POR ENQUANTO, SÓ DESENCONTROS!

O desenvolvimento de  uma nação ou de uma comunidade deve se sustentar em alguns valores, princípios e orientações. É fundamental que tal sociedade disponha de uma base institucional assentada em condições histórico-culturais sólidas além de ser capaz de guarantir um ambiente sócio-econômico e politico para os seus cidadãos, onde as atividades e os relacionamentos interpessais e intergrupais ocorram, sem maiores contratempos! É óbvio que não é fácil  construir-se uma sociedade estável, subordinada a regras que lhes garanta o equilibro econômico e sócio-político e que permita que o exercício da cidadania, por cada membro da comunidade, se faça, plena e satisfatoriamente! É tarefa ingente e leva tempo para cristalizar-se! Quanto menos tensões, atritos, divergências insanáveis entre os diferentes grupos que compõem a sociedade analisada, mais se poderá raciocinar com a probabilidade de estabilidade e desenvolvimento continuados e sustentados!

O Brasil experimenta um momento especial e singular. Não há um clima de expectativas favoráveis sobre o amanhã. Ao contrário. O que se comenta é que há um cansaço, um desânimo e uma certa indiferença geral e completa em relação aos destinos do País. Ademais, inexistem lideranças que pudessem levantar  bandeiras ou propor ideias que promovessem estimulos especiais capazes de mobilizar e entusiasmar parte da população em direção a sonhos, perspectivas e objetivos que a motivasse a alguma caminhada.

O Presidente Bolsonaro, nesses quase cinco meses à frente do poder nacional, em função de suas próprias limitações intelectuais e de sua pobreza em termos de visão estratégica sobre o que uma nação das dimensões do Brasil requer, além do mais, ainda tem a sua caminhada comprometida pelas atitudes impensadas de seus principais acólitos, os seus filhos! Ademais o seu mentor intelectual é uma espécie de doidivanas, arrogante, autoritário e pretensioso, o intelectual Olavo de Carvalho.

Embora nenhuma das propostas ou decisões de Bolsonaro ou de algum de seus ministros possam ser consideradas estapafúrdias ou causadoras de sérios transtornos, a pobreza intelectual e a excessivamente simplória visão das questões mais prioritárias com sugestões de soluções ainda mais limitadas, mostram o perfil do governo de uma pobreza estratégica impressionante. Adicionalmente, a falta de habilidade negocial e o despreparo do Presidente para promover entendimentos e estabelecer parcerias com uma necessária é fundamental  maioria congressual, criam dificuldades adicionais para à aprovação de medidas de muita prioridade e urgência para o país como, por exemplo, a reforma da previdência, a reforma fiscal e algumas reformas econômicas, fundamentais a superação de limitações ao desempenho da economia nacional!

Pesa um pouco contra o governo Bolsonaro  a perda de popularidade alcançada em tão pouco tempo, mesmo sem ter tomado decisões polêmicas ou contraditórias, mas,  muito mais, pela possível frustração da população diante de um conjunto de declarações inadequadas, imprecisas e muitas vezes, inconsequentes, pronunciadas pelo Presidente, pelos seus agitados filhos e pelo presunçoso e arrogante Olavo de Carvalho!

Na semana que começa, definir-se-á a capacidade do governo de negociar e aprovar matérias cruciais para o êxito do governo atual e que, não tendo sucesso na empreitada, abrir-se-á uma perspectiva para a debandada de nomes como Paulo Guedes, Sérgio Moro e alguns dos generais que dão suporte técnico ao governo. Se o governo não mostrar habilidade negocial com um Congresso que, pelo que se pode ver, não tem grupos nem líderes que possam estabelecer entendimentos e parcerias em temas e questões fundamentais, o futuro do governo é por demais incertos. Aliás, já surgem intérpretes do quadro político procurando antecipar sérios e difíceis momentos para Bolsonaro e seu grupo.

É bom torcer para que alguma lucidez paire nos corações e mentes de Bolsonaro e dos seus para que o País não pague o preço da incompetência político-administrativa dos que conduzem o processo de gestão da coisa pública nacional!

Assim, por enquanto, só desencontros!  Desencontros que geram um certo pessimismo, uma certa incerteza e um certo desânimo que já se refletem nos indicadores econômicos que mostram um crescimento, para este ano,mais limitado do que ocorreu no primeiro trimestre do ano passado! Espera-se que tudo fique apenas em desencontros e bobajadas próprias da inexperiência e do deslumbramento com o poder por parte de Bolsonaro e filhos.

 

 

 

 

O MESMO DO NADA!

Com um pouco mais de 120 dias o governo Bolsonaro na avaliação de uma mídia pouco simpática a Bolsonaro, por razões aparentemente justificáveis, quase que procura, apenas, em duas grandes linhas de atuação,  definir o perfil político-ideológico do governo. E que linhas seriam estas? A primeira, uma pouco  entusiasta e,  aparentemente relativamente bem vista busca de austeridade nos gastos públicos  e, a segunda, uma opção preferencial por afastar qualquer dirigente ou grupo com viés de esquerda, das opções de poder!

Essa parece ser os dois pontos que fangsm um pouco de respaldo da mídia. Não obstante essas ponderações, na verdade, o que se observa, de maneira fria e sem “part pris”, é que o Presidente Bolsonaro não tem, em primeiro lugar, a chamada perspectiva do estadista, capaz de vislumbrar alternativas e caminhos para as transformações da sociedade. Em segundo lugar, por ser uma figura quase tosca, não  é  capaz de vislumbrar uma noção estratégica sobre os problemas, questões e prioridades  nacionais mais urgentes. As suas propostas e as suas avaliações de quadros e de perspectivas, diante de suas características particulares e especiais, levam o Presidente e os seus  principais assessores — os filhos e o exótico e singular Olavo de Carvalho! — a elaborarem ideias e soluções muito rasteiras e muito pobres para questões, no mais das vezes, deveras complexas. Ademais, o assessoramento prestado pelos mesmos  carece de embasamento técnico-político bem como se sustenta numa visão estreita, limitada e precária claro que isto decorrente da própria dimensão de suas formações políticas e intelectuais. Por serem as pessoas mais próximas e mais confiáveis diante dos vínculos de lealdade os mais estreitos possíveis, isto, como que justificaria, para o Presidente, esta sua opção! Mas, tudo isto não justifica que os mesmos cometam erros imperdoáveis quando se trata das conversações, negociações e busca de entendimentos com parceiros ou adversários no processo político-administrativo  do País.

