TEMPOS DIFÍCEIS!

As vezes se atribui um elevado grau de dificuldade a uma quadra de tempo onde um conjunto de impiedosas circunstâncias convergem ou coincidem em ocorrer, de forma simultânea, não apenas para intranquilizar ou angustiar a todos mas, ironicamente, para fazer a festa dos que sonham, estimulam e apostam na tragédia. Parece que é a quadra que ora experimenta o País  e que vem estimulada e potencializada por tragédias, por exemplo, até mesmo, de outros povo, neste mundo globalizado,  como as da Nova Zelandia e as que ora ocorrem em países africanos. Parece que a globalização provocou dois fenômenos na cabeça das pessoas quais sejam, tornarem-se mais sensíveis às desgraças alheias e sentirem que tragédias afetam a todos, provocam sentimentos de dó e de tristez,  mesmo que não ocorram tais tragédias com entes tão próximos!

No que respeita ao Brasil, parece que este mês de Março mostra-se um concorrente, pelo menos nas temerosas avaliações de tragédias do País, do tradicional e temido mês de agosto. Todas as grandes catástrofes que atingiram o país, segundo a tradição e a lenda, ocorreram nesse malfadado mês. Asiste-se,  nos dias que correm, a uma quadra turva, complexa e assustadora. A par das tragédias humanas e físicas, o País nunca teve uma ausência tão sensível de líderes, em quaisquer segmentos da vida nacional e nunca teve dirigentes públicos com tão pouca vivência, experiência e sensibilidade política! Os presidentes da Câmara e do Senado são verdes e com uma enorme pobreza de cultura humanística para entender o comportamento e o “mood”, da sociedade. Por outro lado, a visão e a perspectiva limitada do Presidente da República, marcado pelo simplório, pela platitude de ideias e pelas relações familiares tão pobres e restritas, bem como diante da sua precária dimensão intelectual e pouca compreensão do mundo a sua volta, impedem que o governo possa ousar mais, em termos de mudanças e de transformações!

O pessimismo toma conta do País na proporção em que o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, brinda os brasileiros com os piores exemplos, pelo menos no que concerne a atitude e ao comportamento dos ocupantes de cargos e funções públicas. São deputados estaduais, deputados federais, ex-governadores, membros do Tribunal de Contas além de outros detentores de poder de governar ou de formular politicas, presos ou acusados de toda ordem de desvios de conduta e de apropriação indébita de recursos do Erário. Se o Rio, sonho de consumo da maioria dos brasileiros, apresenta esse processo de degradação do espírito e do papel de gestores e membros do serviço público, incluindo-se aí até membros da justiça e do ministério público, a nível nacional, a coisa não é tão diferente. Hoje conta o Brasil com ex-ministros e com dois ex-presidentes da república atrás das grades, sem considerar que os últimos presidentes já estiveram sujeitos a denúncias e sugeridos o seu encarceramento!

Se chacinas como as de Realengo e de Suzano; tragédias como a do Ninho do Urubu ; os desastres ambientais como os de Brumadinho, entre outros,  já levaram a angústias e sofrimentos os brasileiros, preocupados com o futuro dos seus, o mais complicado de se entender ou de se aceitar é essa seca de homens e nomes que hoje domina o País. Não surge ninguém que possa gerar esperanças e que possa demonstrar que existe “luz no fim do túnel”. Isto porque, uma avassaladora onda de mediocridade toma conta do País, em todos os níveis da atividade humana, impedindo que se lancem expectativas de que, algo capaz de gerar sonhos, possa ocorrer. E isto, com certeza, limita as possibilidades de que alguma mudança possa vir a acontecer.

Tanto isto é verdade que, basta indagar, por exemplo, se alguém se lembrar de algum nome de expressão e renome ora atuando na atividade política? Quantos governadores, de uma nova safra, podem ser considerados como líderes que assumam postura nacional na defesa de ideias e de temas que levantem a opinião pública brasileira? Quantos membros da justiça, aí incluindo-se os membros dos tribunais superiores, merecem o respeito e o apreço dos brasileiros? Quantos membros das religiões, para não ficar apenas na católica, surgem capazes de interessar ou mobilizar as populações, em função de ideias ou propostas colocadas a público? Quantos ícones da intelectualidade vieram mostrar a sua insatisfação com o “status quo” ou trouxeram novas ideias capazes de sensibilizar a maioria da população? Quantos sindicalistas trouxeram questões que interessassem os trabalhadores? Quantos líderes empresariais surgiram ou estão a surgir nesse universo em desencanto para levantar ideias, críticas ou projetos para quebrar essa triste monotonia de frustração e de desencanto que domina a cena nacional?

Essas tristes indagações vem a demonstrar que vive o País tempos estranhos e confusos e, pelo que se sente, não tem sequer, se não nas lideranças mais expressivas, nem mesmo símbolos de sucesso nos esportes, na música, nas artes ou, até mesmo, no humorismo. E isto torna mais difícil fugir do pessimismo indicado por pesquisa internacional onde, com boa vontade, está classificado o País, como a sétima nação mais “down” do universo! Por isto é que o Brasil e os brasileiros perderam a graça, o humor e a vontade de lutar por causas e ideias. Nem sequer se pode dizer, como no poema do português José Regio: “Não sei para onde vou; não sei como vou; só sei que não vou por aí”!

O cenarista encerra esse melancólico comentário esperando que, pelo menos, novas notícias, nem que sejam as propiciadas pelo acaso, venham a levantar o ânimo e trazer esperanças de que tempos menos sombrios venham a dominar a cena nacional. Não se pode terminar os finais de semana só com chacinas, desastres ambientais ou outros desastres, estes frutos da incompetência dos gestores públicos. E, por incrível que pareça, nem sequer o futebol está sendo capaz de dar alguma alegria aos torcedores!

E o pior é se sentir, sem perspectivas e sem amanhã diante das lideranças que aí estão, onde, pelo que se sente,  nada sairá de criativo e inovador de suas cartolas!

 

 

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