mais uma vez, licença ambiental, reclamos de uma etnia indígena, burocracia e outros pequenos entraves, estão a limitar o início da implantação de referido empreendimento.

Outros projetos capazes de mudar a face econômico-social do estado sofrem com a lentidão, com a falta de ousadia de gestores, com as limitações impostas pelo Planejamento para a liberação das verbas, além de ociosas discussões bizantinas. São eles a Transnordestina, importante eixo ferroviário a viabilizar o complexo industrial do Pecém; A Transposição das águas do Rio São Francisco, capaz de, com a implantação do projeto “Cinturão das águas” e através da recarga estratégica das barragens, permitir que os projetos de irrigação, já implantados, sejam viabilizados e propiciem uma expansão, enorme, da produção de frutas tropicais, de flores e do desenvolvimento da pecuária de pequenos animais.

Se não bastasse que tais projetos estivessem sofrendo atrasos e problemas, o Estaleiro a ser implantado no Estado, encontra resistência da Prefeitura em face da localização pretendida e defendida pelo governador. Até o programa “Cinturão Digital” aguarda o Projeto Banda Larga da União para que possa ter o seu desempenho agressivo capaz de promover uma verdadeira revolução cultural no Estado.

Claro está que o Ceará, se pretendesse desenvolver o seu crescimento diante de uma visão estratégica e aproveitadora de suas reais potencialidades, deveria voltar-se para o talento, a inventividade e a iniciativa das pessoas, as vantagens do clima – só a insolação garantiria potenciais inauditos de crescimento – e as possibilidades abertas pelos serviços de toda ordem, tão demandados e necessários ao País.

O Ceará, por exemplo, com cerca e 30 mil alunos do segundo grau, garante a maioria das vagas do IME, do ITA, da Escola Naval e ganha 43% de todas as olimpíadas nacionais de ciências exatas para alunos do segundo grau. Imagine o Estado aproveitando tal diferencial para gerar mão de obra altamente qualificada para produzir externalidades positivas para a atração de investimentos aqui e garantir investimentos lá fora?

O Estado tem a liderança, no Nordeste, em termos qualitativos e quantitativos, no que respeita a medicina de alta complexidade o que, poderia fazer com que, houvesse uma enorme demanda por tais serviços de todo o norte e nordeste do País. A criatividade e a iniciativa dos cearenses poderiam permitir a implantação de um polo de serviços de TIC’s, ou seja, de tecnologias da informação e da comunicação, permitindo-se reproduzir uma espécie de Nova Deli, na área metropolitana de Fortaleza!

E o turismo, diante dos investimentos que faz o Governador, em um novo Centro de Eventos, de um Aquário, de ampliação da infraestrutura viária, dos aeroportos regionais e a superação dos estrangulamentos do aeroporto de Fortaleza, encontra a possibilidade de permitir, só tal atividade, que a economia continue a crescer, pelo menos, dois pontos percentuais acima da média nacional.

E, caso os royalties do Petróleo cheguem ao Ceará, pelo menos na média entre o que hoje chega e o que a emenda Ibsen Pinheiro propôs, as possibilidades de financiar investimentos nas áreas de energia – eólica, solar e térmica – e de garantia da infra-estrutura necessária a gerar externalidades positivas para novos investimentos, então a coisa pode tomar o rumo desejado e merecido pelos cearenses.

Se os gargalos criados pelos embaraços fruto da incompetência gerencial da União, das restrições dos órgãos de licenciamento ambiental, da burocracia e do xiitismo de alguns defensores de supostas etnias indígenas e de descentes de negros – quilombolas que, só agora, apresentam os seus representantes caboclos! – forem removidos, então as desigualdades regionais, tão gritantes no País, começarão, de fato, a serem superadas.

O JOGO VAI COMEÇAR!

Está praticamente tudo pronto para o início da “peleja”. Os contendores já estão todos definidos e, inclusive, em alguns casos, até candidatos a vice. Claro que, em alguns casos, como em Brasília, por exemplo, dado o caos eleitoral que se montou em face do “Arrudagate”, as coisas devem ficar explicitadas neste fim de semana.