Talvez a impiedosa avaliação que a mídia vem, sistematicamente fazendo do seu governo e de suas propostas de ação, decorram do fato de Bolsonaro manifestar-se, sistematicamente, em divergência e, até mesmo em confronto,  com veículos como  a Rede Globo e como a Folha de São Paulo. Na verdade o fato do Presidente   ter mandado cortar parcela substancial de verbas publicitárias como um todo e, até o momento, não ter demonstrado qualquer interesse em estabelecer um entendimento educado e equilibrado com tais veículos, acirra o desentendimento e dificulta o diálogo.

O cenarista tem estado ausente do processo de discussão e avaliação das ações do governo Bolsonaro pois o tempo do novo governo ainda é por demais limitado para uma apreciação séria e isenta das iniciativas e providências tomadas. Ademais, diante da situação de  enormes dificuldades  do quadro político-institucional e econômico-social herdado pelo novo governo, não seria justo e próprio cobrar resultados significativos em menos de seis meses de atuação. Ou seja, o Presidente assumiu um país “desmantelado” em todas as suas dimensões e com vícios e distorções a serem corrigidos o mais rápido possível. E as medidas corretivas propostas ou ainda, no campo da especulação, promovem uma reação pesada daqueles que se beneficiavam e se beneficiam de determinados privilégios concedidos pelo estado.

Claro que, o cenário não é muito favorável ao Presidente pois as medidas de austeridade adotadas; os cortes de gastos em vários setores; a crise em que se encontra mergulhada a economia; a radical disposição de desaparelhar o estado de grupos ligados a esquerda, ao petismo e ao lulismo e o manifesto desapreço do Presidente para com o sistema Globo de TV e a Folha de São Paulo, são alguns dos ingredientes que alimentam uma manifesta insatisfação da mídia para com o atual governo.

Como as coisas andarão daqui para frente, só o tempo dirá. O sentimento que se tem é que o governo sofre da sua pobreza de espírito, da pobre vivência política do Presidente e de seu entorno e da falta de visão estratégica do que é administrar pressões, conflitos e interesse de um país dessas dimensões! Enquanto isto o País experimenta uma paralisia econômica, uma pobreza de debates sobre os seus principais problemas e uma certa angústia sobre como andará o amanhã desta nação outrora crente e otimista!

 

 

IMPROVISAÇÃO, PRAGMATISMO E SIMPLISMO!

O País já dispõe de elementos que permitem fazer incursões nos caminhos ou possíveis descaminhos do novo governo. Até agora os analistas políticos, embora ainda estejam a tentar qualificar ou classificar o estilo de governar de Bolsonaro, já ousam estabelecer alguns traços do perfil do novo governo. Aliás, com a preocupação de não incorrer em simplificações pobres e, também, de outra parte, intentando estabelecer os traços definidoras de seu estilo, também sem incorrer em avaliações empobrecidas pela pressa e pelas fragilidades das apreciações, alguns analistas arriscam traçar um perfil, por demais cauteloso, do novo governo. Aqueles que apenas buscam qualificá-lo como simplório e limitado, representam um grupo com uma pobre e precária definição do estilo bolsonarista. Discuti-lo em função de sua opção ideológica ou diante de sua intransigente defesa do militarismo e dos governos militares, também não traduz a sua visão, a sua proposta e o que realmente pensa e quer em termos de ação de governo. Falar no deslumbramento com o poder, exibido, particularmente, pelos seus filhos, também representa redução simplista e tal qualificação não serve a nada e nem a ninguém.

Também interpretá-lo segundo as propostas, idéias e sugestões daquilo que se pode extrair das declarações e manifestações de Bolsonaro não diz muito do que é, do que será e do que se imagina que Bolsonaro pensa do que é conduzir os destinos da 7a. maior economia do mundo. Numa visão simplista talvez o que Bolsonaro e os seus filhos pensam de positivo é que o País conta com instituições razoavelmente sólidas, práticas de gestão já suficientemente consolidadas e um histórico de superação de impasses institucionais que levam a constatação de que as coisas marcham quase sozinhas, independentemente de quem esteja a frente do poder.

Feitas tais ponderações e avaliações, uma análise fria da situação mostra dois fenômenos que hoje dominam a cena nacional. O primeira é a constatação de que as instituições nacionais embora nunca tenham experimentado momento de tanto descrédito e, até mesmo, de sofrerem tanto desrespeito e deboche, como agora, ainda representam a base de sustentação politico-administrativa do Pais. Se se pretendesse usar uma imagem ou uma expressão da medicina, o que se poderia dizer, com certa crueza crítica do processo politico-institucionsl, é que o Brasl vive o que se chama uma espécie de “falência múltipla dos órgãos”, no que respeita à qualidade de suas instituições. A demonstrar tal crise de idoneidade, de confiança e de respeito, basta observar o que ocorre com o Supremo Tribunal Federal, hoje marcado pelo descrédito de alguns de seus ministros como o próprio Presidente, Dias Tóffolli, além de outros como Alexandre Morais, Gilmar Mendes, Lewandovsky, entre os que necessitam hoje de uma quase proteção policial para poderem caminhar, como cidadãos comuns, pelas ruas de qualquer cidade do País.

Na verdade, os desencontros de suas decisões; as contradições abertas que a TV tem mostrado ao povo, em geral; a tomada de medidas questionáveis e a exteriorização de críticas a segmentos da sociedade, em face das demonstrações de descontentamento do povo diante de decisões confusas ou discutíveis tomadas pelos seus membros, tem levado a críticas impiedosas do “distnto” publico” e da mídia, como um todo. O STF não é mais aquele! Há quem peça, pelo menos, que se leve adiante a operação “Lava Toga”, em função da desconfiança nas atitudes e comportamentos demonstramos por Lewandovsky, Tóffolli, Alexandre Morais e Gilmar Mendes, arrolados como cidadãos cujo passado bem como cujas decisões recentes levam a suspeições as mais variadas.

Se é esse o diagnóstico da credibilidade e da confiança dos cidadãos nos seus ministros, a atitude recente dos ministros Alexandre Morais e Dias Tofolli de exacerbar das suas atribuicoés e competências ao promover processo investigatório sobre quem fez críticas ao Supremo e aos seus ministros, “pegou muito mal” perante a opinião pública, inclusive com uma aberta e incisiva discordância do Ministério Público, na pessoa da Procuradora Geral da República.

