O PAÍS DOS DESPERDÍCIOS: A CULTURA, A LÓGICA E A PRÁTICA DO DESPERDÍCIO!
Muito se tem falado, país afora, como se desperdiçam recursos, tempo, talentos e oportunidades. Tudo por causa da burocracia, da incompetência, da incapacidade gerencial ou até, quem sabe, em face de interesses escusos! E isto, notadamente, no setor público, embora também se verifique no setor privado, onde são enormes os referidos desperdícios.
Talvez por inexistir uma cultura nacional, construída em anos de sofrimentos e privações, como enfrentaram os europeus, após tantas guerras, que os levaram à fome e ao desespero, não tenha sido permitido, no Brasil, desenvolver conceitos e idéias de “não istruir”, como dizem os nordestinos, máxime os cearenses, quando apelam para que não se “jogue fora” tantos bens e tantos valores!
A própria incapacidade de conter o desenfreado crescimento das urbes e, dada a cultura do automóvel, o que se desperdiça de vidas, de gastos com saúde e combustível, diante dos engarrafamentos monumentais, já representaria algo de tamanho impressionante! Nas próprias cidades, o que se desperdiça de água, por falhas e problemas na captação, na adução e na distribuição, além do uso perdulário de tão precioso líquido, é alarmante! No que respeita a alimentos, os desperdícios desde a colheita, o armazenamento e o transporte, segundo alguns levantamentos, alcança 20% da safra colhida. Na construção civil, o desperdício de materiais chega a mais de 18%, segundo dados levantados pelos sindicatos da construção civil! Se se considerar o tempo desperdiçado pelos empresários só para atender as exigências da burocracia nas áreas tributária, trabalhista, previdenciária, entre outras, representa soma que ultrapassa a mais de 5% do PIB do País.
Na verdade, os brasileiros que ousam refletir um pouco sobre os descaminhos desse “brazilzão” ficam deveras impressionados quando juntam “pedaços” para avaliar o tanto de meios que se joga, janela fora, face a tantas incompetências provocadas pela burocracia, pelo centralismo, pelo formalismo oficial, pela incompetência e pela corrupção!
Mas neste belo País não basta ficar indignado ou manifestar revolta quanto a tais descaminhos. Seria fundamental que se abrisse um amplo debate nacional para identificar tais desperdícios, as suas causas e as possíveis estratégias para tentar superar tais problemas.
Será apenas um problema cultural? Decorreria apenas da estruturação do estado brasileiro, centralizador, formal e burocrático? Seria fruto, apenas, do excesso de normas e procedimentos que, ao, aparentemente, se destinarem a facilitar, a regrar, a corrigir distorções, nas ações do poder público, tendem a “enrredar” os cidadãos numa teia de complicações? Complicações que, diga-se a bem da verdade, infernizam a sua vida e desperdiçam tempo, dinheiro, paciência e, até mesmo, chegam a sacrificar vidas que dependem da ação de governo!
Não seria hora de aproveitar os debates sucessórios a nível nacional para pautar tal questão e ver quem, dos presidenciáveis, tem alguma coisa criativa a dizer na busca de solução para tão grave problema? Talvez fiquem os brasileiros frustrados, pois que, é bem provável que até mesmo a tão requerida e necessária idéia de um planejamento estratégico para o país, que dê uma visão, aos cidadãos, para onde pretendem, os presidenciáveis, se eleitos, levá-los, inexiste e inexistiu até agora. Ou seria pedir muito dos presidenciáveis que eles exteriorizem, de forma clara, como pretendem conduzir o país e como acreditam poder levar o povo ao destino de esperança e de sonho a que este mesmo povo tem direito?
Fernando,
Quando não insistí tanto em falar na pobreza cultura e política como causa maior de tais desperdícios, é para que não nos percamos nas generalidades e se busque cobrar, como bem você colocou, dos presidenciáveis, o que tem a propor sobre tal grave e séria questão.
Não tenho dúvidas a respeito da causa de tanto disperdício: cultura, sim. No entanto, a despeito dos motivos apresentados, o mais importante é, sem dúvida alguma, a falta de educação e preparo do nosso povo.
Se é dito que inteligente é aprender com nossos erros, acredtio eu que mais inteligente ainda é aprender com os erros alheios. Assim, não precisaremos nos confrontar em guerras para chegarmos a um nível de adequado de entendimento e maturidade.
Portanto, se falamos em propostas de governo dos nossos presidenciáveis estamos nos esquecendo de perguntar o tem de concreto a respeito para o tema em questão. Até agora não vimos nada e da forma como vem sendo conduzido o assunto, acredito que não veremos.