Em nível de País, embora tendo sido longa a espera e tenha provocado angústias existenciais e brotoejas em muitos oposicionistas, Serra se definiu e, após o “habemus papa”, equipes estão sendo estruturadas, palanques definidos, alianças estabelecidas, sucessores já estão sendo “aprontados” para assumir o governo paulista e, até a chapa de sucessão de Serra ao governo do estado, já está montada com Alckmin-Afif.

Serra conversa com Aécio, antes da viagem do governador ao exterior, após a sua desincompatibilização do cargo de governador de Minas Gerais. Essa conversa deve representar a definição dos espaços de poder do governador tanto no Governo Serra, se vitorioso, bem como no controle do partido, a nível nacional. Os demais ajustes praticamente já estão selados, à exceção do Ceará, onde o afastamento de Ciro e de Cid Gomes do PT está muito próximo de se concretizar. Com isto, a chamada “banda podre” do PMDB não emplacará, como eleito, o “dono” do partido, no Ceará, membro do “G-8 nacional”, Deputado Eunício Oliveira, como senador, para a satisfação de Ciro Gomes e, segundo alguns, para a alegria das torcidas do Ceará e do Fortaleza, em conjunto. Parece que o “portfólio” do deputado, a cada dia se vê mais empobrecido diante de um sério contencioso de problemas ocorridos com Sua Excelência, inclusive nos últimos dias e, em face da circunstância de que se começa a discutir, agora, na Câmara Federal, o chamado projeto dos “fichas-sujas”.

Dessa forma, então, pelas “bandas” de Tasso, ele vê superado o seu grande drama, qual seja, o de não poder manter a sua já “longeva” aliança com os Ferreira Gomes. E, ainda por cima, com a possível ruptura dos irmãos com o PT, não viverá o drama de ter que, via os parceiros, indiretamente vir a apoiar Dilma. E, ainda por cima, capitalizará como sendo o mentor de uma suavização ou até superação do conflito de egos entre Ciro e Serra.

OS FICHAS-SUJAS!

Finalmente Michel Temer resolveu comprometer-se com a votação do relatório do Deputado Índio da Costa relativo ao projeto, de iniciativa popular, com mais de um milhão e seiscentas mil assinaturas, destinado a impedir que pessoas sem idoneidade e com “folha corrida na polícia” ao invés de curriculum, concorram a cargos eletivos. Para que não sejam cometidas injustiças, fruto de conflitos de interesses políticos ou de linchamentos montados pela própria mídia, o relatório exige que o cidadão acusado tenha sido julgado já em segunda instância e que a decisão tenha sido de um colegiado e não uma decisão monocrática.

Claro que, segundo alguns analistas, quando a Câmara dos Deputados tem 180 parlamentares com processos instaurados no STF, que é o seu foro constitucional, muita gente duvida que a matéria seja votada agora. No máximo, se for votada, será para valer apenas, para o pleito de 2014! “That’s a pity!”

O desencanto com a vida pública e, particularmente, com o parlamento, está provocando uma “debandada” de quadros de competência e seriedade do Congresso Nacional. Já anunciaram que não irão participar do próximo pleito os Deputados Roberto Magalhães (DEM-PE), brilhante, serio e respeitado ex-governador de Pernambuco, além de José Eduardo Cardozo (PT-SP), Fernando Coruja, Líder do PPS na Câmara dos Deputados; Ibsen Pinheiro, ex-presidente da Câmara dos Deputados, entre outros. A justificativa, para uso externo, é que não têm como financiar uma campanha ou estão desencantados com os rumos da política nacional. O fato é que, diante do mensalão do DEM, do mensalão do PT e até do dito mensalão mineiro, aliados aos outros escândalos dos aloprados, dos sanguessugas, entre outros, e, lamentavelmente, do retorno “glorioso” dos que foram execrados recentemente e ainda continuam sendo processados em várias instâncias judiciais, aí os “carinhas” sérios desistiram da luta.

Parece que, relendo a “Oração aos moços”, de Ruy Barbosa, concluíram que, de “tanto ver prosperarem as nulidades…”, não vale mais a pena lutar. É pena!