Se o Supremo, em termos de conceito e credibilidade perante a opinião pública, vive momentos difíceis e complicados, a ausência de líderes confiáveis, em qualquer segmento da vida nacional, gera uma sensação de orfandade ou de abandono, nos cidadãos como um todo. Na verdade o que se critica é que o País viva sob o domínio completo da mediocridade onde não se sobressai uma liderança qualquer, com alguma expressividade ou capaz de fazer alguma reflexão crítica que venha a ser objeto de análise dos cidadãos como um todo. Ou seja, as próprias religiões, inclusive a católica, não apresentam um nome com alguma dimensão intelectual ou espíritual, capaz de tocar a alma e os corações dos cidadãos. Uma foto publicado nas redes sociais onde estão reunidas as principais lideranças políticas nacionais, provocou uma reação das piores onde a manifestação mais suave dos internautas foi “ö que faz a quadrilha da foto”?

As “encrencas” criadas em Brasília estão por todos os lados na proporção em que o Congresso não consegue definir, com clareza, limites de atuação e posturas diante de propostas, embora, às vezes, polêmicas, a despeito de serem essenciais para garantir as bases do crescimento nacional. Assim o Congresso vive os seus momentos de busca de identidade ou de entender o seu papel politico-institucional e aprender a distinguir o que é relevante do que é irrelevante para o País, além de não ter clareza quanto a definição das bases de apoio ou de oposição ao poder. Até agora tudo parece uma espécie de ‘”samba do crioulo doido”.

No Executivo, as inopinadas e inoportunas declarações do Presidente; à pobreza do orçamento fiscal; a natural demora para a aprovação, pelo Congresso, de medidas capazes de abrir espaços para a retomada do crescimento da economia, deixam o ambiente confuso e sem uma direção para onde se pretende que o País vá. Assim, vive-se uma era de incerteza, de insegurança e de indefinições além de, inexistirem líderes em quaisquer segmentos de atividades do País que proponham, sugiram, invoquem ou provoquem debates capazes de abrir caminhos de transformação para o Brasil.

CEM OU SEM DIAS DE GOVERNO?

Exatamente no dia de hoje, segunda-feira, 8 de abril, o governo Bolsonaro completa cem dias! E, há uma tradição da mídia brasileira de avaliar, no curso da vida do País, o desempenho de todo governo que se instala, em todos os seus aspectos, dimensões e consequências, decorridos os seus primeiros cem dias de atuação. E, diante dos fatos e das circunstâncias, o que se pode dizer dos primeiros momentos do novo governo, de maneira sóbria, serena e equlibrada, sem part-pris?

Sem qualquer intuito de gozação e de deboche, a celebração dos primeiros três meses de governo ocorre num “primeiro de abril”, traditional dia festejado pelos brasileiros como o dia da “mentira”, o que, para o estilo debochado dos brasileiros, conduz a  insinuações de que tudo o que ocorrer, tudo o que se disser ou se fizer, naquele dia, não vale e não conta como algo capaz de ser levado a sério! A bem da verdade, fatos realmente relevantes para a população brasileira não foram sequer encaminhados porquanto o envio da própria proposta de reforma da previdência e as medidas de combate ao crime organizado e a violência, propostas pelo Ministro Sergio Moro, não foram sequer contempladas por um envolvimento pessoal e direto de Sua Excelência, o Presidente Jair Bolsonaro.

O que se pressente é que um possível entusiasmo com uma mudança de rumo na forma da condução da coisa pública ao iniciar-se um novo governo, parece estar se arrefecendo pois nenhum fato novo e nenhuma política de governo foi anunciada que pudesse empolgar a sociedade ou parte dela e nem sequer uma polemicazinha surgiu no horizonte político. Na verdade experimenta o Brasil uma espécie de monotonia da normalidade. Até a demissão de um ministro como foi o caso do da Educação, não provocou qualquer reação num sociedade que, pelo que se percebe, se  mostra passiva, indiferente e descrente de tudo e de todos.

A própria queda de mais de quinze pontos na popularidade do Presidente Bolsonaro, embora represente uma reação demonstrativa de uma certa frustração da sociedade diante das expectativas que alimentava em relação ao novo governo, não chega a alterar, substancialmente, o “mood” da população. Não se sente nem reação de revolta, nem de frustração e, por incrível que pareça, nem de indignação. Sabe-se que ela esperava mais mas não sonhava como no passado não muito remoto.

Claro que o quadro vai se tornando mais pessimista quando empresários e formadores de opinião revelem as suas projeções tanto para o crescimento econômico e, até mesmo, para o comportamento da inflação. As estimativas pioraram e não sugerem que a própria aprovação da reforma da previdência possa mudar, substancialmente, tal estado das artes. Assim, embora Bolsonaro ainda possa reverter tal tendência, as coisas não são tão claras assim. Isto porque a exploração muito mais do varejo das ideias, das políticas e das propostas do Presidente, não acalentam aquele velho sonho de que “agora a coisa vai”!

É preciso um choque de entusiasmo que desperte a população para uma nova empreitada que se apresente como desafiadora aos seus olhos. É preciso algum êxito, até mesmo esportivo, que mexa com seus brios e toque as suas emoções. É necessário um projeto de dimensões nacionais que sensibilize a maioria da população e devolva o ânimo e o otimismo que sempre marcaram o comportamento e a atitude dos brasileiros. A carência de líderes em todos os segmentos da sociedade cria esse torpor ou esse estado de desinteresse, de descaso e de descrença em tudo.

Será que algo novo será proposto ou, pelo menos, anunciado, que levante o ânimo e o entusiasmo dos brasileiros pois que, até agora nada desperta o interesse e nem joga um pouco de alegria a um povo extenuado e cansado dessa monotonia do nada acontecer? É esperar para ver!

TEMPOS DIFÍCEIS!

As vezes se atribui um elevado grau de dificuldade a uma quadra de tempo onde um conjunto de impiedosas circunstâncias convergem ou coincidem em ocorrer, de forma simultânea, não apenas para intranquilizar ou angustiar a todos mas, ironicamente, para fazer a festa dos que sonham, estimulam e apostam na tragédia. Parece que é a quadra que ora experimenta o País  e que vem estimulada e potencializada por tragédias, por exemplo, até mesmo, de outros povo, neste mundo globalizado,  como as da Nova Zelandia e as que ora ocorrem em países africanos. Parece que a globalização provocou dois fenômenos na cabeça das pessoas quais sejam, tornarem-se mais sensíveis às desgraças alheias e sentirem que tragédias afetam a todos, provocam sentimentos de dó e de tristez,  mesmo que não ocorram tais tragédias com entes tão próximos!

No que respeita ao Brasil, parece que este mês de Março mostra-se um concorrente, pelo menos nas temerosas avaliações de tragédias do País, do tradicional e temido mês de agosto. Todas as grandes catástrofes que atingiram o país, segundo a tradição e a lenda, ocorreram nesse malfadado mês. Asiste-se,  nos dias que correm, a uma quadra turva, complexa e assustadora. A par das tragédias humanas e físicas, o País nunca teve uma ausência tão sensível de líderes, em quaisquer segmentos da vida nacional e nunca teve dirigentes públicos com tão pouca vivência, experiência e sensibilidade política! Os presidentes da Câmara e do Senado são verdes e com uma enorme pobreza de cultura humanística para entender o comportamento e o “mood”, da sociedade. Por outro lado, a visão e a perspectiva limitada do Presidente da República, marcado pelo simplório, pela platitude de ideias e pelas relações familiares tão pobres e restritas, bem como diante da sua precária dimensão intelectual e pouca compreensão do mundo a sua volta, impedem que o governo possa ousar mais, em termos de mudanças e de transformações!

O pessimismo toma conta do País na proporção em que o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, brinda os brasileiros com os piores exemplos, pelo menos no que concerne a atitude e ao comportamento dos ocupantes de cargos e funções públicas. São deputados estaduais, deputados federais, ex-governadores, membros do Tribunal de Contas além de outros detentores de poder de governar ou de formular politicas, presos ou acusados de toda ordem de desvios de conduta e de apropriação indébita de recursos do Erário. Se o Rio, sonho de consumo da maioria dos brasileiros, apresenta esse processo de degradação do espírito e do papel de gestores e membros do serviço público, incluindo-se aí até membros da justiça e do ministério público, a nível nacional, a coisa não é tão diferente. Hoje conta o Brasil com ex-ministros e com dois ex-presidentes da república atrás das grades, sem considerar que os últimos presidentes já estiveram sujeitos a denúncias e sugeridos o seu encarceramento!

Se chacinas como as de Realengo e de Suzano; tragédias como a do Ninho do Urubu ; os desastres ambientais como os de Brumadinho, entre outros,  já levaram a angústias e sofrimentos os brasileiros, preocupados com o futuro dos seus, o mais complicado de se entender ou de se aceitar é essa seca de homens e nomes que hoje domina o País. Não surge ninguém que possa gerar esperanças e que possa demonstrar que existe “luz no fim do túnel”. Isto porque, uma avassaladora onda de mediocridade toma conta do País, em todos os níveis da atividade humana, impedindo que se lancem expectativas de que, algo capaz de gerar sonhos, possa ocorrer. E isto, com certeza, limita as possibilidades de que alguma mudança possa vir a acontecer.

Tanto isto é verdade que, basta indagar, por exemplo, se alguém se lembrar de algum nome de expressão e renome ora atuando na atividade política? Quantos governadores, de uma nova safra, podem ser considerados como líderes que assumam postura nacional na defesa de ideias e de temas que levantem a opinião pública brasileira? Quantos membros da justiça, aí incluindo-se os membros dos tribunais superiores, merecem o respeito e o apreço dos brasileiros? Quantos membros das religiões, para não ficar apenas na católica, surgem capazes de interessar ou mobilizar as populações, em função de ideias ou propostas colocadas a público? Quantos ícones da intelectualidade vieram mostrar a sua insatisfação com o “status quo” ou trouxeram novas ideias capazes de sensibilizar a maioria da população? Quantos sindicalistas trouxeram questões que interessassem os trabalhadores? Quantos líderes empresariais surgiram ou estão a surgir nesse universo em desencanto para levantar ideias, críticas ou projetos para quebrar essa triste monotonia de frustração e de desencanto que domina a cena nacional?

Essas tristes indagações vem a demonstrar que vive o País tempos estranhos e confusos e, pelo que se sente, não tem sequer, se não nas lideranças mais expressivas, nem mesmo símbolos de sucesso nos esportes, na música, nas artes ou, até mesmo, no humorismo. E isto torna mais difícil fugir do pessimismo indicado por pesquisa internacional onde, com boa vontade, está classificado o País, como a sétima nação mais “down” do universo! Por isto é que o Brasil e os brasileiros perderam a graça, o humor e a vontade de lutar por causas e ideias. Nem sequer se pode dizer, como no poema do português José Regio: “Não sei para onde vou; não sei como vou; só sei que não vou por aí”!

O cenarista encerra esse melancólico comentário esperando que, pelo menos, novas notícias, nem que sejam as propiciadas pelo acaso, venham a levantar o ânimo e trazer esperanças de que tempos menos sombrios venham a dominar a cena nacional. Não se pode terminar os finais de semana só com chacinas, desastres ambientais ou outros desastres, estes frutos da incompetência dos gestores públicos. E, por incrível que pareça, nem sequer o futebol está sendo capaz de dar alguma alegria aos torcedores!

E o pior é se sentir, sem perspectivas e sem amanhã diante das lideranças que aí estão, onde, pelo que se sente,  nada sairá de criativo e inovador de suas cartolas!

 

 

MAS É CARNAVAL, DIGA LÁ O QUE VOCÊ QUISER …

Passado a folia o que ficou mesmo foram algumas contas a pagar, o desencanto pelo fim daquele momento mágico de distanciamento de todos os problemas, angústias e preocupações e a volta dos desafios da dura realidade, a ser enfrentada no dia a dia. Agora todos, particularmente as autoridades governamentais, são confrontados com as angústias dos enormes problemas e urgências a serem enfrentados. E o acumulado é respeitável. Acrescente-se ainda a capacidade de muitos, inclusive do Presidente Bolsonaro de, inusitada e inexplicavelmente, em pleno Carnaval, agregar a sua contribuição a esse de besteirol, aliás  já de proporções enormes!

A festa momina já se foi, claro que, a exceção da Bahia, para não fugir a histórica tradição. Agora, atores da cena privada e pública, retomam o que deram uma espécie de pausa nas suas preocupações e voltam a mergulhar as suas atenções nos problemas e questões mais urgentes e dramáticas. Os brasileiros, como um todo, diante do comprometimento de suas receitas com um endividamento que já preocupa os próprios formuladores de políticas públicas e diante de um ainda elevadíssimo índice de desemprego que angustia mais de 12 milhões de patrícios, já sofrem por antecipação. O setor público, com o enorme desafio de enfrentar o monumental déficit público nacional e a urgente exigência de reorganizar a Previdência Social, de forma a ser compatível com que os brasileiros precisam e com o que eles podem sustenta-la. E, diga-se de passagem, só esses dois macro problemas tiram o sono e a tranquilidade de qualquer agente público, sério e responsável.

O que preocupa é que o Palácio do Planalto não dispõe de alguém capaz de entender o que se passa no Congresso Nacional, nem o sentimento que domina os congressistas e nem tampouco o ambiente que ali se instalou e que é propício a mudanças institucionais tão necessárias e urgentes para o País. E, muito mais que isto, o fato singular que é o de ter na presidência das duas casas do Congresso, figuras simpáticas e comprometidas com a necessidade e urgência de tais mudanças e que se mostram propensas a articular, compor e negociar, com os parlamentares, para que ainda se aprove, este semestre, a reforma da previdência e as medidas de contenção e controle fiscal, tão urgentes a abrir espaços ao investimento público e, por consequência, a um crescimento mais robusto do PIB.

Lamentavelmente Bolsonaro, por não ter história de um mínimo de proeminência no Congresso e por não se cercar de hábeis e articulados parceiros e assessores capazes de promoverem encontros, articulações e manifestações favoráveis à causa, enfrenta dificuldades nesse processo de encaminhamento de questões legislativas de interesse do poder. Além  de se mostrarem hábeis negociadores necessários a acertos com segmentos da sociedade civil com vistas a superar restrições e oposições a aspectos parciais que não agradam a tais setores da vida pública nacional, esses agentes agregariam mais valor à sua contribuição nas negociações de tais propostas.

Assim o que se espera é que a base institucional de apoio à Bolsonaro — Sergio Moro, Paulo Guedes, generais de quatro estrelas, além dos representantes da burocracia estável e permanente — não se cansem com as diatribes do Presidente, com a desagradável e inoportuna interferência dos filhos de Bolsonaro nas políticas públicas e nem com a pesada crítica de uma oposição marcadamente de esquerda. Se eles e os seus auxiliares aguentarem, pelo menos por seis meses, tais pressões e interferências, então, talvez, as reformas básicas venham a ser alcançadas.

E, se isto ocorrer, se o governo tiver atravessado o seu Rubicão, então ter-se-a a quase certeza de que as coisas irão dar certo e o PIB poderá crescer em mais de 2,3% este ano e entrará num processo virtual de expansão que alcançará mais do que os 4,1% ao ano imaginados pelos tecnoburocratas do poder. E, fundamental será, também que a mídia colabore na criação de um ambiente e de um clima de crença no potencial de crescimento e na criatividade e disciplina da mão de obra do País para construir o seu amanhã. Se essas circunstâncias favoráveis à expansão e ao crescimento se verificarem dificilmente o Brasil deixará de voltar a ser a quinta economia do mundo e uma das mais dinâmicas do universo.

E aí, mesmo com Carnaval, corrupção e incompetências mis, o País superará os seus desafios e encontrará o seu caminho, não importa a descrença de muitos e a aposta no fracasso, por parte das esquerdas.

 

 

EMPACOU E, PARECE QUE NÃO SAI DO LUGAR!

Existe momentos na vida das pessoas em que as coisas empacam e não mostram sequer possibilidades ou perspectivas de sair do lugar. Existem circunstâncias que levam a uma espécie de “branco”  no pensar das pessoas que impedem o surgimento de soluções para, até mesmo, pequenos problemas. Se tal acontece com as pessoas, é possível imaginar que possa se reproduzir em grupos sociais ou em sociedades inteiras. Há situações tais em que as sociedades não dão sinais de que sejam capazes de encontrar saídas até mesmo para pequenos impasses ou problemas.

E qual seria ou quais seriam as causas dessa atitude? Há várias tentativas de buscar uma ou várias explicações que poderiam ser consideradas consistentes com o quadro que se apresenta. Uma delas é a de que tal atitude nada mais é do que o reflexo do comportamento e da postura da sociedade como um todo, qual seja, indiferente ou distante de qualquer postura ativa ou demonstrativa de envolvimento no encaminhamento da solução do problema ou dos seus problemas. O que se sente é que a sociedade como um todo se mostra ausente, indiferente e alheia a qualquer tipo de manifestação de grupos ou da sociedade como um todo sobre temas mesmo aqueles da maior pertinência e oportunidade.

O que se percebe é que a sociedade brasileira não se sente sensibilizada, envolvida e nem compromissada com qualquer dos temas sejam eles os mais relevantes e os mais urgentes. Têm-se a sensação de que a postura dela parece que as circunstâncias deixam-na sufocada e sem capacidade de reação. A sociedade é contra a violência mas não se presta a qualquer manifestação de protesto contra atitudes do poder constituído ou de grupos do chamado crime organizado que favoreça ou patrocine tal atitude. A sociedade parece querer uma mudança nos hábitos e nos costumes políticos mas, até agora, afora a eleição de um “outsider” como Bolsonaro, ainda não se manifestou, nem direta e nem indiretamente, sobre o que espera e quer do governo ou espera e quer do Parlamento.

Por outro lado, se há esse imobilismo da sociedade civil, onde nem esquerda nem a dita direita, nem tampouco até mesmo os chamados grupos anárquicos se mobilizaram para tornar públicas as suas divergências para com o poder constituído, nenhum outro segmento organizado da mesma se manifesta. E, a tendência é, simplesmente, que não se criam expectativas de que algo transformador venha a ocorrer. Aliás, divergências sobre o que e o porquê de idéias e propostas uma vez que não vieram à lume as chamadas questões mais polêmicas, sequer encontram ambiente propício para prosperar. Ou seja, num deserto de idéias não se pode aguardar, debates, polêmicas e contradições e, nem tampouco, o embate de grupos disputando o poder.

Talvez tudo isto encontre explicação nesse processo de mediocrização em que anda mergulhada a sociedade brasileira como um todo. Não se observa e nem se ouve manifestação, contradição e debates de grupos organizados e nem tampouco manifestação individual de líderes em qualquer segmento — intelectual, empresarial, politico, religioso, ou de qualquer outro grupo — capazes de despertar o interesse ou sensibilizar quem quer que seja. Ou seja, a platitude, o desinteresse, o descaso e a indiferença são as marcas das chamadas elites nacionais, máxime no que diz respeito a questões graves como são a segurança, a saúde, a educação e a questão urbana.

E por que se observa esse deserto de homens e de idéias máxime quando ocorreram eleições gerais diferenciadas, com uma taxa de renovação de mais de 50% das duas casas e de choques de alteração dos padrões nas escolhas dos novos governadores? Ademais, quando as manifestações espontâneas da sociedade civil contestam o poder instaurado e mostram useiro e grave desrespeito às autoridades constituídas, hoje nem sequer salvando-se de tais embaraços e constrangimentos até mesmo os ministros dos tribunais superiores?

Esse quadro confuso, embaraçoso e, ao mesmo tempo, constrangedor, mostra que a sociedade brasileira vive um momento não apenas de pobreza intelectual mas também de insipidez, de falta de criatividade e de iniciativa não se vislumbrando perspectivas de que algo diferente possa vir a ocorrer. Ou seja, nada acontece que represente um fato significativo ou capaz de gerar repercussões de monta em segmentos específicos da sociedade. Agora mesmo, a enorme e dramática tragédia de Brumadinho, com um número de mortos que representa dez vezes mais que os óbitos da tragédia de Mariana, não chocou e nem mobilizou a sociedade como seria de se esperar. Na verdade o número de mortos pode ultrapassar os duzentos, os prejuízos materiais podem até ser maiores e as implicações e repercussões nas práticas e políticas de exploração mineral do país serão bem  mais significativas do que o que se imaginava.

Assim, só o Carnaval, esse anestésico social, para dar uma pausa nas angústias existenciais vividas pelos brasileiros e permitir que os sonhos que são difíceis de realização, voltem a ser imaginados como passíveis de concretização, produz essa pausa nas angústias acumuladas. Assim se espera que após esse período, a sociedade volte a meditar e a intentar conceber políticas e estratégias capazes de encaminhar as pendências mais urgentes do País!

A VOLTA OU O RETORNO? É A OBVIEDADE!

De maneira envergonhada o cenarista vem a público apresentar as suas mais sinceras escusas pela ausência na produção de seus comentários, por quase um mês. Para um grupo tão fiel de amáveis e compreensivos leitores as razões para tal fato, embora não o justifique, decorrem de uma avaliação das circunstâncias políticas onde nem mesmo as tragédias coletivas — Brumadinho — ou individuais — o passamento de Ricardo Boechst —; nem tampouco a ausência de fato econômico singular ou de questão internacional de relevo  ou ainda, de uma atitude ou decisão de governo que tivesse o impacto na vida e na sociedade brasileira, seriam suficientes para justificar tal descaso para com os amáveis leitores. Portanto as escusas são mais que oportunas! Aliás são obrigações do afeto e do respeito do cenarista para com os seus amigos e leitores.

É fato que, os quase trinta dias últimos, a par da assunção de um novo governo, a nível nacional e estadual, caracterizaram-se pela mesmice, pelo lugar comum e pelo que o cenárista denomina de “monotonia da normalidade”. Nenhum fato especial pode ser destacado que marcasse o ambiente, as circunstâncias e o dia-a-dia do País. Nada de novo a não ser a triste tragédia de Brumadinho que já se previa desde a que a antecedeu, no caso a de Mariana.

Se se quiser “tirar leite de pedra”, talvez somente os eventos políticos diferenciados mas, de uma certa forma, aguardados, como o envio ao Congresso do pacote de justiça e segurança do Ministro Sérgio Moro; os questionamentos tímidos sobre as idéias contidas no pacote denominado de “reforma da previdência”; as questões envolvendo a demissão do primeiro ministro do governo, poderiam criar fatos políticos de repercussão maiores. Porém, na verdade, não foi isso que se assistiu. Vive-se, nos dias que correm, a mesmice da mediocridade que domina a cena nacional onde nem sequer o inusitado dar o ar de sua graça.

Por isto fica tão difícil produzir análises que provoquem interesse na sua leitura. Alguém poderia sugerir que se buscasse esmiuçar os conceitos e idéias contidas nas propostas de Sérgio Moro no sentido de avaliar se a sua aprovação produzirá efetivo impacto na redução da violência bem como na diminuição da criminalidade, de toda ordem, Brasil afora. Até agora, antes que se abram os debates pontuais sobre cada uma das idéias ali contidas, será difícil antecipar o que se poderá esperar da iniciativa do ministro da justiça.

Também, a própria proposta de reforma da previdência embora, nesse caso, por ser assunto ou matéria na pauta do debate nacional por um já razoável período de tempo, não gera um intenso debate pois que, em parte, a hábil escolha do mote de comunicação da proposta — “veio para corrigir desigualdade e permitir a sobrevivência do sistema previdenciário” — ajudou a torná-la mais palatável aos deputados e senadores. Ademais, ao insistir na tecla de que “os pobres pagarão menos e os que podem mais pagarão mais”, ao propor esse conteúdo de justiça social, conseguiu reduzir e, por certo, tenderá a reduzir as restrições e oposições ao seu conteúdo.

Ademais, o périplo que faz o Secretário de Previdência e Assistência Social, Rogério Matinho, num penoso processo de explicações detalhadas e didáticas de pontos que poderiam representar conflitos de interesses de determinados grupos sociais, tem representado instrumento fundamental de convencimento da maioria dos parlamentares. Por outro lado, a desarticulação das esquerdas e um trabalho ora feito junto a mídia, pelo governo, tem favorecido a criação de um clima propício à aprovação da matéria. Claro que algumas mudanças poderão e deverão ocorrer, mas sem comprometer a essência da reforma.

A questão que preocupa é a falta de articuladores e negociadores políticos no governo o que gera incertezas quanto a sua capacidade de negociar com lideranças no Congresso. Não basta Bolsonaro dizer que não aceita governar apoiado no estilo da velha política do “toma lá, da cá”. O fundamental é buscar estabelecer  uma argumentação convincente ou avaliar, friamente, que concessões o governo central fará à classe política, sem comprometer a ética comportamental do poder para, dessa forma, ser o governo capaz de manter a sua credibilidade. A arte de fazer política compreende dialogar, transitar entre contrários, debater, conceder, negociar e, ao final,  maximizar os resultados no processo de negociação com os parlamentares. E é isto que o governo Bolsonaro tentará conseguir,

E é isto também que se espera da estrutura de poder conandada por Bolsonaro. Será que seu estado maior, composto, fundamentalmente, de oficiais generais, conseguirá a proeza de, sem fazer concessões que não aviltem o poder, atingir, em prazos razoáveis, as decisões fundamentais a por em prática as suas ideias e compromissos de campanha? Será que, contando com a favorabilidade de ter os presidentes das duas casas do Congresso, totalmente comprometidos com as reformas, Bolsonaro e sua “troupe” terão a habilidade, a paciência e a competência de negociar com o Congresso e aprovar as reformas institucionais essenciais a que o País possa voltar a crescer, de forma sustentável?

Diz-se pela tradição e experiência vivencial que se tais medidas mais relevantes não conseguirem a sua aprovação nos primeiros seis meses de governo, aí as coisas ficarão mais difíceis de serem concretizadas. Mas, com jeito e com algo mais como, por exemplo, dando os 100 bilhões do que for arrecadado com o pré-sal,  como querem os estados, eles “sensibilizarão” os deputados federais a aprovarem tais matérias! Não são mencionados os senhores senadores  pois lá no Senado, o clima e os votos são amplamente favoráveis às reformas. Se assim for, o governo Bolsonaro “insípido, inodoro e incolor”, mesmo não ganhando cores mais fortes, estará cumprindo o seu papel e Paulo Guedes estará vendo ser construído o espaço necessário para rever o tamanho e o papel do estado e permitindo que os brasileiros sonhem com um estado que não atrapalhe o desenvolver de iniciativas e a aplicação da criatividade dos brasileiros para construir um novo tempo para o Brasil.

É claro que são apenas reflexões pois que o País já parou faz uma semana e o que se vive agora é, tão somente, a festa maior da brasilidade, o Carnaval. Portanto, nada de preocupações sérias e nem análises críticas para buscar entender para onde vai o Brasil. Aliás, agora, há uma convicção e uma certeza de que a folia tomará conta de mentes e corações país afora, desobrigando a todos de pensar em alguns coisa nova e relevante.

SERÁ QUE OS FATOS TENDEM A CONSPIRAR A FAVOR DO PAÍS?

Os sinais, às vezes, parecem trocados. Outras vezes, se contradizem mas, no mais das vezes, dão indicações do caminho que as coisas e as circunstâncias tenderão seguir. Dessa forma, apesar da descrença da midia e das elites nas perspectivas positivas que o governo que ora se inicia poderá enveredar, os indícios e, até mesmo o acaso, conspiram a seu favor. As expectativas da maioria da população são francamente otimistas e positivas esperando que Bolsonaro faça um bom governo. A economia já começou, embora timidamente, a retomar o ritmo de expansão. Apesar de tudo que se fez em termos de vender uma péssima imagem do país lá fora, os investidores externos já reexaminam as suas posições. A Bolsa já mostra desempenho mais otimista e o dólar se mantém, até agora, bem comportadinho e, o que é mais relevante, sem a intervenção do governo.

Parece que as coisas começam a tomar o rumo esperado e desejado pelos brasileiros e, pelo que se vislumbra, não há aquela ânsia e nem aquela preocupação em definir de quem é o mérito pelos novos e animados caminhos que o País quer seguir ou precisa seguir.

É bom que se diga que os últimos acontecimentos políticos tenderiam a conduzir aos pretensos analistas da cena nacional a admitir que os fatos recentes conspirariam a favor de um bom encaminhamento dos problemas e questões nacionais. A simples ocorrência de que se estar a se implantar um novo governo, já geraria um clima de esperança e de otimismo na população sobre o hoje e o amanhã do País. Também a fé e a crença, arraigadas no sentimento popular, de que o “amanhã deverá vir a ser melhor do que o ontem”, seriam manifestações da crença que se fundou não se sabe se numa espécie de “wishful thinking” ou numa espécie de crendice popular arraigada de que o tempo é de sonho, de esperança e de colheita.

Claro que eventos tão perversos como os de Brumadinho e a insistente demonstração de força do crime organizado no Ceará criam temores de que as coisas não irão pelo caminho certo! Por outro lado, o temor já exibido por muitos de que o novo Congresso não teria nada de novo e apenas reproduziria os velhos hábitos e costumes arraigados no comportamento da classe política como um todo, deixaria a quase certeza de que nada irá mudar. O cenarista tem uma outra visão e perspectiva do que poderia , pois os fatos mais recentes mostram que o Congresso que aí está é novo e quer mostrar a que veio.

Já se pode celebrar o fato de que o Congresso não se deixou levar pelo conservadorismo e o antigo controle das duas Casas pelos velhos e viciados políticos que nada teriam a acrescentar à cena. Ao contrário, a renovação do Senado se fez e se mostrou presente, sem demonstrações de presunção e de arrogância mas apenas afirmando que “chegamos” e o recado das urnas será respeitado e levado adiante. A Câmara, tendo renovado metade de seus quadros, buscará melhorar a imagem de um passado recente que lhe tirou o respeito e, até, uma possível admiração do eleitorado.

Pelos anúncios do pacote de Sergio Moro e do que está para vir de Paulo Guedes, a tendência é que transformações estão por vir e antecipam mudanças que farão com que, não apenas medidas de austeridade e controle de gastos públicos já sendo anunciadas, bem como as reformas essenciais da previdência e a reforma fiscal, estão vindo  com conteúdos inovadores e capazes de mudar a face e o comportamento do setor público brasileiro. E é porque os analistas não estão observando o que vai pelos estados onde o sentimento de organizar as finanças públicas, de reduzir desperdícios, de combater a corrupção e de estabelecer prioridades condizentes com as expectativas populares, tem sido as marcas maiores de manifestação desse novo tempo.

A única coisa a preocupar, deveras, aos brasileiros, diz respeito ao estado de saúde do Presidente Bolsonaro que ainda não encontrou a certeza de sua recuperação completa e da sua volta às atividades de primeiro mandatário da nação. Espera-se que ele volte, no vigor e no entusiasmo de um sessentão disposto e atlético, ao comando do País e contando com a competência e a sobriedade de seus auxiliares. E, como anunciado, que ocorra até o final da semana que se inicia!

UM MOMENTO APARENTEMENTE INUSITADO!

Após mais de um mês de governo; dez desmentidos de declarações do Presidente; duas demissões de nomeados para o alto escalão; vitórias com repercussão popular, como a prisão de Cesare Battisti; também marcado por fatos deveras desgastantes para o País, como foi o caso da tragédia de Brumadinho e o deprimente espetáculo proporcionado pelos senhores senadores, as pesquisas de opinião ainda estão mostrando que 67% dos brasileiros estão otimistas com o governo e com o futuro do País. E tais dados dão a sensação de que as coisas podem muito bem vir a dar certo, independentemente do julgamento que a mídia e os analistas políticos façam ou fazem de Jair Bolsonaro. Ademais, a chamada sobrepopulação de “milicos” em cargos e posições estratégicas do governo e, diga-se de passagem, num governo eleito legitimamente pelo voto popular, é levantada, de forma pouco positiva, pela mídia, com o objetivo de buscar gerar desgastes ao Presidente. 

Pela sua formação e pelas suas convicções, Bolsonaro apostou quase todas as suas fichas nos valores que ele avalia estariam presentes na cabeça dos “milicos” de “alto coturno”! Na verdade o presidente procurou, nos generais convocados para o seu governo, aqueles que demonstrassem a maturidade, a experiência e a sensibilidade política desejadas ou, até mesmo, exigidas para o exercício de tais funções públicas. E, ao que parece, tem encontrado tais valores nos auxiliares já nomeados! Para Bolsonaro o mais importante é que, a demonstrar tais presumidos acertos das escolhas, até agora, sem mudar as suas convicções, os milicos eleitos para ajudá-lo,  nenhum deles cometeu equívocos, gafes e erros ou fez declarações que criação situações embaraçosas para o governo e o seu presidente.

Ou seja, não há o que questionar das escolhas feitas por Bolsonaro. Pelo que se pode constatar os deslizes que porventura já ocorreram se deram, até agora, em declarações ou gestos de alguns ministros civis, como foram as declarações e conceitos expendidos pela Ministra Damares Alves, pelo Ministro das Relações Exteriores, Eduardo Aragão e pelo colombiano, Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez. Mesmo em tais casos, nada compromete ou comprometeu o governo Bolsonaro. E, pasmem, nenhuma inabilidade dos militares se verificou até agora!

O que se deve avaliar e deve preocupar é como esse governo, sem acordos partidários, conseguirá aprovar, no Congresso, matérias difíceis e com opiniões as mais conflitantes ou contraditórias, como é o caso da reforma da previdência e da reforma fiscal! Alguém argumenta com o fato de que, um novo governo e, em face da da renovação ocorrida na Câmara e no Senado; diante de um parlamento marcado pelos “sentimentos” expressos pelas manifestações de duras cobranças, pela sociedade civil, nas redes sociais; e a cobrança que as corporações militares farão, em termos éticos, ao governo, que conta com uma presença muito forte de oficiais generais, são condicionantes que deverão servir de referencial  e que poderão facilitar o desempenho e a ação do novo Congresso.

Parece que tais ponderações  são pertinentes e oportunas pois que, o êxito do governo dependerá do que conseguirá aprovar no Congresso de matérias institucionais como as reformas desejadas e, do tipo de comportamento que esse renovado Congresso irá adotar. E, o que ocorreu no primeiro dia de funcionamento do Senado Federal, foi um triste e decepcionante espetáculo. Foi uma grande decepção e desencanto por um lado e, por outro, parecia frustrar-se a esperança de que a renovação ali ocorrida permitiria que a seriedade e o compromisso público viesse a se sobrepor aos oportunismos, as espertezas e aos chocantes gestos de desequilíbrio e de insensatez que os brasileiros presenciaram pela Tv. E, diga-se de passagem, nada partiu dos novos senadores mas de velhos, presunçosos e espertos veteranos da Casa que não “se deram ao respeito” e produziram espetáculos vexatórios de toda ordem.

Aliás, ē fundamental que se diga que a atitude do jovem senador David Alcolumbre no comando da sessão preparatória quando mostrou equilíbrio, ponderação, dignidade e compromisso público diante de episódios tristes e deploráveis como, por exemplo, o ridículo que foi a agressividade e a atitude deselegante e deplorável da senadora Katia Abreu. Ao “roubar” a pastas e os documentos da ordem do dia e não devolvê-los ao Presidente da Mesa, protagonizou o mais triste espetáculo que a Casa poderia provocar. Foi arrogante, agressiva, autoritária, deselegante e desrespeitou todos os princípios e valores que a Casa se estabeleceu para que os conflitos de opinião se dessem nos limites de uma saudável educação doméstica.

Talvez, se não fora a inusitada e questionável decisão do Presidente do Supremo, tornando sem efeito uma decisão tomada por mais de cincoenta senadores de que a votação para a escolha do presidente seria em processo de voto aberto, a situação de Renan e Katia Abreu,  até aquele momento, já estaria definitivamente decidida. Ou seja, ambos seriam rejeitados pelos 50 votos, pelo menos! Juntando-se o comportamento agressivo e desrespeitoso de ambos, no confronto com o presidente da sessão, a tendência esperada era aquela que acabou se confirmando quando  eles receberiam “o troco” da truculência e da violência de suas atitudes e gestos.

As coisas só voltaram a normalidade efetiva quando, o decano ou o mais velho dos senadores, como de direito, Senador José Maranhão, assumiu o comando dos trabalhos e, subordinado a um outro clima, a sessão foi retomada, de forma respeitosa, sendo cumpridos os ritos e costumes que a convivência democrática dos parlamentos exige e pratica. Mas, efetivamente, as coisas só puderam ser discutida, com ponderação e equilíbrio, quando Renan Calheiros, colhendo indícios de uma derrota iminente, decidiu desistir da disputa e, com isto, retirando-se do plenário, permitiu que, com os ânimos serenados, as coisas voltassem a ser discutidas.

E, diante das desistências, orquestradas ou não, orientadas a derrotar Renan, fossem se manifestando, crescia a candidatura de Davi Alcolumbre como resposta dos novos senadores de que queriam que se instalasse um novo tempo onde a ética, a decência , o respeito mútuo e o respeito ao eleitorado, se fizesse presente. E, como que, para surpresa de muitos e alegria de uma grande parcela da população, o que era velho e ultrapassado ficou para trás e os novos senadores buscaram estabelecer uma nova ordem capaz de recuperar a credibilidade e o respeito, junto a opinião pública, que o Senado merece.